A entressafra brasileira de trigo, os estoques mundiais em baixa e a alta das cotações no mercado internacional, além da decisão da Argentina de suspender as exportações como forma de combater a inflação, devem tornar ainda mais árdua a luta brasileira para segurar os preços dos alimentos. Em especial, o valor do pão deve ficar mais salgado.

Como reflexo da oferta menor do grão, as padarias gaúchas começaram a receber esta semana remessas de farinha por um custo cerca de 20% superior ao cobrado até a semana passada. Em alguns locais, já se pode sentir o impacto, que, segundo o setor de panificação, está represado há pelo menos três meses. Ou seja, um aumento no preço praticado no mercado é considerado praticamente inevitável.

Assim, o consumidor bento-gonçalvense pode se preparar: até o final do mês, as padarias da cidade devem repassar o custo ao consumidor, que vai pagar até 12% a mais pelo quilo do pão. O valor médio no Estado, que varia de R$ 5 a R$ 8, deve passar a ser de R$ 6 a R$ 9 já no início de agosto. Como a nova safra brasileira só começa a ser colhida na primavera, há pouca perspectiva de reversão desse quadro, acreditam os empresários do setor. E a situação ainda pode ser agravada.

O problema é que o que já é ruim, pode piorar. Uma das alternativas, a importação dos Estados Unidos, também deve sentir efeitos no final de julho de um acréscimo de 10%, sem contar a disparada do dólar nas últimas semanas.

A saída para os moinhos é sempre a ajuda federal. Uma das reivindicações do setor é estender até o final do próximo mês a isenção da Tarifa Externa Comum (TEC), mas os efeitos dessa medida só seriam sentidos em agosto. A situação é agravada ainda porque os estoques públicos brasileiros deixaram de ser alternativa, exatamente por conta da escassez.

O bolso agradece, enquanto os rabiscos de correção nas tabelas de preços das panificadoras ainda não refletem o problema. Resta ao consumidor pesquisar, e torcer para que as panificadoras tentem suavizar o impacto dos reajustes para não assustar os clientes. A esperança é que toda essa alta não seja repassada ao pão francês, porque o trigo, na composição do preço do pão participa apenas com 9%. “Não é somente o custo que onera o peço pago pelo consumidor, mas a cadeia como um todo”, acrescenta.