Enquanto os vinhos convencionais são corrigidos para manter um padrão que responda ao paladar do consumidor, os vinhos de autor se transformam a cada garrafa e rompem com os modelos estabelecidos nos quais a maioria das vinícolas se apoiam. Eles mantém os traços pessoais de quem os elabora. Isso desperta a curiosidade dos apreciadores ávidos e traz à discussão os rumos da vitivinicultura em grande escala.
Geralmente, a experiência e curiosidade dos vinhateiros resulta em vinhos elaborados e singulares. Eles buscam novas formas de vinificar, combinam castas improváveis, utilizam leveduras exóticas ou remontam métodos de vinificação utilizados no passado. No caso dos rótulos dos Vinhos Faccin, de Monte Belo do Sul, uma combinação desses fatores tem como resultado bebidas peculiares.

Vinhos sinceros

Para o vinhateiro Bruno Faccin, de 26 anos, o que pode ser denominado de vinho de autor não é o vinho convencional, mas aqueles rótulos elaborados em pequena escala. Ele cita como exemplo o cinco castas, criado por ele e seu pai, Antônio Faccin, numa combinação das uvas pinot noir, chardonnay, piesling itálico, moscato e peverela. “Nós fazemos experiências e acabamos criando novas combinações”, analisa Bruno.
Na opinião do jovem, a pequena vinícola elabora vinhos sinceros, uma vez que não há adição de química e as parreiras estão em processo de conversão para biodinâmico. Ou seja, a vinificação se dá de forma natural e os vinhedos passam por um processo de transformação para tornarem-se autoimunes a pragas comuns da videira.
Diferente dos vinhos convencionais, os vinhos de autor são uma surpresa. No caso dos rótulos Faccin, naturais, cada garrafa é diferente e traz características próprias, se comporta de forma diferente com o passar do tempo e pode não ser a mesma se comparada ao período quando foi vinificada. “É um vinho vivo, ele evolui”, conta o jovem.
A motivação dos Faccin para produzir vinhos naturais e de autor, de acordo com ele, é entregar um produto de qualidade ao consumidor, um vinho que pode ser bebido tranquilamente. “Assim como nossos antepassados faziam”, avalia Bruno.

A autêntica expressão do terroir

O terroir se expressa ao deixar que a videira se desenvolva livremente e incorpore na uva as características de determinado solo e microambiente. Como não há correção na hora da vinificação e controle sobre a planta, o terroir da região se expressa
de forma bastante característica nos vinhos Faccin. “Nós temos aqui um solo mineral
e isso aparece no vinho”, conta Bruno.
Este também é um dos motivos para a vinificação natural e a elaboração de vinhos autorais serem práticas complementares, uma vez que as características do solo não são inibidas com defensivos agrícolas. “Para quem está acostumado com os vinhos convencionais, é uma experiência diferente”, revela.
Porém, o vinho do autor não precisa necessariamente ser natural, uma vez que há rótulos que não se encaixam na categoria, mas carregam consigo as peculiaridades de quem os elabora. O jovem ainda afirma que a melhor definição de vinho de autor está relacionada a produção em menor escala. “São produtores que não seguem muita teoria e criam vinhos diferentes”, observa.

Clima da região é desafio para produtores de vinho

As adversidades climáticas, como umidade e chuva, e a alta vigorosidade do solo – que contribui de forma demasiada para a maturação da videira – são fatores que dificultam os cuidados com os vinhedos para vinificação na região. Pelo menos essa é a opinião de Bruno Faccin.
Ele brinca que os produtores fazem vinho com teimosia, porque as incertezas enfrentadas todos os anos são muitas. Em contrapartida, o jovem observa que o solo é ideal para a elaboração de bebidas leves, com complexidade. “Todos os anos temos vinhos diferentes”, acrescenta.
Apesar de tudo, a produção é limitada a centenas de garrafas e os produtores não tem objetivo de produzir em grande escala. Parte dela é destinada a lojas especializadas, em São Paulo, e a bebida também é comercializada na vinícola, em Monte Belo do Sul.
A meta de Antônio Faccin é exportar. “Nós estamos fazendo um trabalho de formiguinha, mas vamos chegar além do esperado”, prevê o agricultor. De acordo com ele, o trabalho é sempre pensado no consumidor. “Jamais tinha cogitado elaborar vinhos naturais. É gratificante”, comemora.

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