Depois que os avós se vão, a casa velha fica vazia. Eu mesma moro ao lado da casa que foi da minha avó. O tempo cessou o cheiro da comida fresquinha, o fogão à lenha perdeu a fumaça, as janelas se fecham em um dia e, sem saber, esse é o último. Não tem mais cheiro, nem vida, nem casa cheia de gente, nem bolinho de chuva, nem janela aberta, nem cera no chão, nem nada. E quando chega perto do Natal dói ainda mais. Dói porque era pra ser a família reunida ao redor da mesa comendo o peru e, de sobremesa, o pudim ou o chico balanceado, com os parentes contando causos, rindo alto e vendo as luzes, vestidos bonitos com roupa de ir pra missa.

O Natal, que infelizmente já não é o mesmo da minha infância, virou comercialização de presentes e só. Quase ninguém jovem vai mais pra missa ou pouquíssimos vão. Poucos também rezam. Quem se atreve a cozer o galo em casa e torrar o forno no calor do verão? Só as avós mesmo. As crianças de hoje geralmente não sabem a simbologia do que se está comemorando. O Papai Noel virou careta a elas. Poucos trocam presentes. Luzinhas nas casas? Quase não há!

E Jesus fica de escanteio. E a reunião familiar acaba com o celular na mesa. Virou tédio não ir pra praia. Virou tédio porque falta alguém pra retomar o espírito natalino. Falta a casa cheia, os antecessores, quem ensinava o valor e não o preço das coisas.

Tudo bem que sabemos que é assim o ciclo da vida acontecendo, mas as famílias estão cada vez menores e as mulheres, que trabalham todos os dias do ano, nesta Ceia querem folga. E nas férias da escola, quase todos viajam. E a rua fica vazia. E eu olho pra casa da vó e as janelas não abrem mais. Não vai ter cheirinho de peru. Ela não vai sair usando o avental. O tio não comprou foguetes. E as crianças não estão mais correndo do lado de fora, estão todas em suas telas, concentradas em tudo, menos no Natal.
E a ceia já foi melhor quando não éramos órfãos, quando todas as pessoas da família estavam presentes na mesa.

Entretanto, o pinheiro ganhou mais espaço que o presépio e as luzes se apagam nas ruas, ninguém mais está no espírito. E os presentes viraram caros. E o Natal virou esse monte de coisa, menos a celebração do que é pra ser. Menos a família reunida. Menos reflexão na janta. Menos gente na mesa.

Os tempos modernos dão lugar à saudade, principalmente quando chega o Natal. Ele já foi melhor. Agora, a meia-noite, só vai a mensagem pelo Whats App, dizendo “Feliz Natal”, que nem foi escrita por nós, apenas encaminhada conforme se vai recebendo. E acabou a festa. Vamos beber bebida cara e dormir, depois de postar bastante na solidão de cada smartphone. E viva o Natal, vamos ostentar menos e amar mais! Que o menino Jesus aqueça os nossos lares. Que se retome o espírito natalino. A vó, com certeza, vai se orgulhar de ver. Ano que vem tem mais!