Esse clássico da Literatura Infantil, escrito na década de cinqüenta, continua na mesma órbita do mundo atual. Um e outro detalhe poderiam ser repensados, como os cachos louros do personagem principal e seus olhos azuis, que o velho modelo de anjo já era. No mais, a história cai que nem uma luva na sociedade contemporânea.
Trata-se de um menino que nasce em meio à riqueza, numa família que é dona da maior fábrica de canhões do mundo. Mora na “Casa-que-Brilha” (uma indicação à opulência) e tem empregados que o amam. Com oito anos, o garoto vai à escola, mas logo é expulso por dormir durante as aulas. Com isso, os pais decidem pela educação em casa, com a participação de todos, inclusive das pessoas mais humildes. E o garoto começa a ter aulas, primeiramente com o jardineiro, quando então descobre que seu polegar é mágico: tudo o que ele toca vira flor. Nas aulas seguintes, entra em contato com a violência urbana e, na sequência, conhece o presídio. Depois de encher a cadeia de verde – com um lugar tão aprazível, os bandidos nem pensam mais em fugir – o menino visita a fábrica dos pais. Indignado com o tipo de negócio da família, ele trata logo de transformar as balas de canhão em flores. Sem munição, acabam-se as guerras, e a cidade muda de nome. Mirapólvora passa a chamar-se Miraflores. A história continua com a morte do amigo jardineiro e com a construção de uma escada de flores e ervas rumo ao céu: o menino quer trazer o professor de volta. No final, a revelação: ele é um anjo…
Coisa de ficção… mas não é preciso ser anjo para amar a natureza. Ela é nossa essência. É tão íntima a relação entre todos os organismos vivos, que nós próprios somos um ecossistema ambulante. Nosso corpo, que – vejam a “coincidência” – é composto pelo mesmo porcentual de água que há no Planeta Terra e o mesmo grau de salinização do sangue que há nos mares, também é feito de oxigênio. E o código genético de todos os seres vivos, das bactérias ao ser humano é o mesmo, mudando apenas a combinação dos elementos. Enfim, não há como se fugir da própria natureza.
Mesmo assim a gente se surpreende quando vê crianças da geração digital plugada às maravilhas do mundo real. São fascinantes as imagens dos pequeninos deslumbrados com os tapetes lilases e amarelos dos ipês, paineiras e jacarandás que povoam a cidade. Mais fascinante ainda é quando escolhem florezinhas de mato cuja beleza só é percebida por quem tem sensibilidade de anjo…