Na ficção, um bancário tímido e desajeitado encontra uma máscara flutuando no mar e, ao colocá-la na face, descobre que o espírito do deus escandinavo Loki se manifesta. Então o cara fica muito “loko”, ousado, charmoso e com superpoderes. No decorrer da trama, um gângster tenta se apoderar dela com o objetivo de usá-la para o mal.

Já a máscara exigida hoje em virtude da pandemia não nos confere superpoderes, mas pode evitar que o mal se propague. Ou seja, ambas precisam ser usadas de forma correta para que a coisa funcione para o bem.

Nas vezes em que fui a mercados, sempre de acordo com os protocolos – que não sou maluca pra ser carregada pelo “caminhão cata véio” – presenciei cenas que, em outros tempos, seriam muito engraçadas. Teve uma vez em que um fulano de uns trinta e alguns, acompanhado de sua mulher, espirrou e depois rapidamente subiu a máscara que enfeitava o pescoço. Ele estava no corredor de alimentos fechados. O mesmo fato se repetiu em outro estabelecimento, no corredor das frutas, com um cara mais velho, mas tão irresponsável quanto.

Pesquisando sobre o espirro, descobri que, no momento dessa reação involuntária, a gente inala dois litros de ar e depois os lança a uma velocidade equivalente a 160 km/h, junto a vários elementos como saliva, secreção nasal e partículas intrusas, onde podem estar navegando os bichinhos da Covid19.  É o equivalente a um furacão da categoria dois, carregado de possível malignidade.

Mas vi outros “fenômenos” aparentemente inocentes acontecerem nos mercados, como gente tentando abrir os saquinhos de plásticos hermeticamente fechados e, na dificuldade de descolá-los, enfiar o dedo por baixo da máscara, dar uma cuspidinha nele e seguir no processo. O problema é que não apenas esse indivíduo está correndo riscos, mas também os que tocam as superfícies tocadas pela mão boba.

E há alguns “nasufóbicos”, que não conseguem deixar as fossas nasais tapadas. Já eu estou pensando em comprar uma lupa, já que usar máscara e óculos é como dirigir com os vidros do carro embaçados.

Então, qual a relação do Máscara com a máscara? Em ambos os casos, a essência do usuário é o que conta. No filme, ele é um cara do bem, por isso usa os superpoderes com bom-humor para combater o crime. Mas se a máscara cair nas mãos do malvado, ela vai mudar de finalidade. Na vida real atual, é a mesma coisa. Usada com responsabilidade e eficiência, ela é um artefato para impedir a proliferação do vírus, mudando de figura se carregada displicentemente.