Uma vez que o amor é um vínculo e que a característica mais marcante deste está na resistência às separações, é possível supor que a intolerância ao rompimento é considerada uma experiência de luto. Tratando deste contexto, é importante ponderar que embora o sentimento de amor seja vislumbrado como consequência da formação de uma relação de apego, um relacionamento bem sucedido pode ser aquele no qual a separação ou o afastamento são passíveis deser toleráveis, em razão da existência da confiança de que o outro retornará quando necessário. Na separação amorosa, as emoções emergem da ruptura da estabilidade, da desconstrução dos planos, da fragmentação da dupla para a individuação. Por tais razões, é preciso considerar a dor provinda de uma série de mudanças.

A experiência do rompimento de uma relação de amor é, de fato, intensa e dolorosa. Abrange questões que seguem desde a concretude dos significados como, por exemplo, tirar uma aliança ou as fotos dos portarretratos espalhados pela casa, como também parte para a representatividade do elo antes formado que, no momento da separação, fica fragmentado devido ao “aborto” de uma espécie de cordão que formava o ideal, o par – aquilo que significava conjunto.

As desilusões amorosas geram aflição, causam dor, angústia e sofrimento, em razão de estarem relacionadas às perdas reais e simbólicas de tudo o que antes era e não mais é – ou passa a ser de uma forma diferente. O luto devido à separação de duas pessoas que se uniram pelo amor emerge em virtude da necessidade de reconhecer a perda de um objetoque, até então, poderia representar segurança e estabilidade. Logo, o pesar provindo pelo rompimento constitui uma experiência de luto pelo vínculo formado – este que permite que se possa estabelecer relações afetivas próximas e íntimas com os pares – e modificado pela opção da individualidade.

Diante das desconstruções e mudanças que as perdas impõem, é fundamental buscar auxílio, seja de uma rede de apoio composta por familiares, amigos ou demais pessoas próximas, bem como ajuda profissional. Utilizar-se dos recursos disponíveis promove meios para reflexão e também para a reconstrução da vida de uma forma diferente ao longo de um tempo que é individual. É preciso, sobretudo, trabalhar com as emoções que surgem devido à separação, levando em conta o que a relação representava/representa, os vínculos estendidos, a construção de estratégias seguras e estáveis diante de uma crise e a reconstrução da vida partindo de uma nova perspectiva de ampliar-se para o reinvestimento em si e no outro, não desconsiderando as lembranças do passado, que um dia foram ou continuam sendo importantes.

Fonte: Franciele Sassi