Também conhecido como Spits Alemão Miniatura, o Lulu, que não é santo(s), mede em torno de vinte a vinte e sete centímetros e, com quatro quilos, já entra na categoria dos obesos. O cãozinho é muito inteligente, educado, carinhoso, fiel, alegre, esperto, independente, está sempre alerta e pode ser ótimo cão de companhia, mas reage a eventuais abusos latindo “o respeito é bom e eu gosto”. Outro detalhe interessante: o baixinho sofre da “Síndrome do Terrier”, ou seja, julga-se maior do que é. Não existe comprovação científica, mas acredita-se que ele deva carregar, na memória genética, a imagem original de sua raça, que era de cachorro grande. Assim, quando passa por cães maiores, adora provocá-los, rosnando e chamando-os para a briga e, obviamente, levando a pior.
Também conhecido como bípede macho do gênero Homo, o homem, que nem sempre é sapiens, pode ser educado, gentil, amoroso, bom pai, bom filho, bom amigo, bom cidadão, responsável, trabalhador, etecétera e tal, mas, no trânsito, se transforma. É a metáfora do médico e o monstro – Dr. Jekyll bebe a fórmula que libera seu lado demoníaco e vira Mr. Hyde. Ou, neste contexto, nosso cavalheiro vira cavalo: dispara, relincha, sacode as crinas e larga as patas em quem ousar desafiá-lo.
Mas, por que razão o indivíduo da paz provoca guerra quando motorizado? Há duas teorias. Uma, da Psicologia (eu acho), que diz ser o veículo o prolongamento da sua virilidade, ou seja, no domínio da máquina, ele ostenta a sua macheza, não tolerando qualquer distração ou falha de outro motorista, partindo logo para o xingamento e/ou luta corporal.
A segunda, para a qual reivindico a autoria, tem semelhança com o cachorro aí de cima. Explico: Lá nos primórdios, o homem era muito mais forte que hoje e, através da força física, sobrevivia aos perigos. Usava os músculos para tudo, inclusive para conquistar a que seria sua mulher,
abatendo-a com uma cacetada na cabeça e puxando-a pelos cabelos até a batcaverna. Com o passar dos milênios, o homem foi ficando civilizado. Hoje ele é sociável, aberto a dialogar sobre relacionamentos, tem vínculos afetivos…, mas a lembrança do seu passado longínquo permanece em algum lacinho do seu DNA. Assim, quando ele está ao volante, o ego infla mais que os air-bags, e sua agressividade latente explode à menor intenção do inimigo em disputar “seu território”. Então ele rosna e chama para a briga, como o Lulu da Pomerânia. O resultado é muitas vezes trágico.
Já a mulher… Bom, por enquanto nos mantemos num patamar bem tranqüilo, com reações moderadas. Embora tenhamos ensaiado alguns gestos obscenos em algumas situações críticas, nunca erguemos o dedo além da linha da invisibilidade. E só o fazemos para nos vingar do tempo em que simplesmente nos caçavam, sem elogiar, conversar, enrolar, pagar jantares, levar ao shopping, carregar as compras… O DNA não esquece!