Participei na semana passada da audiência pública sobre o lixo, na Câmara de Vereadores. Confesso que em alguns momentos fiquei irritado diante de algumas realidades. Vão aí algumas observações sobre o recolhimento do lixo reciclável: 1) dá-se como verdadeira a premissa de que 2% do lixo é subtraído por caminhões que vêm de fora e parece que isto explicaria a falta de matéria-prima para o trabalho dos recicladores. Mas não é só por aí ; 2) falta lixo para todas as recicladoras e três novas foram criadas. Um erro estratégico; 3) A empresa que recolhe o lixo está numa posição cômoda, recolhe tudo o que estiver nas lixeiras, lixo orgânico e inorgânico e isto é aceito passivamente porque “a cidade tem que estar limpa”.

Sigo com as observações/questionamentos: 4) Alguém já viu o contrário, caminhão que recolhe o lixo limpo recolher também o lixo orgânico? Não né? Então se erra apenas para um lado; 5) Certo, é preciso educar as pessoas para colocarem o lixo inorgânico nas lixeiras apenas no dia certo; 6) Não seria plausível educar os funcionários que recolhem o lixo orgânico a não recolherem o lixo reciclável; 7) é preciso tratar com respeito e humanidade os recicladores, mas não se deve dar a eles poder de decidirem não querer ir para um pavilhão único se isto for mais eficiente e econômico à municipalidade. Camelôs também não aceitam ir para camelódromos, mas quando não há mais o que fazer é lá que são instalados para o bem da coletividade.

Um conhecido teve algum tempo atrás aquele despertar para uma realidade que até então parecia fazer parte só da vida dos outros. Relatou que certa noite caiu com o carro numa destas panelas de uma estrada aqui da região – só a inoperância do Estado para produzir tantas panelas quanto a Tramontina. Quando pensou em parar e trocar o pneu ali mesmo, à beira da estrada, se deu conta de estar com a esposa e que ambos poderiam ser vítimas de assalto. Ou pior, de todo o tipo de ultraje a que bandidos nos expõem pela força da arma, à qual só os fora da lei parecem ter acesso. Logo, foi com o pneu furado para um lugar seguro e só lá executou a tarefa de colocar o estepe pra rodar. Deu-se conta então: furar o pneu, quebrar a roda, ter um prejuízo de R$ 1 mil não o incomodaram. Mas a sensação de não poder trocar um pneu com segurança, isto o tirou do sério e fez ver a vida sob outro prisma, o da impotência. Triste realidade.

Maioridade penal é um dos temas preferenciais do momento. Confesso que sempre me coloquei mais ao lado progressista nestas questões, o que me impeliria a ser contrário à redução da maioridade. Diante da realidade, dos casos de menores usando facas pra assaltar, violentar e matar e ficarem praticamente impunes, fico tentado a pular para o lado da maioria. 87% da população quer menores bandidos na cadeia (que, aliás, não existe). A grande questão é que se estará condenado eles a presídios imundos e superlotados e mais do que isto: definindo o seu futuro para sempre, já que cadeia no Brasil não reabilita. Em vez de entrarem numa faculdade vão se graduar como bandidos mesmo. A proposta de aumentar a internação dos menores no Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) me parece sensata e poderia agradar aos dois lados. Estando no Case, ficariam fora do convívio social e longe de bandidos graduados.