Continuar investindo no setor. Isto é o que espera Guilherme Mejolaro, 24, morador de Linha Eulália, interior de Bento Gonçalves. Desde adolescente ele trabalha na atividade com o pai Luiz e o irmão Rafael. Juntos, os três dividem as tarefas e se responsabilizam pela produção, tomada de decisões e organização dos trabalhos. Mejolaro busca no campo construir seu futuro. “Desde criança peguei gosto pelo trabalho na terra. Mas foi em 2009, quando estava estudando no Instituto Federal do Rio Grande do Sul, que meu pai resolveu ampliar a produção nos aviários e parreirais. Foi aí que ele me chamou de volta para casa, pois o trabalho iria aumentar e precisava dos filhos para tocar em frente o empreendimento”, lembra.

O jovem acabou trancando os estudos para se dedicar ao trabalho. “Hoje, o meu futuro é no campo” afirma. Atualmente, a família cultiva parreirais em 15 hectares, além da produção de 50 mil frangos. Para Mejolaro, o sucesso no empreendimento rural se deve ao planejamento antecipado. “Adquirimos mais áreas em Bento e em outros municípios para a produção vinícola, construímos mais aviários para aumentar a produção e arrendamos algumas terras. Todos os anos estipulamos metas, com enfoque em produzir mais e, consequentemente, obter retorno financeiro”, enfatiza.

Questionado sobre a situação de êxodo nas propriedades rurais, o jovem se diz preocupado. Para ele, faltam alternativas de incentivo à permanência no campo. Mejolaro cobra maior esforço das entidades, sindicatos, Poder Público e cooperativas que, segundo ele, são essenciais para a manutenção das atividades. “Há falta de incentivo da família para permanecer. Não temos um plano agrícola forte. Hoje, o sindicato é mais político do que uma ferramenta de luta para o associado”, pontua.

O jovem empreendedor rural acredita que se houver a possibilidade de investimentos na propriedade da família “que não pensem duas vezes, principalmente, aqui na região, no cultivo de uvas. É complicado manter a estrutura, mas vale a pena. Sendo cooperado ou não, eu acredito que o futuro é a agricultura”, finaliza.

Incentivo para permanecer no campo

Conforme a técnica social do escritório da Emater/RS-Ascar em Bento Gonçalves, Maria de Lourdes Gasparin Pancotte, atualmente existem políticas públicas e programas municipais, estaduais e federais que a entidade participa como uma das executoras e que, segundo ela, servem de incentivo o para os jovens empreenderem e permanecerem no meio rural.

Em relação ao êxodo nas comunidades, a técnica acredita que diversos fatores são responsáveis pela situação, entre eles, a penosidade da atividade rural, impossibilidade de mecanizar as áreas de produção, condições climáticas adversas, dificuldades de participação dos jovens na gestão da unidade familiar de produção, muitas vezes sem remuneração pelo seu trabalho. A falta de autonomia e infraestrutura como telefone, internet e energia trifásica, contribuem para a saída dos jovens do meio rural, especialmente das mulheres. “A busca por mais comodidade e acesso a serviços também é estimulada pela própria família, por querer que seus filhos tenham uma vida melhor. Esses processos migratórios contribuem para a falta de sucessão e com o consequente envelhecimento e masculinização da população rural”, afirma.