Ser uma pessoa introvertida, diferente,
pensativa, é um grande fardo
A solidão sempre me acha
Por mais que eu tente – e talvez não tente tanto assim, ela é como um amigo tóxico…vive me cercando
cheia de propostas indecentes e não me deixa sair
muito da trilha
Já aceitei que ela faz parte de mim
Mas vez ou outra me pergunto o porquê
Apesar de saber dos meus karmas e
obstáculos de evolução
Dói
Dói cada vez que eu preciso crescer
Uma visão bem humilde, pouco materialista
De alguém expert em empatia
Ah, a empatia
Ela é tão necessária, tão pouco usada e,
por vezes, tão ineficiente…
Agora eu só queria estar em uma bancada iluminada
perto da cozinha, em uma banqueta desconfortável
voltada para a TV
Por mais que ela estivesse desligada, teria ali perto
da sacada, um dispositivo que respondesse às
minhas palavras que já estariam saindo enroladas
pelo álcool
E ali, entre algumas filosofias baratas e algumas
histórias, entre uma ida até a sacada para dar uma
tragada, eu estaria saindo da minha quarentena
Que acabaria me fazendo encontrar com o segundo
habitante da minha casa, aquele que vive no térreo.
Não posso me atrever a cantar um sambinha
enquanto limpo a casa que, do andar superior, o
irascível senhor bate no chão com seu cetro, exigindo
silêncio. Enquanto o troglodita que vive no porão fica
cego, surdo e mudo, tornando-se ninguém.
Um encontro que traz um silêncio muito sombrio
Entre o inconsciente, o consciente e a realidade
As pulsões, elas estão temporariamente esquecidas
E então, por alguns momentos sufocantes
Eu não saberia mais quem sou
E o que estou fazendo aqui
Depois de tantos sinais, uma das minhas tantas
personalidades aparecem
E eu dou graças por ser a primogênita