“Taliáni, tuti bona dgente, má tuti ládri!” (Italianos, todos boa gente, mas todos ladrões).

A fama de “espertinhos”  atribuída aos nossos tem muito a ver com o calvário dos imigrantes numa terra ainda selvagem – regada a sangue, suor e lágrimas – e com o exercício diário de sobrevivência. Inegável mesmo é que eles abriram a facão muitos cartões postais brasileiros e, graças aos seus hábitos, inclusive de barganhar, construíram o progresso. De qualquer forma, a frase me reporta a uma história acontecida na última década do século XIX, na atual Faria Lemos, onde hoje um corredor de nogueiras abre alas aos visitantes…

A família, meio que expulsa da pátria mãe, lutava bravamente para ter comida na mesa. Afinal, se haviam cruzado “il mare”, não poderiam agora morrer na praia. A vida, embora miserável, precisava seguir com todos na batalha… Aliás, foi assim que venceram, mas essa é outra história.  

Antes do amanhecer, o morador mais jovem pulava da cama e corria para os fundos do quintal, ansioso para ver o pontinho verde que deveria eclodir da terra a qualquer momento.

-“Crêdo que mánca merda de vaca…” (Acho que falta adubo orgânico), concluía o rapaz, desapontado, indo para a roça.

Às nove e meia, ao retornar para a “colacion” – um café bem frugal, composto de polenta e “tótcho” – mais uma vez verificava se havia um sinalzinho da futura árvore…

Esse ritual diário era acompanhado pelo olhar arguto da irmã, lá da cozinha. Ela subestimara a perseverança do “povereto” (pobrezinho), que demonstrava ser mais teimoso que uma mula.

Um dia, já cheia daquilo tudo, a mulher resolveu acabar com o imbróglio. Chegou perto do mano, agachou-se e travou o seguinte diálogo:

-Tchó, imbambio, non gué nhente sôto li. (Escuta, seu tolo, não tem nada aí embaixo).

-Ma gó piantá una nôze… (Mas eu plantei uma noz…)

-Vá, vá, vá, mi la gó manhá! (Deixa disso! Eu a comi.)

O rapazinho empalideceu. Depois, vermelho de raiva, explodiu:

-Pórca putana duna ladrona! (Xingamento em talian).

-Chi sparagna, el gato magna (Quem economiza, o gato come) – respondeu ela, sem outras e explicações.

Menos de nove meses depois, nascia seu primeiro sobrinho. Só então o rapaz compreendeu a razão da gula da irmã: fora um desejo de grávida, que poderia ter consequências, caso não fosse satisfeito. Mas, segundo ele, uma frutinha só não ajudou muito…

“Il bambim ghá una faccia de nôze…” (O bebê tem uma cara de noz…).