Grande, forte e cheio de habilidades físicas, o herói de ação é aquele personagem que resolve todos os problemas literalmente lutando, explodindo e matando. Normalmente, no início do longa, ele está passando por um momento de balanço e confinamento em sua vida, onde vive a se punir por erros cometidos no passado, como matar alguém por engano, dirigir bêbado e matar a própria família e ser o único sobrevivente, não conseguir ter salvo o parceiro de guerra, sofrer a morte prematura da esposa – extremamente linda, carinhosa e gentil – pela máfia – com a qual se envolveu por engano (…).
Treina com afinco, assiste a todos os noticiários, vive em isolamento social, foge como o diabo da cruz de qualquer tipo de relacionamento com outra pessoa, e assim por diante.
Na vida real, geralmente, as pessoas não fizeram coisas tão terríveis assim. Às vezes só pegaram a estrada errada ou ainda, sofrem uma culpa que não lhes cabe, porque outra pessoa a fez se sentir assim.
Pessoas com históricos complicados tendem a se punir.
A pessoa tende a se esconder, ser menos sociável, não se cuidar. Quando tenta ser, não é aquela a sua realidade, mas ela adoraria que fosse e vive um mini conto de fadas, até que sente falta dos seus vícios. Chega em casa, derruba sua armadura e se deleita com sua própria versão. Uma versão que venenosamente é mais gostosa, temporariamente mais prazerosa e verdadeiramente mais letal.
Ela se pune não deixando muita gente entrar na sua vida, ou afugentando antes de ser largada, fumando e bebendo, fazendo exercícios em demasia, jogando sua raiva em um saco de pancadas, estudando e trabalhando mais do que seu corpo saudável permitiria. Dizendo sempre que está tudo bem. Porque se falar que não, não haverá tempo para uma conversa casual, e tampouco, terá alguém para ouvir do jeito que ela merece. Pouca gente realmente quer saber como a gente está, e ela sabe disso. Por isso, prefere dizer que “sim, tudo bem e contigo?”.
Essa pessoa é bonita. Não se cuida como gostaria, mas é.
Ela é muito forte, demonstra sempre que precisa e não cobra nada em troca. Dificilmente pede ajuda, e quando pede, é para outra pessoa.
Ela acha que está sozinha no mundo. E às vezes está mesmo. Ninguém quer se aprofundar nesse mar duvidoso, perigoso e tão divertido ao mesmo tempo. Ninguém mais aparece na sua porta de surpresa. Ninguém mais lhe manda flores, ou uma mensagem pedindo como foi o seu dia. Cada um com seus problemas. Aquela história de ‘ninguém solta a mão de ninguém’, acabou no momento que a pandemia tocou no seu bolso. DANE-SE, preciso salvar o meu negócio. Como se alguém tivesse um Taurus 38 apontado na sua cabeça, dizendo para você escolher entre duas coisas totalmente diferentes e possíveis de se fazer simultaneamente.
Pessoas com histórias dolorosas deveriam ter o final feliz de um filme de ação. Recebendo os méritos pelos seus feitos e ficando com aquela pessoa que tanto queria. Só podia deixar pra lá a parte da regata branca suja e rasgada, as marcas de graxa na cara e os cortes sendo suturados na ambulância.
A vida real é um pouco diferente. Muita gente forte, machucada e linda, ninguém vai conhecer. Alguns até ganham fama após a morte.
Uma pessoa forte nega qualquer sinal de depressão ou tristeza. Diz ela que faz parte da vida, que vai passar e ninguém se esforça em duvidar.