Se a ciência está longe de decifrar todos os mistérios da mente humana, imaginem os da mente animal. Ou será que bichos não pensam? Sobre isso, o biólogo e escritor inglês Rupert Sheldrake diz que alguns deles são capazes de até captar sentimentos. Os cães, por exemplo, têm sexto sentido e aptidão para ler a mente dos seus donos. Conforme o biólogo, essa capacidade é decorrente de uma consciência primitiva, que nós, civilizados, perdemos ao longo dos tempos.
Eu não tenho dúvidas sobre a inteligência dos cachorros. A branquinha, aqui, de casa, além de poliglota (late em várias línguas), reage às minhas intenções embora eu não as verbalize. Por exemplo: se um desejo irresistível me empurra pra cozinha, ela já sai na frente. E não adianta eu querer enganá-la jogando algum petisco para longe – ela não arreda pata da área da geladeira, onde reside o naco maior.
Mas a história de hoje, que é real embora tenha acontecido na Ilha da Fantasia (Brasília), deu-se com um cachorro japonês da raça akita, que foi batizado de Yoko por causa do seu temperamento possessivo. Explico: O dono, um grande fã dos Beatles que nunca se conformou com a dissolução do grupo, atribui à mulher de John Lenon a responsabilidade pelo final da Banda.
– Yoko Ono andava sempre grudada no cara feito sanguessuga… Era ela quem dava as cartas. Esse aí é igual (dizia apontando para o akita branco). Se eu bobear, ele põe a coleira em mim.
Yoko, o cão, tinha um apego explícito pelo dono. Acompanhava-o por todo aquele planalto vip e, nas andanças, seu pelo ficava impregnado de terra vermelha, especialmente nas patas. Mas houve um tempo em que o malandro andou pulando a cerca. Geralmente no final do dia, o akita sumia e retornava uma hora depois, balançando a cauda grossa e forte. Um detalhe: com as patas brancas. Lembrava um hábito ancestral dos nossos italianos que, ao voltarem da roça, arregaçavam as calças, enchiam a “mastela” com água do poço e lavavam os pés.
– Yoko está aprontando… (comentava o dono, com a pulga atrás da orelha). O mais estranho é que ele uiva antes de desaparecer, como se precisasse de alguma coisa…
Era verdade. Cães dessa raça não latem muito e uivam quando precisam de algo. Mas de que ele necessitava? Onde ia preencher suas carências? Paixões caninas? E o que isso teria a ver com a lavagem das patas?
Mas eis que, num belo dia, Yoko voltou do “passeio” com focinho de poucos amigos. Foi então que o dono associou o seu mau-humor com o sumiço de todos os peixes ornamentais da lagoinha na ala leste da chácara.
– Nisso ele se parece comigo… Adoro sushi! (disse o cara em contato telefônico com a família daqui da serra, relevando o feito do pupilo).