Recentemente reli um artigo publicado na Veja, em sua edição número 1977, sob o título “E como fica o resto da família?” Trata-se de um texto que analisa todo um contexto envolvendo os cuidados dos familiares com pacientes com doenças crônicas degenerativas. Achei muito válido reproduzir uma parte desa matéria.

Fala-se muito no drama enfrentado por pacientes com doenças típicas da velhice. A mais emblemática e terrível delas, o Alzheimer, destrói a capacidade de pensar, de se comunicar e de compreender a realidade. O doente se torna dependente, distante do mundo e de si mesmo. Não bastasse, há outro lado cruel da doença ainda pouco discutido. É vivido pelo parente em geral, filha ou esposa designado para cuidar do pai, da mãe ou do cônjuge doente. Trata-se de uma situação dificílima, não só pelas razões práticas como pelas emocionais. Essas pessoas, em um ato de estóica devoção, costumam abdicar parte de sua vida, de seus sonhos e projetos para cuidar de um paciente que só tende a piorar. Estudos mostram que a maioria delas costuma sofrer da chamada “síndrome do cuidador”. Os sintomas mais comuns são depressão e stress em alto grau. Nos casos mais extremos, a ideia de suicídio se torna uma constante. “Enquanto os pacientes, muitas vezes, nem se dão conta de sua doença, os ‘cuidadores’ se sentem cansados e deprimidos na maior parte do tempo.

Estudos apontam que, até 2050, o número de idosos deve triplicar em todo o mundo, chegando a 2 bilhões de pessoas. Ainda que não sofram de um mal degenerativo, o processo natural de envelhecimento confusões de memória, alterações sutis de comportamento e dificuldades motoras e de expressão vai limitar sua existência.

A falta de orientação adequada, segundo os especialistas, é o maior problema para quem cuida de um doente. Lidar com ataques de agressividade, mudanças de personalidade e o apagar total da memória é uma situação assustadora sobre a qual muito pouco se fala. “A pessoa que cuida não tem ideia do que fazer. Não sabe se corrige o doente que diz absurdos, o que faz diante da negativa expressa de tomar banho ou da chocante cena de ver seu pai se comportar como um bebê”. A maioria dos médicos afirma ser usual entre os responsáveis pelos doentes abandonar a própria rotina. A questão dos conflitos com irmãos é uma das mais desgastantes, seja por discordâncias sobre a maneira de tratar o doente, seja pela divisão das despesas. Quem fica com o ônus da vigília reclama que os outros não cooperam, não reconhecem seus esforços e criticam na maior parte do tempo. E os que estão de fora em geral argumentam que o outro faz papel de vítima, adora propalar o próprio drama e costuma recusar ajuda.

É consenso entre os especialistas que, quem toma conta de um doente precisa de sólido suporte emocional. Um alto índice de stress pode refletir de maneira negativa no doente. Agressões físicas são comuns.
Não é aceitável se isolar. É preciso estar bem para dar o melhor de si ao outro. Não abandonar os amigos, tentar se divertir e, sobretudo, dormir. Como? Este é o momento em que será preciso conversar com um psiquiatra ou um geriatra. Acima de tudo, deve-se ter coragem de pedir ajuda.

Texto: Ivan Seibel
Fonte: Folha do Mate