Nos últimos dias, cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Goiânia e Maceió têm sido palco de manifestações contra o aumento no preço das passagens do transporte coletivo. Após três dias de protestos, convocados pelo Movimento Passe Livre (MPL) e marcados por condenáveis e lamentáveis vandalismos, estava claro que o clima em muitas cidades, em especial em São Paulo, era de enorme tensão. Mesmo assim, não faltaram palavras e atos para incitar a violência e desprezar a moderação. A prisão de estudantes e outros manifestantes e a repressão policial são uma resposta amarga do Estado a um direito legítimo da população: exercer sua liberdade de expressão e protestar contra o que não estão de acordo. Claro, de forma pacífica, sem provocar destruição patrimonial de quem quer que seja.

A onda de protestos tem em sua base o repúdio ao preço do transporte coletivo nas cidades brasileiras e, em alguns casos, surtiram o efeito desejado de rebaixar os preços ou ao menos mantê-los inalterados ou reduzir os percentuais de aumento. Por outro lado, o governo federal anuncia novas desonerações para beneficiar o setor, o que deverá fazer com que, pelo menos, as passagens não subam em ritmos maiores que o aumento das inflação, por exemplo. Em Bento, as empresas que realizam o serviço já estudam uma nova planilha para solicitar reajuste ao final do ano, e admitem rever para baixo os índices por conta do anúncio federal.

Tudo estaria bem, e dentro da normalidade democrática, não fossem algumas anomalias como a brutalidade da repressão policial e as prisões arbitrárias por formação de quadrilha, um crime considerado inafiançável no país, em meio a protestos públicos. Manifestantes não podem ser presos por essa acusação, sob pena de transformar a reivindicação em um cenário de ditadura contra a luta social, e instituir a arma que faltava para criminalizar os movimentos sociais que vem sendo arquitetada há tanto tempo pelas forças conservadoras do país. Para eles, os manifestantes não estavam ali para defender interesses públicos, mas sim para gerar um clima de confusão.

É certo que a destruição promovida por manifestantes não deve ser tolerada, mas é preciso separar joio e trigo e defender a capacidade de mobilização dos movimentos sociais. A polícia brasileira sempre foi violenta com as mobilizações populares, mas também sempre esses mesmos movimentos seguiam demonstrando suas bandeiras mesmo à revelia da repressão policial. O problema agora é outro: é preciso garantir o direito ao protesto. Para o movimento social, discutir os exageros é necessário, mas há uma questão que avança como fundamental: é hora de defender os direitos, porque os indícios que deixam antever a repressão que está em curso são mais perigosos do que podem parecer à primeira vista.