Salém, Nova Jersey, 1820.

Uma multidão aglomerava-se em frente ao Palácio de Justiça para assistir ao episódio que culminaria na absolvição do assassino mais temido da época. Diziam que ele andava nos caldeirões das bruxas de Salém, embora elas já tivessem sido inocentadas séculos antes, e o pânico entre a população refém do imaginário estendia-se de norte a sul. Todo mundo olhava para o “capo” da “terrible famíglia Pomodoro”, exibido nos salões de festas, com um sentimento de temor respeitoso. E, obviamente, ninguém era louco de tocar nele, já que a reação do ruivo que pertencia à máfia dos Vegetais seria fatal.   

Mas, no meio desse povo acovardado, havia um coronel valente chamado Robert Gibbon Johnson, que resolveu desafiar Thánatos, o deus da morte, em dia e hora marcada. Assim, a plateia poderia ver com seus próprios olhos a cena divulgada aos quatro ventos como suicídio.

Então, a hora fatídica e ao mesmo tempo esperada com ansiedade pelas pessoas sedentas de emoções, chegou. O evento lembrava as lutas medievais no Coliseu Romano. 

Robert, no alto de suas convicções, ergueu a mão contendo a arma letal para o público melhor saborear o momento. Era o vermelhinho, barrigudinho, rechonchudo e lustroso feito um… feito ele próprio: um tomate. Aliás, para convencer aquela gente cismada, ele levou uma cesta cheia dessa hortaliça… ou fruto – como quer a botânica. E começou a comer lenta e prazerosamente.

Murmúrios na plateia, entre horrorizada e fascinada: “ahhh…” “ohhh…”, “My God!”, “He’s crazy…”. Mas, qual o quê! O homem continuava de pé devorando tomates. E alguns até se juntaram a ele para sentir o gosto do medo, que acabou finalmente digerido.

Naquele ato público, o coronel provou que tomates não eram as tais “maçãs do amor” – sinônimo de envenenadas – que só serviam como ornamentos, mas frutos que podiam ser consumidos crus ou cozidos, desde que não servidos em pratos de estanho. A reação do chumbo com a acidez do tomate é fatal.

Depois disso, o tomate, assim como seu parente, a batata, se espalhou pelo velho e novo mundo, conquistando os paladares. Em 1880, chegou aos restaurantes napolitanos, onde ganhou nova reputação junto à invenção da pizza.

E é por lá que vou que vou fazer minha nova dieta na semana próxima. Por quinze dias, estarei comendo pizza Tonda, a Portofoglio, all Taglio, alla Pala, Marinara… e spaghetti alla puttanesca, tudo regado a pomodoro.