Em dias recentes fui convidado para participar de reunião de Rotaryanos na Embrapa, oportunidade em que o Comandante do Batalhão de Comunicações, então Ten. Cel, hoje Coronel, Alexander Eduardo Vicente Ferreira faria uma palestra. Fui motivado por algumas razões: tenho pessoas nos Clubes de Serviços que estimo muito; “I love” Rotarys, se não são tão realizantes, são debatedores, trocam ideias, fazem análises, confraternizam, Bento é o foco; e fui também movido pela curiosidade e interesse, o que teria o comandante a falar para os rotaryanos em encontro, seguido de jantar no Canta Maria?

Chegando lá na Embrapa reascenderam as recordações. Olhei à direita e lá estava o prédio do Laboratório, onde o prof. Fenocchio, dava aula de enologia nas quais eu sempre tinha medo de explodir o laboratório. E lá estava também o parreiral que minha turma de enologia ajudou a plantar. Eu cavei, a pá e picão, como todos os meus colegas, oito valas e plantei oito pés de parreiras, orientado pelo professor Pimentel. E olhei também para a belíssima área verde da Embrapa que antigamente era “point”, com eventos aprazíveis de toda ordem. E foi ali que fizeram a bobagem de me dar um cavalo – eu era Membro da invernada artística do CTG Laço Velho, bailarino dos bons e declamador melhor ainda, acreditem – para desfilar no Corso da Primeira Fenavinho. Bem, aconteceu o seguinte. O cavalo era da família Zardo emprestado ao CTG e o CTG o cedeu a este “cavalariano” que nunca tinha subido num cavalo. Depois de um churrasquito do bueno – gaúcho sem cavalo, trago, churrasco e bom chimarrão, não é gaúcho – me aprocheguei do dito. “Não te preocupa, é manso, me diziam!. Carinho prá cá, carinho prá lá, no cavalo, criei coragem e, lá fui eu em direção a concentração na Osvaldo Aranha. Nos primeiros cem metros foi tudo bem, daqui a pouco o cavalo disparou e quanto mais eu me segurava nele mais ele disparava, 60km por hora era pouco, eu rezava o “sequerium” para encontrar um lugar para desembarcar. Tinha perdido as esperanças e quando chegamos no pórtico em frente ao Estádio da Montanha tinha um “amansa burro” (ponte de madeira com espaços entre uma táboa e outra), o cavalo parou de repente e eu voei, o tombo foi tão grande que até hoje me dói a bunda. Levantei, sereno, tranquilo de vergonha, o cavalo estava ali, parado, dócil, porém todo ensanguentado, mais lesionado do que eu.

Acontece que, ao meu redor, estavam os demais bombachudos e cavalarianos do CTG, lamentando o estado do animal e prestando os primeiros socorros. Eu, que vestia um pala de seda, botas de cromo alemão, esporas de prata presenteadas pelo meu tio Nelson, bombacha feita pelo meu pai e digna de um traje de gala dos bailes da Reitoria com o Conjunto Norberto Baldauf, eu era apenas um detalhe. Mas o que é que tinha acontecido? Simples. Cavaleiro de araque, marinheiro de primeira viagem, eu encarnava o popular “cagão”, termo muito usado também na época. Com medo de cair eu pressionava as pernas contra o corpo do cavalo sem me dar conta que as esporas o machucavam. Ele entrou em desespero, começou a correr, quanto mais ele corria mais eu fincava as esporas nele, quanto mais eu fincava, mais ele corria. Com o acontecimento houveram consequências: o desfile da Fenavinho perdeu um astro e eu me safei de cair do cavalo diante do imenso público presente. Uma outra consequência envolveu grande polêmica, discussões sobre a responsabilidade pelos danos causados ao animal. A família Zardo não queria mais o cavalo, queria indenização, cobrava de mim. E eu sustentava que era apenas um cavaleiro, o animal havia sido emprestado ao CTG. Essa polêmica durou muito tempo e a família Zardo não obteve a indenização. Resultado: me convidem para subir num foguete para ir a lua mas não me convidem para dar um passeio a cavalo, de mula, talvez.

Bem, entrei no salão de atos da Embrapa rindo e lá estava o Ten. coronel Alexander iniciando a palestra. Vi de cara que se tratava de um oficial do Exército de nível superior. Farda impecável, barriga de tanquinho como diriam as mulheres mas, para nós homens, própria para bater em retirada em caso de avanço do inimigo no front da guerra, gestos firmes e delicados, um homem cordial, perfil que honra o exército nacional. O Comandante me surpreendeu também ao apresentar um audiovisual da maior qualidade e significado cultural, social e cívico. Não sei se ele apresentou em Universidades, escolas e segmentos da comunidade mas se não o fez é uma lástima. Paralelamente a apresentação do áudio, Alexandre fez uma excelente explanação sobre a atuação do Batalhão junto a sociedade Bento-gonçalvense que foi bem além da atuação do Batalhão Curumim.

Anotei tudo mas perdi as anotações quando as encontrar volto a falar do assunto. Sai do encontro plenamente gratificado, impressionado e aliviado com a demonstração de que o Exército não está alienado do processo político e conflitos sociais mas sim sabiamente vigilante e atento sobre o que está acontecendo. Alexandre Eduardo Vicente Ferreira (anotem este nome) anunciou que estava sendo transferido e uma semana depois da palestra na Embrapa ele havia sido promovido a Coronel. Não sei quem vai substituí-lo, a posse do novo comandante está marcada para o dia 17, juntamente com a posse dos Comandantes da 8ª Companhia de Comunicação e 15ª Companhia de Comunicação Mecanizada. É muito Comandante contrastando com a bagunça e roubalheira neste país. No meu tempo de soldado (servi por 40 dias) quando se fugia do quartel para vir aos bailes do Clube Aliança, se temia a patrulha do exército que girava por todos os cantos da cidade a procura de soldados festeiros mas também era razão para tranquilidade da população. Enquanto Caxias constituiu o Batalhão de Operações Especiais (parceria Prefeitura e Governo do Estado através dos órgãos de segurança), que já está em operação constante nos bairros combatendo a marginalidade, por aqui vamos nos contentando com os três Batalhões aquartelados lá em São Roque. O coronel Alexandre vai fazer falta em Bento. É um homem “acostumado a grandes cavalgadas”, jamais vai cair, como eu, do cavalo. Bem-vindos comandantes, cuidem da gente, nos livrem, na medida do possível, de bandidos, traficantes e assaltantes. Amém.