É incrível a habilidade de o cérebro aproveitar cada migalha do dia, um pensamento que passou de raspão, uma ideiazinha sem substância tipo a vontade de recusar o pedaço de torta com camadas negras e brancas conversando entre si, um desejo, uma lembrança, uma intenção, uma imagem, coisas mínimas e desimportantes e juntar tudo no liquidificador, originando uma massa hiperbólica, com aspectos inimagináveis e histórias fora de órbita. Como pode?!

Pois é! Mas na semana passada, fiz um exercício interessante de análise interpretativa, pratiquei à exaustão fracionando os elementos de uma trama não linear, obtendo mil possibilidades. Sempre com a ajuda da matemática. E o resultado final… Bom, vou contar do início:

Tudo começou com um sonho profético. Eu via números para o jogo do bicho, mas seguindo a orientação do meu censor interno que não aprovava contravenção, deixei de apostar. E não é que aqueles mesmos números foram sorteados na Loteria? Na cabeça e no terceiro prêmio. Sem contar que, no segundo prêmio, deu o número sugerido por outra personagem do meu sonho, completando assim o pesadelo.

Logo ao acordar, anotei tudo antes que as lembranças se embaralhassem. Mas como faltavam algarismos para o milhar, passei a fazer combinações matemáticas dignas de um João Bidu ou de uma Mãe Dinah. Finalmente o resultado para a fezinha. O censor que se danasse!

Então, retornando pra casa com a sensação do dever cumprido, bem na hora do rush, fiquei numa posição incômoda ao posicionar meu “Jaguar Land Rover” na primeira pista, deixando a traseira na segunda. Não tinha como sair daquela encrenca até o semáforo abrir. Um fulano arrogante botou o cabeção na janela e gritou “Parabéns”. Tudo porque acabei exigindo dele um “esforço hercúleo” – uma simples guinada à direita em direção da terceira pista – para entrar na linha. Mal sabia ele que eu aguardara um tempão na esperança de alguém gentil me conceder um espaço. Como não aconteceu, tive que improvisar.

Mas não ia ser um sujeito mal-humorado num caminhonetão a estragar minha noite de sorte.

Cheguei sã e salva. E com a traseira do “Ultraman” sem novos arranhões na pintura.

Quando a Caixa divulgou os resultados da Loteria Federal através do Google, fui conferir. Adivinhem só! Estava lá, bonito de ver! O milhar mais sacana da história. Os algarismos que eu digitava sempre que estacionava em zona azul: a placa do meu carro. Dá pra acreditar?!!!