…e é para lá que precisamos ir.

 

Um assunto muito delicado, porém extremamente necessário. Aqui está o grito desesperado de todas as mulheres, de receberem igualdade, dignidade e respeito, como todos os seres humanos. E uma pequena reflexão sobre o lento andamento da cura deste mal, provindo de uma sociedade que cultivou princípios distorcidos por séculos, levando ao que estamos vendo hoje, de camarote: mulheres sendo mortas como em um clube de caça.

Mesmo comprovado em números e depoimentos, o feminicídio é visto como mimimi. Pouco se questiona sobre o fato de que o machismo mata com base no conceito de desigualdade, onde o homem se acha dono da sua namorada ou esposa e a considera inferior. Apesar de não ser coerente dizer que, toda mulher assassinada é vítima de feminicídio.

Difundida na década de 70, a palavra foi criada por pela socióloga sul-africana Diana E.H. Russell, que entendeu que as mortes estão inseridas em uma cultura, onde é natural a violência contra a mulher e limita o crescimento saudável de meninas. A violência nasce da desigualdade, quando os salários para o mesmo cargo são menores para mulheres, quando em um relacionamento os direitos não são os mesmos, quando o homem, por conta de sua estrutura física ou força, obriga a mulher ao ato sexual, quando a mulher torna-se “alvo fácil” por estar vestindo roupas curtas, provocativas e sensuais. “Ela pediu”, diria o estuprador, como se fôssemos culpadas pelo horror cometido pelo homem.

“São exemplos de feminicídio os crimes encobertos por costumes e tradições e que são justificados como práticas pedagógicas, como o apedrejamento de mulheres por adultério, relacionadas com o pagamento de dote, a mutilação genital e os crimes “em defesa da honra”. Rusell também pontua o assassinato de mulheres por seus maridos e companheiros, os estupros de guerra, a morte por preconceito racial e a morte pelo tráfico e a exploração sexual, que tratam as mulheres como objetos sexuais e descartáveis.”

O feminicídio é a consequência maior da desigualdade de poder entre gêneros. Infelizmente esse fenômeno global mata milhares de mulheres todos os dias.

Outra constatação importante é que a maioria dos agressores não tem antecedentes criminais, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Proteção Social (SMSPPS). A gente dificilmente vai saber quem é nosso potencial assassino. E se isso não é um agravante, então não sei.

Como combater o feminicídio a não ser pela reinvenção da educação? O estereótipo do homem incapaz de chorar ou mostrar fragilidade e da mulher que no fundo acha que quando o homem lava a louça ele lhe ajudou, esse é o ponto a ser questionado. Até quando criaremos pessoas assim? Se é um fato basicamente cultural, o padrão da criação do homem é marcado pela superioridade em relação à mulher. É necessário combater a masculinidade tóxica também com uma ação voltada para meninos, meninas, pais e mães. Vamos até a raiz, para não ficarmos arriscando e matando tantas vidas, depois sair correndo atrás do prejuízo.

Não queremos ser diferentes, não queremos ser melhores que ninguém. Porque afinal, não vamos combater isso tudo, se não recomeçarmos como uma equipe.