Navegar pela Internet aleatoriamente é a melhor maneira de se descobrir o bicho que dorme no homem e que desperta no anonimato.

Geralmente é assim: alguém posta um texto, às vezes interessante, às vezes de mau gosto, informativo, ideológico, preconceituoso, fanático… Há textos de todo o tipo. Aí fica aberto o espaço para manifestações dos eventuais leitores, quando, então, começa o bombardeio. Mesmo sendo um tema banal, sem nenhuma importância, ele pode se transformar em estopim de uma guerra. Palavras que jamais seriam ditas cara a cara são jogadas que nem bombas. Os feridos contra-atacam, e o entrevero continua com xingamentos que vão se superando a cada nova investida.

O caso mais recente que vi ocorreu num blog, onde o blogueiro, talvez abalado pela repercussão negativa da postagem, deixou de atualizar a página. O grande pecado que ele cometeu e que provocou a ira dos internautas foi uma brincadeirinha sobre os avisos que os comandantes e comissários de bordo dão antes da decolagem e aterrissagem das aeronaves.

Extravasar a animalidade secreta nas redes sociais será uma forma de terapia? Xingar faz bem à saúde? O insulto alivia as tensões? Em caso positivo, não tenho dúvida: muito profissional da área psicológica vai perder o emprego.

E por falar em avisos…

Não era uma decolagem em grande estilo, num Airbus de voo internacional, mas a arrancada para um roteiro “doméstico”, por terra mesmo, mais precisamente de Passo Fundo a Caxias do Sul. Já o “comandante”, ao dirigir-se aos passageiros, o fez em grande estilo:

-Boa tarde! Aqui fala o motorista. Meu nome é X, e não passo dos oitenta (80 km p/hora). Vou conduzir este ônibus até Caxias e vou pedir para que todos usem o cinto de segurança. Se estiverem soltos, qualquer virada aí, vocês voam pela janela. Com os cintos, vocês permanecem sentados. Sem cinto, comigo não “viajeia”. Criança sem certidão de nascimento comigo não “viajeia”. Depois os pais acham que o filho está no colégio e tem alguém levando o filho embora aqui. Então, comigo não viajeia. Se “percisá” “descê” puxa a corda. Se não “tocá”, se pendura nela ou vem ali na frente. “Causo percisá”, este vidro do meio é o único que quebra. Com martelo que está aí, no plástico vermelho. Não quebre com as mão que pode se cortar. Mas não vai “percisá”: dos 80 não passo. Cada um sente no seu lugar para depois não “percisá” se “alevantar”. Apertem os cintos e boa viagem!”