Entrar na casa do Artesão e do Artista Plástico de Bento Gonçalves é como visitar um novo mundo. No primeiro andar, os trabalhos de artesanato. No de cima, as obras de artistas plásticos da cidade. Cada degrau da escada tem uma pintura com um tema diferente e anuncia o que está por vir: uma sala quase mágica. Ali encontramos quadros e esculturas dos mais diversos estilos e tema. No Dia do Artista, celebrado hoje, fomos conhecer esse universo e revelar suas histórias.

Nessa sociedade cada vez mais virtual e objetivo, ser artista é um ato de resistência. A presidente da Associação dos Artistas Plásticos de Bento Gonçalves (Aaplasg) Ivete Todeschini Menegotto, 64 anos, diz que o artista é muito órfão no mundo. “Ele tem um mundo particular e um olhar diferente, é capaz de ver o que ninguém vê”, afirma. Além de coordenar a entidade, ela é poeta.

Sua admiração pelas artes plásticas nasceu em exposições. O olhar atento aos detalhes faz com que consiga transformar uma pintura em palavras. “Uma obra é um poema mudo”, define. Mas como nasce um quadro? De onde vem a inspiração para uma escultura? Qual a definição do que é arte?

Nair Maria Ben, 71 anos, afirma que a arte não se resume ao pintar uma tela ou ao construir uma escultura. “É muito mais ampla. Ela está presente em qualquer segmento da nossa vida”, ressalta. Professora aposentada, a artista conta que sempre foi muito observadora e queria retratar o que via. Durante o dia dava aulas de português, mas à noite participava de um atelier, onde seu desejo de representar o mundo através de uma tela, tintas e pincéis ganhou força.
Quem conseguiu romper com o emprego tradicional e foi viver de sua arte foi Ivalino Postal, 61 anos. Ele trabalhava com vendas de automóveis, mas em 2000 decidiu que iria fazer aquilo que lhe apaixona. “É preciso muita coragem. Eu tinha contato com muita gente da alta sociedade. Primeira vez que fui pintar um quadro ao vivo em um evento, muitos passavam por mim e falavam que tinha enlouquecido”, lembra rindo.

Hoje Postal consegue se manter somente através da arte, que vai de pinturas a esculturas. “Utilizo todo tipo de material. Produzo obras sobre imigração italiana onde for, mas sempre com o tema que o cliente pede. É meu trabalho, eu tenho que fazer”, afirma, definindo que a arte pertence à sociedade.
Apesar do sonho, nenhum deles teve a oportunidade fazer uma faculdade ligada às artes. Gilberto Schenatto, 69 anos, sempre trabalhou profissionalmente com painéis e letreiros, mas o que lhe move mesmo é se expressar através das telas. “A pessoa nasce para ser. Sem saber, tu vais se apaixonando por aquilo. Como começou? Ninguém sabe. Eu desenhava desde piá”, declara.

Expressões artísticas em mudança

Postal com a obra produzida durante a Fenavinho

Um dos pontos que a Associação tem dificuldades é em atrair mais jovens para suas oficinas. Segundo eles, poucas crianças e adolescentes se interessam por esse mundo. Mas, na avaliação de Nair, em seus últimos anos em sala de aula, pode observar que a expressão artística dos jovens está mudando. “Para eles é o grafite, o mangá, a tatuagem. Levaram a arte para a rua. Não querem mais ficar fechados em um atelier”, aponta.

Já Postal afirma que os jovens não querem somente ver uma tela pronta, desejam conhecer o processo, saber quem é o artista. Essa experiência ele teve em várias oportunidades, nas quais foi produzindo sua obra junto com o público. A última delas foi na Fenavinho, quando entalhou uma imagem na parte superior de um barril de vinho. Segundo ele, muitas pessoas se aproximavam, faziam fotos, queriam participar do trabalho para saber como era.

Postal também comenta sobre a arte contemporânea. “Hoje a arte vem para ser pensada de uma forma diferente. A leitura disso tudo mudou muito. Até eu sou muito cru, não entendo muito disso. Definir arte é muito difícil”, afirma. Os artistas citam o caso de Tarsila do Amaral, que rompeu o padrão de arte do seu tempo com o quadro Abaporu.

Fotos: Elisa Kemmer