Parkes, um dos maiores estudiosos em luto, refere que o amor constitui a mais intensa fonte de prazer na vida, ao passo que a perda é compreendida como a mais profunda fonte de dor e sofrimento. A construção das relações íntimas e intensas entre os seres humanos, mesmo diante da existência de limites e desafios, permite pensar que é transitoriedade da vida que enaltece o amor e compõe fundamentalmente o compromisso, possibilitando a consolidação de um laço emocional capaz de vincular duas ou mais pessoas durante uma longa trajetória de vida. Através do vínculo, constitui-se o compromisso de dedicar-se às relações e amá-las, cada uma a sua maneira, todas de forma importante.

Se há tanto investimento afetivo-emocional envolvido em uma relação, em um vínculo construído ao longo de uma história, justifica a resistência humana frente às rupturas do ciclo da existência. A dor de perder aquilo que foi investido pelo desejo está ligada à natureza das alianças firmadas num momento anterior que, na medida em que se estabelecem, são elos que dificilmente podem ser afrouxados. Daí que se entende também que quanto maior o potencial para a perda, tanto mais acentuada é a força do vínculo. Por tantas razões, a dor da perda refere-se ao custo do compromisso de amar.

O luto, caracterizado como um conjunto de reações normais e esperadas diante do rompimento de uma relação de amor, envolve uma série de mudanças psicológicas que precisam de atenção e cuidados. Inevitavelmente, a dor da perda está associada à dor das mudanças, na medida em que, partir da circunstância da ausência da pessoa querida, o enlutado precisará repensar os conceitos sobre o mundo e a vida, sentirá a discrepância entre a realidade e os seus constructos internos e reorganizará as maneiras de viver depois da perda. Então, pode-se pensar que, diante de uma partida, um mundo novo se apresenta para quem ficou, impondo que sejam construídas novas formas de seguir, mesmo que se tenha investido tanto até então. A dor se trata do que foi fragmentado e que precisa ser reconstituído ao longo de um tempo particular. Por isso atravessar o luto envolve também dificuldades.

Contudo, ainda que as separações causadas pela ausência da pessoa amada sejam razão de tamanha dor, o processo que envolve sua elaboração é fundamental para a saúde mental, ao passo que promove a reconstrução dos recursos psíquicos e readaptação frente às mudanças. Se existe algo especial que as perdas promovem é a capacidade do ser humano enxergar em si mesmo o quanto é capaz de ser e fazer, o quanto apresenta potencial para mudar e sobreviver, talvez não da forma como gostaria, nem diante de um evento tão estressor quanto a morte de uma pessoa querida, mas a mudança surge como possibilidade de ampliar caminhos, de convidar a repensar e evoluir para transformar a vida. Cuidar das perdas, portanto, refere-se a um ato de coragem. E cuidar do luto trata-se, sobretudo, de uma proposta de amor… um amor que permanece vivo na lembrança e saudade de uma relação que nunca morre na ausência e esquecimento.