Comportamento mais agressivo, aumento da velocidade, ingestão de bebidas e desrespeito às leis de trânsito. Esses são os fatores que têm feito aumentar o número de mortes nas rodovias da região. O número é 69% superior em relação a todo ano de 2019. Já são 22 vítimas fatais nas estradas estaduais e federais no entorno de Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa. As estatísticas policiais não contabilizam as pessoas que foram a óbito no hospital.

Na BR-470, os números estão se equiparando aos anos de 2016 e 2017, quando houve 13 acidentes com vítimas fatais. No ano passado, as estatísticas caíram para sete. Segundo o chefe da 6ª Delegacia de Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Bento Gonçalves, Rômulo Gomes, em 2018 havia um trabalho permanente de fiscalização com o uso de radar móvel. Mas os policiais não estão autorizados a falar sobre as consequências a proibição do uso deste tipo de controlador de velocidade.

Gomes avalia que o comportamento dos motoristas do trânsito está mais agressivo. “Isso é uma percepção nítida da gente como fiscal. É um fato. As pessoas estão andando mais rápido, se arriscando mais”, declara. A manobra que mais deixa vítimas fatais na BR-470 é a ultrapassagem em local proibido. Ele ainda aponta o consumo de álcool por grande parte dos motoristas que causam acidentes com mortes. “Quem sobrevive, geralmente, assopra no etilômetro e acusa ou se nega a fazer o teste”, destaca.

Outro fator que é fácil de se observar é que a maioria dos motociclistas não respeitam as regras de trânsito. “Se pegar os dados nacionais de acidentalidade, grande parte é envolvendo moto. É o veículo que mais se acidenta com vítimas graves ou mortes. Primeiro que não tem tanta proteção como um carro. Mas, muitas vezes, o próprio condutor se arrisca muito. Junto a isso, vem o desrespeito à lei. Dificilmente se vê um motociclista que fica atrás de um automóvel, eles, geralmente, circulam nas laterais”, aponta Gomes.

“Fiscalização sozinha não vai reduzir mortes”

Os trabalhos de fiscalização da PRF são planejados a partir das estatísticas, dias e trechos mais críticos, conforme explica o policial. A entidade também participa da eventos e faz atividades educativas. Mas o principal problema, conforme Gomes, é o comportamento dos condutores. “Não adianta ter essa fiscalização toda se as pessoas não tiverem uma consciência maior sobre o risco que é dirigir no trânsito hoje. É preciso ter mais paciência, atenção, respeitar as leis. O nosso comportamento é o responsável pelos acidentes. Não é a fiscalização sozinha que vai diminuir o número de mortes, mas uma mudança de atitude”, afirma.

A aplicação de teste do bafômetro na saída de festas, como a Fenachamp, está gerando debates, mas Gomes sustenta que esse tipo de trabalho precisa acontecer. “Não somos contra a ninguém beber, somos seres humanos, se eu for em uma festa, não vou lá para tomar água. Mas é evidente que não vou dirigir, e não é só porque sou fiscalizador, mas é porque nós (da PRF) vivenciamos o trânsito diariamente, atendemos acidentes, vivemos essa realidade. Se vou beber, é muito mais fácil pegar um Uber, táxi ou combinar com alguém para levar a buscar. Não é só o prejuízo financeiro, você já pensou se sai dali daquela forma e causa um acidente? Mata uma pessoa? Para quê se arriscar tanto?”, questiona.

“Radares móveis são essenciais”

Nas estradas estaduais, as causas e situação das mortes têm explicações diferentes das ocorridas na BR-470. Segundo o comandante do grupamento rodoviário de Farroupilha, tenente Marcelo Stassak, os principais motivos são falta de conhecimento da rodovia, excesso de velocidade e imprudência.

Até agora já são 12 vítimas fatais na região, chegando ao dobro em comparação a todo ano passado. “Esse número cresceu porque teve quatro mortes de caminhoneiros na ERS-431, e outros dois, em Garibaldi e Carlos Barbosa, onde morreu mais de uma pessoa. É uma questão ainda avaliar e estudar o que está acontecendo”, explica.

Para ele, uma queda nos números só é possível com uma mudança de consciência por parte dos condutores. “O fim da fiscalização é educar. O policiamento está sendo intensificado em alguns pontos, principalmente, em relação ao controle de velocidade”, destaca. Nas estradas estaduais, os radares móveis continuam funcionando normalmente.

Stassak diz que o emprego dessa ferramenta é essencial no controle e segurança das rodovias. “Um exemplo é a RS-122, entre Caxias do Sul em Farroupilha. Nessas últimas semanas aconteceu uma morte, mas estávamos há anos sem acidentes com vítimas fatais, situação que coincidiu com o início do emprego dos radares móveis em 2014. Depois do uso desse controlador, começou diminuir as ocorrências, até não ter mais registros de óbitos”, salienta.