Ao falar em Brigada Militar, logo pensamos em policiamento ostensivo, atendimento de ocorrências e prisões, mas a instituição também trabalha com programas preventivos, como o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), e proteção a vítimas de violência doméstica, com a Patrulha Maria da Penha.

Na última semana, eles ganharam reforço. Cursos em todo Estado formaram patrulheiros e instrutores. O 3º BPAT agora conta com mais oito policiais qualificados, quatro de cada programa. Bento ainda recebe um destaque maior, que é a tenente Diane De Toni, que já atua na Patrulha Maria da Penha e é uma das multiplicadoras. Ela ajudou na formação de duas turmas do curso – foram cinco que ocorreram simultaneamente em todo Rio Grande do Sul.

Diane explica que a atuação dos Patrulheiros é garantir o cumprimento da Medida Protetiva e não o atendimento da ocorrência. Através do programa, é feito o acompanhamento da vítima. O trabalho exige quase que o policial reaprenda sua atuação, pois é necessário empatia, ouvir a vítima, aconselhar, compreender o que está acontecendo. “Não é só ir lá e colocar a mulher em uma estatística. Quando atendemos, elas contam para a gente tudo que passou em sua vida. Antes, eu só atendia chamados, ia já querendo separar a briga, mas agora é totalmente diferente”, constata.

Em Bento, a maior demanda de chamados do 190 é de ocorrências de Maria da Penha, que já passavam das 300 em outubro, quando foi feito o último levantamento. “Quanto mais qualificação, melhor é o serviço que vamos prestar para aquela vítima. Não pode ser mecânico. A gente acaba até se envolvendo com elas. Pensa nelas fora do horário de trabalho. Quando é preso um cidadão por violência doméstica, a gente já fica pensando quem era a vítima. A importância de ter mais policias formados é na hora do atendimento. É preciso que elas se sintam seguras e saibam que existe uma rede de proteção”, ressalta.

Diane ainda comenta que, muitas vezes, quem atua na Patrulha até se sente incomodado sabendo que o agressor ainda continua nas ruas. “Também nos sentimos engessadas em não poder proteger elas na totalidade. Fazemos o que nos compete, mas muitas vezes elas ficam desamparadas. Como ela vai dormir de noite sabendo que ele está solto? Elas não entendem o que está acontecendo, acabam repetindo um comportamento que vem de gerações. Muitas permanecem por anos nesse ciclo de violência”, diz.

Para ela, poder multiplicar a inciativa é muito gratificante. “É bem sensacional. Quando vou dar aula, seja para alunos soldado ou para aqueles que já são formados, sempre aprendo muito. Quando eu participei da formação, saí transformada, não vendo mais a mulher somente como mais uma vítima. Nos cursos, ensinamos que primeiro precisamos ajuda-las para que enxerguem que tudo que ele fazia com ela era violência. Porque não é somente agressão. Nos cursos também trabalhamos sobre quais são os direitos que a vítima tem, como prioridade na matrícula da escola para os filhos, bolsa família, atendimento psicológico. Elas nem sonham com isso. Temos que mostrar que não irão ficar desamparadas. Para a gente empoderar a mulher só tem um jeito, que é levar a informação”, esclarece.

Dois programas que mudam vidas

Diane compara a Patrulha Maria da Penha com o Proerd. “São serviços bem recompensantes. A gente muda a vida de uma criança quando sabe que ela cresceu, teve oportunidade de entrar na criminalidade, mas não entrou porque ela ouviu a palavra de um policial na escola. Com a mulheres vítimas de violência também é assim. Se a gente souber que uma delas saiu de ciclo é uma vitória para nós”, valoriza.

A capitã Estefanie Fagundes Gomes Caetano explica que dos quatro novos instrutores do Proerd, dois vão atuar em Bento Gonçalves, um em Pinto Bandeira e outro em Guaporé. “A ideia é que ano que vem a gente possa aumentar ainda mais as escolas beneficiadas. Na área do batalhão são 1200 crianças formadas esse ano. Em Bento, estamos presentes em 19 escolas”, pontua.

A atuação acontece tanto na rede pública quando na privada. Além de trabalhar a prevenção a drogas e violência, os instrutores também realizam atividades contra o bullying e sobre comunicação não violenta. “O maior problema hoje em dia, que movimenta toda criminalidade, é o consumo de drogas. Não é à toa que existem esses dois programas, que são o carro-chefe da BM, o Proerd e o policiamento comunitário, que atua junto com a Patrulha Maria da Penha. Tem muito consumo de drogas e violência doméstica”, afirma. Além disso, os instrutores estão capacitados para ouvir crianças em situação de violência e encaminhá-las para o serviço correto.

Fotos: Arquivo Pessoal