Espaço para receber mulheres foi adaptado. Em duas celas, com capacidade para abrigar 16 pessoas, há 20 mulheres

Apesar da divulgação de uma estrutura projetada para acolher toda população carcerária que estava na antiga Penitenciária Estadual de Bento Gonçalves, o novo presídio já começou com adaptações. O problema é que ele não foi pensado para abrigar mulheres. Para isso, foram necessárias mudanças. O problema é que a ala feminina ficou superlotada, pois há 20 detentas e somente 16 vagas nas duas celas utilizadas. Quatro delas estariam dormindo no chão.

Zago esclarece que, para resolver o problema, foi necessário utilizar as duas celas que estavam reservadas para os presos trabalhadores. “Elas ficam em uma ala do lado esquerdo da penitenciária, separadas da galeria, aí não têm contato com os homens. A gente está adaptando o espaço. Vamos colocar um treliche, assim quase todas terão cama”, declara.

Os trabalhadores foram realocados para as celas disciplinares, que são onde ficar os presos que estão de “castigo”, conforme explica o diretor. Outras celas foram separadas para a sanção disciplinar. “Temos que ir adaptando, porque, uma das possibilidades seria distribuir elas nas penitenciárias da região. Mas muitas têm filhos e familiares que vêm visitar, aí ficaria muito longe. Esse é o lado positivo. O negativo é que vão ficar mais apertadas do que os homens”, aponta.

Zago ainda diz que as mulheres terão mais benefícios do que teriam no antigo presídio. “Elas terão uma sala de aula exclusiva. Também haverá um apartamento para visita íntima. Além disso, poderão realizar atividades laborais”, afirma. Essas são possiblidades que não existiam no espaço anterior. O diretor ainda pontua que, como elas não são muitas, todas teriam a possibilidade de estudar, mas que isso depende da adesão de cada uma.

De acordo com Zago, elas poderão trabalhar na lavanderia do presídio, que ainda não está funcionando, pois foi necessário adaptar o local em virtude do tamanho das máquinas, que vieram em tamanho maior do que o esperado. “Em questão de pouco tempo, vai ter dentro do presídio esse serviço que hoje é terceirizado. Então todas elas vão ter a possibilidade de remissão de pena”, diz.

Em relação a uma solução definitiva, com mais espaço e possibilidade de acolher novas detentas, ele afirma: “quanto a solução de uma cadeia feminina, no momento, não há”. A ideia inicial do Estado, conforme ele esclarece, era utilizar a estrutura no centro da cidade para essa finalidade, porém isso foi descartado quando o governador Eduardo Leite (PSDB) assumiu o comando do Piratini e reafirmou o compromisso assumido com o município de demolir o prédio. “Semana que vem vamos retirar todos os móveis e entregar o prédio para a prefeitura”, finaliza Zago.

Prédio ainda sem câmeras

Mesmo que a nova penitenciária tenha um esquema de segurança muito maior, como define o diretor, câmeras de vigilância ainda não foram instaladas. “Lá, o que separava os presos da rua era um muro de quatro metros. Aqui estão em um pátio com muros de 8 metros de altura. Metade dele é coberto e metade tem grades. Do lado de fora, ainda tem uma tela, uma mureta de concreto e mais uma tela separando o contato externo, além das guaritas da BM. É quase impossível uma fuga e também o arremesso de coisas”, diz.

Porém, o prédio foi entregue sem câmeras. “A princípio, temos um projeto com a Vara de Execuções Criminais (VEC) de Garibaldi, que vai contemplar uma parte dos equipamentos e o sistema de videomonitoramento, que é para 32 câmeras. Parece que já foi aprovado e o dinheiro vai ser liberado, então vamos começar a instalação. As outras estamos tentando coma VEC de Carlos Barbosa”, relata Zago. Em relação aos bloqueadores de sinal de celular, prometido pelo Estado para 2020, ainda também não há sinal concreto da instalação.

Atendimento Médico

Os presos que necessitavam de atendimento médico precisavam ser levados até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA). De acordo com familiares, muitos estavam sem medicação e sem acesso ao atendimento. Zago diz que essa situação realmente estava ocorrendo, já que dependia de escolta para que os detentos pudessem ser levados até a unidade.

Mas o problema será resolvido na próxima semana. “A gente conseguiu, com a prefeitura, um enfermeiro e um médico para trabalhar 20 horas dentro do presídio. Queremos ver se conseguimos dividir esse tempo entre clínica geral e outras especialidades. Além de facilitar o acesso ao médico, há menos riscos, pois não precisa transportar o preso”, esclarece.

Familiares reclamam das condições dos presos

Uma das coordenadoras do grupo Familiares do Cárcere, Lisiane Pires, procurou o jornal para apresentar relatos de familiares com denúncias sobre o novo presídio. Entre elas estava a dificuldade dos agentes em interpretar o scanner. “Algumas mulheres foram impedidas de entrar pelo equipamento mostrar irregularidades no organismo. Depois foi comprovado em um Raio-X que eram fezes”, diz. Ainda há depoimentos de pessoas que precisaram passar a noite na fila para poder entrar no horário agendado.

Além disso, eles afirmam que alimentação oferecida, que é composta por café da manhã, almoço e jantar, não estaria sendo suficiente. Esposas dos presos também alegam que a sala de visita íntima não oferece escoamento para a água do chuveiro ou descarga no vaso sanitário.

O diretor da penitenciária ressalta que ainda está ocorrendo um processo de adaptação na nova estrutura e que agora a entrada dos visitantes está mais ágil. Em relação à alimentação, Zago ressalta que recebem um valor fixo, que é para os presos e também para os agentes e que a comida é suficiente e estaria até sobrando, pois agentes encontraram restos nos lixos. “O que acontece é que no outro presídio entrava comida pelos visitantes, aqui não é mais permitido”, destaca. Sobre o apartamento para visita íntima, ele diz que o problema já foi solucionado.

Outra cobrança dos familiares é o transporte urbano até o local, que foi prometido pela Administração Municipal, porém a parada mais próxima fica a cerca de dois quilômetros da casa prisional. O secretário de Mobilidade Urbana, Gilberto da Rosa, disse que empresa responsável já foi oficiada e que a situação deve se resolver nas próximas semanas.