Combate ao câncer de próstata é a principal proposta da campanha. Cuidados gerais, porém, também são essenciais

O Novembro Azul, uma campanha da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), inicialmente tinha apenas o objetivo de informar homens a respeito do câncer de próstata. Com o passar do tempo, entretanto, a ação começou a alertar as pessoas do sexo masculino sobre saúde no geral, não apenas dos homens mais velhos, mas também dos adolescentes e jovens.

O urologista Thiago Cusin afirma que o câncer de próstata sempre foi o maior vilão, pois é o que atinge com mais frequência o homem. Existem outros problemas que também são preocupantes. “Por exemplo, um deles é a varicocele, que são veias dilatadas que o menino tem no testículo, e se não tratadas, podem levar à infertilidade quando ele for um adulto jovem e tentar ter filhos”, exemplifica.

Sintomas do câncer de próstata

Cusin afirma que o câncer de próstata não tem sintomas quando está em fase inicial. “Cerca de 90% dos pacientes com a doença em fases precoces, que o tumor só está dentro da próstata, não invade outras áreas, o homem não sente nada. Por isso o diagnóstico inicial é importante, a gente só consegue fazer através de exame de toque retal e PSA (Antígeno Prostático Específico)”, explica.

Além disso, o médico frisa que 10% dos pacientes que já apresentam sintomas, normalmente são homens com câncer avançado. “Um tumor que já saiu da próstata está comprimindo a uretra ou que já foi para os ossos, vai ser o homem com sintomas urinários. É o desejo de urinar e não conseguir, tenta urinar e parece que não esvaziou por completo, levanta várias vezes de noite e tem sintomas irritativos, de armazenamento, ardência, vontade de ir no banheiro toda hora, sangramento. Tem lesões que são as metástases, que saíram da próstata. O paciente pode começar a ter dor óssea, às vezes alguma situação cerebral, que é mais raro, e no pulmão”, menciona.

Predisposição genética

O urologista destaca que todo câncer tem predisposição genética. “O de próstata tem fatores de risco, que são quatro os mais importantes. Homens que têm familiares de primeiro grau com tumor, pai ou irmão, tem um fator de risco de até três ou quatro vezes maior do que a população geral. O obeso também tem maior risco de desenvolvimento, além de homens negros, tabagistas e alcoolistas”, esclarece.

Prevenção

Cusin realça que o câncer de próstata não é prevenível, mas é remediável. “Alguns estudos mostraram algum benefício em usar leptina, que é um componente que tem no tomate. Até tem um estudo demonstrando sobre o aumento de frequência de relações sexuais, então o homem que acaba ejaculando mais vezes, teoricamente pode prevenir, mas não tem como comprovar”, sublinha.

De acordo com o especialista, a maior prevenção é o diagnóstico realizado o quanto antes. “Existe um tratamento precoce e a cura da doença que pode atingir 100%. É um dos poucos cânceres que, quando descobertos em fase inicial, tem uma cura quase total”, destaca.

Homens acima de 50 anos devem se cuidar ainda mais, pois há maior chance de apresentar tumor de próstata, mesmo sem fatores de risco. Quem possui predisposição deve fazer avaliações anualmente a partir dos 45. “Em alguns casos a gente faz até semestralmente. Isso é uma recomendação da SBU, mas no meu consultório começo a acompanhar os homens a partir dos 40 anos para quem tem fator de risco e 45 para quem não tem”, ressalta.

O câncer costuma ocorrer com maior frequência, entretanto, entre os 60 e 70 anos. “Se for analisar, homens acima dos 80 anos, praticamente todos ou a grande maioria vão ter algum sinal de câncer, mas que não é importante porque ele não vai morrer por conta desse tumor, é pouco agressivo. Praticamente, acima de 75 a gente nem avalia mais, só em casos muito especiais”, destaca.

Tratamento

Um dos tipos de tratamento é observação. “Não fazer nada, especialmente nos casos de homens mais velhos. Vamos acompanhando a cada três meses, fazendo ressonância, biopsia de próstata, vendo se vai evoluir ou não. Para alguns jovens com tumor pouco agressivo a gente pode também fazer acompanhamento”, expõe.

Em casos de tumor estádio intermediário ou avançado há outros tipos de tratamento. “Como a prostatectomia radical, que hoje em dia é feita por videolaparoscopia. A cirurgia por corte é muito mais agressiva, tem mais tempo de internação, de recuperação, a gente está fazendo cada vez menos esse tipo de procedimento. Daqui um tempo, provavelmente, essa cirurgia nem vai mais ser feita, o paciente tem muito mais chance de ficar perdendo urina ou impotente”, salienta.

Em outros casos ainda está sendo usada a radioterapia. “Ela está cada vez menos sendo utilizada, por contas que as cirurgias por vídeos são menos agressivas para o paciente. Ele faz a cirurgia e no outro dia está indo para casa, a sonda fica em torno de cinco a sete dias, o risco de perder urina é muito menor, o de ficar impotente é reduzido e a radioterapia, apesar de não ser invasiva aos olhos, acaba sendo sim danosa, o paciente podendo ter sangramento nas evacuações, ela não é isenta de riscos”, ressalta.

Cuidado precoce

Segundo o urologista, com o passar do tempo os homens estão ficando mais preocupados com a saúde. “Cada vez recebo mais jovens no consultório para fazer check up, querendo envelhecer com mais saúde. Hoje o homem de 60 anos é o antigo de 40, o de 80 é o de 60. Antigamente com 60 ele já estava velho, hoje não é mais assim”, garante.
Apesar disso, a resistência quanto ao toque retal ainda existe. “Alguns homens nem sabem o que é, alguns acham que dói, outros acreditam que vai tirar a masculinidade e que não vai ser mais homem por conta disso. A educação é fundamental para que a gente não tenha mais câncer de próstata”, finaliza.

Foto: reprodução