O local cresceu muito, segundo os moradores. Há 40 anos, eram poucas casas que existiam na região. Com o aumento da população, cresceu a necessidade de melhorias, tendo o asfalto como prioridade além de mais horários para o transporte público

A localidade de São Vendelino teve um crescimento acentuado nas últimas décadas, com a chegada de moradores oriundos de diversas regiões e por motivos variados. Os elogios ao local são, praticamente, uma unanimidade, diante da tranquilidade que reina no bairro. Mesmo assim há reivindicações como a troca do calçamento pelo asfalto, já que em dias de chuva a rua se torna perigosa.

Mercedes Zortea foi uma das primeiras moradoras do local. A dona de casa, de 63 anos, conta que conheceu o bairro por acaso. “Não tinha calçamento, água, luz, mas logo depois de alguns dias estes serviços vieram. Meu marido era caminhoneiro, então ele deixava o caminhão no posto e, um dia, subimos a rua e achamos muito bonito o lugar, foi quando decidimos vir morar”, lembra.

Para ela, o local conquista os moradores por suas qualidades, mas a principal delas tem a ver com a calmaria. “É um bairro tranquilo, seguro, o que precisa melhorar é a nossa rua. Disseram que vão asfaltar, estamos esperando, porque quando chove, para subir é perigoso, porque o carro patina muito, não tem condições”, alega. Mercedes relata diferenças do tempo em que mudou para o São Vendelino e como ele está hoje. “Cresceu bastante! Atualmente tem várias casas. O sentimento é muito bom de ver crescer, sem falar que o pessoal que mora aqui é bacana, uma vizinhança bem parceira”, diz.

Sirlei Dachery morava no interior de Bento Gonçalves e mudou para o bairro diante da possibilidade de viver na cidade. E não foi mais embora. “Percebemos que nossos filhos precisavam estudar e decidimos morar mais próximos das escolas. Quando chegamos era muito diferente, a rua nem estava aberta ainda, era tudo mato. Depois fizeram um loteamento, quando ainda se pagava a compra do terreno com carnê”, explica.

Ela reforça que o local tem qualidades e que, com o passar dos anos, as mudanças foram muitas. “No começo moramos de aluguel, depois construímos nossa casa e ficamos. E não me arrependo, aqui é bem tranquilo, tenho uma boa relação com a vizinhança. Quando chegamos não eram muitas pessoas, e aos poucos fomos tendo uma relação de amizade”, conta.

Por ter chegado bem no início, enfrentou dificuldades que todo bairro apresenta. “Logo que me mudei tivemos muitos problemas com água, porque era muito problema nas bombas, mas agora graças a Deus melhorou bastante. Estouravam canos por conta da pressão, então toda hora ficávamos sem água”, confessa.

Com o passar dos anos, esses problemas foram superados, mas outros surgiram e são os que os moradores querem ver atendidos. “Hoje o que precisa melhorar é a rua, os carros parecem uns pandeiros quando trafegam por ela. É preciso asfaltar ou ajeitar o calçamento. É muito ruim passar com os carros, principalmente em dia de chuva, e se torna até mesmo perigoso”, alerta.
Maria Luisa Gehlen se mudou para Bento ainda jovem, vinda de Guaporé, a fim de estudar. E conta que, com o marido, “escolhemos este bairro porque toda a família veio para cá. O dono dos terrenos era um conhecido de São Valentim, e decidimos nos mudar para cá também. Nossa casa levou três anos para ficar pronta”, lembra.

Ela é outra que não economiza elogios ao local, mas pontua que existem detalhes que incomodam os moradores. “O bairro é bom, ótimo para morar. O que é ruim e reclamamos sempre, é a rua. Nos dias que chove, quando viemos para cá não tinha como subir. Hoje os carros são mais potentes, mas ainda assim precisamos do asfalto. Claro que tem a desvantagem de ter que atravessar a estrada para ir em um mercado grande, mas sempre gostei de morar aqui”, assegura.

Lourdes Somera é do lar, há quatro décadas vive no São Vendelino, e garante que desde o início encontrou o lugar que procurava. “Na época morávamos de aluguel e estávamos investigando terrenos, um lugar que fosse bom de morar, calmo, e encontramos aqui, onde a vizinhança é muito boa. Vamos morar aqui até morrermos”, destaca.

Lourdes Somera é encantada pelo local em que vive há quatro décadas, onde pretende morar pelo resto de sua vida


Lourdes salienta as qualidades e acredita que os problemas são poucos em relação ao bem-estar de viver ali. “Aqui é um bairro bom, os vizinhos vieram todos do interior, é tudo gente trabalhadora, de bom coração. Protegemos uns aos outros, somos todos parceiros. O bairro é um pouco retirado da cidade, mas vale bastante a pena viver aqui. Não tenho reclamações, no máximo quanto à falta do asfalto. Fora isso tudo é muito bom, e entendo que há bairros que também precisam, então é necessário ter paciência”, expressa.

Normélio Argenta, assim como outros moradores, também teve sua história iniciada no interior. “Moro há 20 anos aqui. Meu filho começou a trabalhar na Embrapa, e nós morávamos no interior. Ele ia e vinha todo o dia, durou sete anos isso, e não era fácil, nem nós ficarmos sozinhos. Construímos nossa casa aqui, ele mora em cima e nós embaixo, e deu certo”, celebra.

Para comprar seu terreno foi necessário um pouco de insistência do aposentado, mas, no fim, valeu a pena. “Eu tinha um terreno no (bairro) Santa Helena, e um dia vim visitar meu sobrinho que morava no São Vendelino. Quando vi o lugar gostei muito. Perguntei quem era o dono desse terreno que moro até hoje e fui até a casa dele. Ele disse que não venderia, e deixei meu telefone caso mudasse de ideia. Um dia me telefonou, e fui correndo antes que mudasse de ideia, e de novo ele disse que não me venderia. Depois de muita conversa aceitou, e comecei a pesquisar os preços dos terrenos. Ele tinha muitas terras aqui e daí foi assim que comprei o terreno”, relembra.

Normélio Argenta e a esposa, Neusa, conseguiram comprar um terreno após convencerem o dono do lugar

Seus elogios e críticas são parecidos com os dos outros moradores pois, para eles, há paz no local, mas o calçamento prejudica muito a qualidade de vida, principalmente em dias de chuva. “Gosto de morar aqui, é silencioso, tranquilo, vizinhança boa. Não me arrependo de ter escolhido este lugar, vivemos realmente bem. O que estamos esperando é o asfalto que foi prometido, porque nos dias de chuva é até perigoso. Às vezes tínhamos que trazer as uvas, e era bem complicado subir com uma caminhonete. Essa é a única questão que gostaria que mudasse”, esclarece.

Também para Argenta, o local mudou muito com o tempo, e até hoje se surpreende ao olhar para trás e comparar. “Quando cheguei era vazio, e começou a encher de pessoas, todas do interior. Eu gosto como está agora, não que fosse ruim na época, porque era bom também. Mas é legal ver o lugar evoluindo”, aponta.

Já na rua Armindo Franzone, paralela à rua Portugal, sequer tem calçamento. A rua ainda é de chão batido. “Estamos esperando eles arrumarem a rua porque quando chove fica um lodo. Tinha que passar uma retroescavadeira e por umas britas para evitar o barro nos dias de chuva. É necessário roçar os matos. A rua está meio largada e isso nos deixa chateados, porque gostaríamos de ver bem cuidada”, explica a moradora Genovite Martins.

Ela mora há alguns anos no São Vendelino, e também veio do interior. “Minha mãe morava aqui, faz uns 18 anos que ela faleceu e continuei na propriedade. Viemos morar neste lugar porque meus irmãos achavam que minha mãe não tinha mais idade para viver na roça, e compraram essa casa”, relembra.

Rosimeri, de 59 anos, é professora aposentada e por muitos anos viveu no Paraná. A gaúcha decidiu voltar para o Rio Grande do Sul com a mãe, e Bento Gonçalves foi a cidade escolhida. “Escolhi este bairro porque nossa amiga tem essa casa, e viemos para cá, um lugar tranquilo onde poucas vezes tivemos problemas com roubos. Nesse sentido, é muito seguro, e o que houve foi um caso bem isolado”, conta.

Uma das mudanças que ela gostaria de ver é que o bairro tivesse uma entrada própria. “Quando fizeram o asfalto, nós temos que fazer a volta no São João, não temos um acesso próprio e isso dá um quilômetro a mais. E na rua de trás, a Portugal, quando chove, os carros patinam bastante, porque fica muito liso o calçamento”, diz.

A professora aposentada tem carro próprio, mas isso não a impede de observar que os ônibus deixam a desejar para os vizinhos que não têm veículo para se deslocarem. “Acredito que quem precisa do transporte público passa trabalho. As pessoas têm que ir até o São João pegar o ônibus, porque aqui não passa, e escutei moradores dizendo que é uma dificuldade”, salienta.

Verlaine Ribas deixou o extremo-oeste do estado em busca de novas oportunidades na Serra Gaúcha. “Viemos para Bento na intenção de melhorar de vida, já que na nossa terra é só agricultura. Gosto dessa cidade, o clima é muito bom. Começamos a trabalhar com produtos artesanais, pães, cucas, e tem dado muito certo. Costumo dizer que essa terra é abençoada”, elogia.

Verlaine Ribas acredita que a melhoria que o bairro necessita é que o Posto de Saúde utilize as salas que tem e abra à tarde

Ela conta a trajetória que teve com a família há sete anos, quando decidiram mudar para a Capital Nacional do Vinho. “Viemos sem nada para cá, e refazer uma vida é difícil, nem carro tínhamos na época. Hoje em dia só falta a nossa casa própria mesmo, porque estamos vivendo muito bem. Nossos produtos fazem sucesso onde levamos, e isso nos deixa muito felizes”, declara.

Apesar de gostar da cidade e do bairro, Verlaine confirma que há pontos que necessitam melhorar, como os horários dos ônibus e o posto de saúde. “O transporte público é precário, às vezes é preciso ir até o Centro e não se consegue porque são poucos horários. O “postinho” (de Saúde) no São João tem uma médica ótima, mas ele só abre pela manhã. Lá não tem pediatra também, e há muitas crianças por aqui. Tínhamos a farmácia pública e uma sala de vacina, que foi desativada. Então o posto tem diversas salas, mas não tem mais atendimento. Acho que essas mudanças são importantes para que o bairro fique ainda mais acessível para o povo”, avalia