Engana-se quem pensa que o lugar da mulher dentro do tradicionalismo está baseado apenas na dança, na arte de declamar ou tocar algum instrumento musical. Talvez, antigamente, essa era a visão e o entendimento. Afinal, o sexo feminino sempre esteve presente na história do Rio Grande do Sul. No início, eram obrigadas a ver seus esposos, pais, filhos e irmãos partirem para os campos de batalha sem saber se voltariam. Enquanto isso, assumiam o controle das estâncias, realizavam trabalhos que iam muito além dos afazeres domésticos e com o tempo, conquistaram um espaço diferente do qual estavam acostumadas. Passaram a tomar decisões e fazer escolhas para a subsistência de seus familiares. Hoje, a prenda, a mulher ocupa importante papel no tradicionalismo. Destaque para patroas e prendas que se destacam pelo trabalho desenvolvido em suas entidades tradicionalistas.

As primeiras prendas do Rio Grande do Sul, Renata da Silva e da 11ª Região Tradicionalista, Alice Picolotto, destacam a evolução do pensamento e a abertura do espaço destinado às mulheres dentro do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG).

Alice Picolotto. Foto: Arquivo Pessoal

Alice Picolotto – 1ª Prenda da 11ª Região Tradicionalista 2017/2018

Semanário: Qual é a importância da participação feminina no Movimento Tradicionalista Gaúcho?
Alice: Quando estudamos a história das nossas tradições, percebemos desde ali a importância da figura feminina. Elas já eram responsáveis pelas estâncias, pelo trabalho doméstico, pelos filhos e seguravam os pilares enquanto seus maridos defendiam essas terras nas batalhas. A junção da participação da mulher com a posição do homem, pode ser traduzida como sementes de fortalecimento para o Movimento. Ainda ressalto sobre não só a importância da mulher, mas também com isso, fortalecemos os ideias dignos defendidos pelo nosso povo.

Por que é tão difícil encontrarmos mulheres dirigindo entidades tradicionalistas?
Em um contexto geral, final da década de 40, início da década de 50, a mulher era vista com inferioridade. Elas começam a ganhar um pouco de voz na década de 60, onde tiveram direito ao voto. Dentro do tradicionalismo não foi diferente. Com o passar dos anos a mulher foi conquistando seu lugar e ainda continua nessa busca.

Há algum trabalho na região que incentive a participação feminina nos CTGs?
Um projeto específico voltado para isso ainda não. Existem iniciativas, com pessoas capacitadas, que explanam sobre esse assunto em oportunidades como palestras.

O que você espera dentro do Movimento, quanto à participação da mulher?
Tenho uma visão que a conquista da mulher pelo seu espaço é um progresso contínuo. O Movimento atende e responde a isso de forma positiva. Em um passo de igualdade entre gêneros, teremos um Movimento ainda mais fortalecido.

Qual é o seu papel e o pretendes mostrar na sua gestão, no que diz respeito ao espaço destinado à mulher no tradicionalismo?
Já são alguns anos de prendado que estão na bagagem e cada dia é um aprendizado. Hoje, posso afirmar que existe respeito e reconhecimento ao nosso espaço. Uma das principais ideias que me representa e as minhas atitudes se voltam a isso em relação a gestão, é a igualdade entre o nós. Tanto as prendas, quanto os peões, tanto as crianças, quanto os adultos. Ninguém precisa conquistar um espaço a mais que o outro.

 

Renata da Silva. Foto: Arquivo Pessoal

Renata da Silva – 1ª Prenda do Rio Grande do Sul 2017/2018

Semanário: Qual é o papel que a mulher desempenha atualmente para ampliar sua participação no tradicionalismo?
Renata: Atuo junto à juventude para motivar jovens prendas e peões a formarem as futuras lideranças do MTG. A mulher em nosso meio já foi sinônimo, apenas, de prenda de faixa e diretora cultural. Mas hoje, a realidade dos nossos CTG’s mostra que as mulheres podem e já ocupam cargos de maior expressão, como Patroas e Coordenadoras Regionais. Estimular essa participação mais efetiva, enquanto primeira prenda, orientar e inspirar os jovens de hoje a ocupar, cada vez mais, os espaços que lhe são oferecidos, é um papel muito importante que desempenho não apenas por ser uma responsabilidade do cargo, mas porque acredito que o Movimento nasceu pelas mãos dos jovens, e é aos jovens que ele é legado.

Hoje, há mais espaço para a mulher dentro da organização MTG?
Com certeza. Hoje dentre os cinco vice-presidentes do MTG, dois são do sexo feminino. Os dois últimos Congressos Tradicionalistas foram presididos por mulheres.

Na sua opinião, não está na hora do MTG ter uma mulher como presidente? O que falta para essa possibilidade vir a ser uma realidade?
O Movimento Tradicionalista Gaúcho está atravessando um período de mudanças onde estimulamos, principalmente, a retomada de consciência tradicionalista. Neste sentido, ter uma mulher no cargo máximo creio que seja uma realidade muito próxima.

Ainda há preconceito, quanto a participação feminina em direções dentro das entidades tradicionalistas? O que o MTG faz para dissipar esse tipo de postura?
Creio que o preconceito seja exatamente isso, um pré conceito. E que cabe a cada mulher, interessada em ocupar o espaço que está a sua disposição, mostrar seu trabalho e seu valor. A mulher no meio tradicionalista deixou de ser vista apenas como prenda de faixa para tornar-se referência de boas práticas, comprometimento e responsabilidade. Se ela deseja estar a frente de uma entidade, esse não é apenas um direito, é principalmente um dever para garantir que a sua entidade continue no caminho certo. A evolução da sociedade provou também que as mulheres podem ser auto suficientes quando necessário.