Local possui atrativos tanto para moradores quanto para empresários e turistas, o que motiva o surgimento de novos empreendimentos na localidade

O Cidade Alta fica localizado quase no fim da cidade, e é um local onde abriga pontos turísticos, como a Maria Fumaça e a Epopeia Italiana. Por conta disso, comerciantes e moradores alegam ver com frequência turistas passeando pelo bairro. Ainda, eles contam que a expansão comercial é uma realidade, mas que a falta de segurança os preocupa.

Empreendimentos no bairro

Os estabelecimentos do bairro são bastante variados, em poucos metros é capaz de encontrar farmácias, mercados e lojas. A Supervisora de vendas, Aline Arienti, trabalha em uma farmácia de manipulação há alguns anos e nota o porquê disso. “Acho que é um ótimo lugar para se ter um comércio. É uma localização privilegiada, se tem tanto o acesso das empresas daqui, quanto de quem vem de outras cidades para trabalhar e também porque é um bairro muito antigo de Bento. Justamente por isso, temos uma clientela bem fiel”, elenca.

Bianca Zanatt, Aline Arienti, Marceli Marques, Luisa Schmidt e Paula da Silva trabalham em uma farmácia do Cidade Alta

A farmácia já completa seus quase 20 anos, e durante todo esse período, já passou por mudanças de prédio, mas nunca de bairro, e um dos motivos para isso são os clientes. “Quem mora no bairro é cliente fiel, porém temos um grande fluxo também do pessoal de outros. Pois é fácil de estacionar, todas as ruas são área branca, sendo assim tem menos movimento e fácil acesso. Além disso, o comércio do Cidade Alta é bem diversificado, temos farmácia, lotérica, mercadinho”, reforça.
Aline relata que para o estabelecimento o ano tem sido bem agradável, e até mesmo diferente dos outros. “Acredito que as vendas estão boas, sinto que o pessoal começou a se programar mais cedo. Neste final de inverno e começo de primavera a nossa demanda aumentou muito. Parece que pessoas não quiseram deixar as coisas para última hora, sem falar que o calor deu uma adiantada e isso fez com que o pessoal quisesse se arrumar para o projeto verão”, constata.

Mas há questões que Aline se mostra preocupada, principalmente porque a situação já trouxe bastante prejuízos para a farmácia. “Vejo que tem pouco monitoramento aqui, por sermos uma saída da cidade já fomos assaltadas três vezes. Acredito que falte segurança principalmente para o comércio, até porque estamos do lado de bancos, e também estamos em um lugar estratégico pois é fácil fugir da cidade”, expõe.

Ela também sente dificuldade em encontrar colaboradores mais capacitados, e revela ainda faltam pessoas para fechar o quadro de funcionários. “Se encontra mão de obra qualificada, mas precisa-se garimpar muito. É bem difícil, estamos precisando de alguém na parte de atendimento desde o começo do ano. Sempre estou na deficiência de uma pessoa”, afirma.

Entretanto, ela entende também que existem outras razões para essa dificuldade, principalmente por que muitas pessoas, atualmente, não têm interesse de trabalhar de forma presencial. “Hoje em dia, é muito agradável para as pessoas não ter um horário fixo, flexibilidade de trabalhar de casa, fazer o seu horário. E isso é uma questão que a pandemia trouxe, que nós podemos trabalhar de casa e pensar em qualidade de vida e saúde. E que as vezes dentro de uma empresa onde precisa-se cumprir uma jornada de trabalho, as pessoas preferem a outra opção”, indica.

Além de que, ela acredita ser necessário manter um bom local de trabalho, pensando na qualidade de vida dos colaboradores, para que assim, sempre tenham profissionais bem estimulados. “Temos uma personal trainer que vem duas vezes na semana, temos horários mais flexíveis onde podemos negociar com os colaboradores. Prezamos muito pelo endomarketing na farmácia. Temos uma relação com nossos funcionários que identificamos como um canal livre, sabemos que ficamos mais tempo na loja do que na própria casa, então precisamos tornar este espaço aconchegante”, declara.

Ivani Detoni alega que 2023 não está sendo um bom ano para o comércio

Ivani De Toni sempre teve o sonho em empreender, sonhava com uma bela esquina localizada na Cidade Alta, e logo que ela surgiu, pode aluga-la. Em 2023 o estabelecimento completou cinco anos, um mercado gourmet, local onde vende alimentos diferenciados. Porém, este ano Ivani sentiu uma diferença na economia. “As vendas deram uma caída. Acredito que o fator tenha sido político, o pessoal tem cuidado mais onde vai gastar o dinheiro. Todo mundo muito incerto, gastando o mínimo. Mas isso foi geral, muitos comerciantes estão reclamando disso também”, ela ainda complemente que “Em comparação ao ano passado, acredito que tenha sido de 20 a 30% a baixa. E isso nos preocupa, temos aluguel, os gastos da loja e precisamos fazer o giro. O pessoal estava se virando, trabalhando e agora parece que estagnou tudo”, alerta.

Fora a preocupação que ela anda tendo com a economia, Ivani não sente nenhum outro problema que possa deixa-la apreensiva. “Não vejo nenhuma parte negativa em empreender aqui, os vizinhos são muito bons, não me imagino em outro local. Os clientes são muito gentis também, tudo aqui no bairro tem me deixado muito feliz e o feedback deles são sempre muito positivos”, comemora.

Comércio gastronômico

Outra aspecto que se nota pelo bairro é a extensa quantidade de estabelecimentos para almoçar ou fazer lanches. Diversos restaurantes são espalhados pelas ruas, e uma das razões é o número de turistas que passam pelo bairro para fazer suas refeições. Além de que, este ano ocorrerá pela segunda vez o Festival Degusta, onde juntam diversos estabelecimentos em uma feira ao ar livre.

Silmara Oliveira é gerente de um restaurante que atua há 20 anos no Cidade Alta, ela nota uma crescente na economia neste ramo. “Não podemos reclamar do movimento, na pandemia baixou um pouco, mas desde que ela acabou aumentou bastante. O comércio tem crescido muito no bairro, por ser uma cidade turística, a tendência é cada dia crescer mais. Tem turistas de muitos lugares, principalmente aqui do estado, mas antes da pandemia eram mais pessoas de longe do que perto”, explica.

Gerente de restaurante, Silmara Oliveira, acredita que para se ter mão de obra qualificada é preciso remunerar bem os funcionários

Ela trabalha há alguns anos como gerente no local, e não consegue trazer muitos pontos negativos de lá, entretanto, há uma situação que ela vem notando ao longo desse tempo. “Falta estacionamento, principalmente quando os turistas vêm de ônibus, não tem onde parar. Porque como é área branca, as vezes não tem rotatividade. Estamos em contato com a prefeitura para tentarmos ajustar essa questão”, pontua.

Silmara acredita que seja importante valorizar os colaboradores que estão junto no dia a dia. E tampouco, acha impossível encontrar pessoas capacitadas. “Não acredito que seja difícil achar pessoas boas para trabalhar. As vezes final de semana é mais complicado, mas não tenho do que reclamar. E outra coisa, a forma que tratamos e pagamos as pessoas tem grande influência, não dá para pagar pouco e tratar mal e exigir que teu funcionário seja o melhor”, frisa.

Dentre estes estabelecimentos, há uma loja de cookies entre outros doces. Jessica Minusso é a proprietária, e já passou por algumas dificuldades por conta da pandemia, onde teve que fechar alguns comércios que já tinha e ficou apenas com o delivery. Entretanto, 2023 tem sido bem diferente. “Tínhamos um café, e durante a covid passamos atender só com delivery e fábrica. Em 2022 surgiu a oportunidade de abrir nosso comércio de novo. E este ano foi muito bom em questão de vendas, setembro foi um mês atípico, mas em geral tem sido um ano onde estamos crescendo bastante”, elenca.
Jéssica decidiu seguir investindo no Cidade Alta, bairro o qual já tinha escolhido para ser um de seus comércios anteriores. “Adoro aqui, os moradores acolhem muito os novos empreendimentos que fazem parte. Com o passar do tempo, teve um aumento no ramo alimentício. Temos um evento chamado Degusta aqui na Cidade Alta e estamos indo para a segunda edição. Acontece na rua, é fechada toda a quadra e todos os estabelecimentos de alimentação montam suas barraquinhas na rua, e ano passado tivemos um público de cinco mil e este ano estamos esperando dez mil”, enaltece.

Há apenas uma coisa que a preocupa em relação ao Cidade Alta, gostaria que por lá tivesse mais monitoramento da polícia. “Temos situações de roubos e pequenos furtos, então o bairro tem muitos atrativos, mas na questão de segurança deixa muito a desejar. Acredito então que fosse necessário ter mais segurança aqui”, indica.

Moradores

O Cidade Alta é conhecido por ser antigo, portanto, muitos moradores estão lá há muitos anos. Já outros, se aproximam pelos encantos que existem, como a igreja, os pontos turísticos ou o farto comércio. Nathalia Andrade cresceu no local, e tem bastante carinho, além de achar que é um bom lugar para viver. “É um bairro bem tranquilo, com um olhar turístico bem forte. Quem mora aqui, sabe que sempre vai ter turistas e pessoas novas. É uma comunidade que acaba abraçando esse lado mais turístico. Além disso, gosto daqui porque é um bairro bem arborizado, é moderno e tem um bom comércio, então acaba se tornando um segundo Centro”, ressalta.

Nathalia Andrade gosta bastante do bairro, mas acredita que a segurança precisa melhorar


Ela nota um comércio diverso, que cresce cada dia mais, e crê que esta seja uma das heranças do aumento do turismo no bairro. “Por ser próximo a Maria Fumaça, o comercio local passou a se estabelecer perto dela para que os turistas possam ter acesso a cultura da cidade”, reconhece.
Assim como outras pessoas, Nathalia fica receosa por conta da segurança, e sente que seria necessário mais monitoramento. “A partir de alguns horários, acaba não tendo movimento algum. Então tem uma certa insegurança, às nove horas da noite não tem nada. Muitas vezes não me sinto segura de vir até o mercado a noite porque sequer tem segurança na praça. Também acontece que alguns restaurantes fecham cedo ou não abrem em alguns dias da semana e acabamos ficando com medo”, confessa.

Liani Braun era moradora de Porto Alegre, e após o marido ser transferido para Bento Gonçalves ela passou a morar na cidade e escolheu o Cidade Alta para viver. Em nada se arrepende da decisão que tomou, já que gosta de diversos pontos do local. “É um bairro com um acesso muito bom, próximo ao Centro, um comércio forte, temos a igreja, lojas, farmácias. O shopping não é longe, dá para ir a pé. Ele supre as nossas necessidades diárias”, relata.

Ela acredita também que o local está cada dia melhor, e com pessoas novas todos os dias. “Para caminhadas é muito bom porque é uma parte da cidade mais plana, as praças que estão sempre movimentadas, principalmente nos finais de semana. Tem a Maria Fumaça, a epopeia, vejo muitos turistas aqui, tanto durante o final de semana quanto durante a semana”, sugere.

A única coisa que ela considera um ponto negativo é o trânsito próximo a sua casa. “O que me incomoda aqui é o barulho, porque como moro bem em uma esquina, tem bastante movimento de carro. Mas não me afeta muito no dia a dia, é só uma questão o barulho do trânsito”, finaliza.

Casa do Artesão e do Artista Plástico

Um dos pontos que existe no bairro próximo a Maria Fumaça é a Casa do Artesão e do Artista Plástico, um espaço físico cedido pela Prefeitura que reúne em média 80 artistas plásticos e artesãos de Bento Gonçalves. “O intuito da Casa do Artesão surgiu por conta de Bento ser uma cidade turística. E acontece que o artesanato estava muito fragmentado e haviam reclamações, e exposições nas ruas e sempre grupos separados. Porém, a prefeitura teve que desapropriar uma casa que ficava próximo à estação do trem. E a partir disso, foi pensado que as artes e o artesanato precisavam de um lugar. E como a emergência surgiu com o artesanato, a casa foi criada com este intuito, de abrigar e dar uma localização para o artesanato e a artes de forma organizada”, explica a Presidenta da Casa do Artesão e do Artista Plástico, Ivete Todeschini Menegotto.

Sérgio Salvatti é o atual tesoureiro da Casa, após se aposentar se viu sem proposito e a Casa o ajudou com isso. “Me aposentei e não consegui ficar parado, e comecei a fazer artesanato. E ali fui me encontrando e deixando de ficar na ociosidade e me dei bem. Todos que trabalham aqui tiveram uma história parecida, e podem conversar entre si ou os turistas, vendem seus produtos. O pessoal que conversei aqui da Casa não estavam satisfeito com a vida que levavam antes. E aqui nós brincamos, rimos e nos divertimos”, declara.