Este é um caso típico. Após décadas de serviços prestados para as mães, o ovo foi colocado no banco dos réus e, depois de julgado e condenado em segunda instância, ficou em prisão domiciliar. Mais tarde, sua inocência foi proclamada. “Ovacionado”, ele voltou a reinar nas mesas. Mas não durou. Em novo ataque, só não perdeu a cabeça porque não tinha.

 O ovo não mudou. Continua guardando clara e gema, que até já estiveram numa mesma novela… Mas os conceitos, como mudam! Ora você pode comer até oito ovos por dia, pois é um alimento cheio de nutrientes, ora, um ovo dia sim, dia não, porque as artérias não aguentariam tanto colesterol.

Não é por nada que esse polêmico personagem se tornou celebridade, servindo até à arte. Mãos famosas como as de Tarcila do Amaral pintaram “O Ovo” – 1928 –, e cabeças iluminadas como a de Caio Fernando de Abreu e Clarice Lispector traduziram em palavras suas emoções em “O Ovo Apunhalado” – 1975 – e “O Ovo e a Galinha” – 1964 – respectivamente.

Voltando à nossa figura cascuda, graças ao doce coelhinho da Páscoa, o ovo ganhou contornos diversos. E o mito pagão/cristão, que iniciou na Idade Média, foi se transformando até tingir o ovo de cor e sabor.

Tudo bem? Nem pensar!  O chocolate também foi para o banco dos réus, acusado de ter grande concentração de açúcares e gordura. Pego com a boca na botija, ele delatou o vinho, seu fiel companheiro, que acabou se safando por apresentar polifenóis em sua composição. Grande conquista experimentada pelos amantes de Bacco.

Mas os conceitos mudam, não é verdade? E o chocolate foi liberado ao assinar um Termo de Conduta, garantindo antioxidantes através do uso de 70% de cacau. Chocólatras comemoraram, tapando um olho para a recomendação de consumo diário de apenas trinta gramas. Nessa disputa, outro elemento suspeito acabou indiciado: o chocolate branco, cuja identidade foi revelada: manteiga de cacau e açúcares.

A democracia permite que cada um adoce a vida como melhor lhe aprouver. De minha parte, aderi à pasta de amendoim integral sem aditivos. Mas ando com a pulga atrás da orelha… Comenta-se nos bastidores que dois fungos, o Aspergillus flavus eo Aspergillus parasiticus, adoram essa matéria-prima, o que significa grande risco à saúde pública. Estou prevendo uma nova operação policial que se chamará “Amendoinário” (desdobramento da “Salteagarra” e “Gordura Exposta”), que poderá levar a pasta contaminada ao banco dos réus.

“Fala sério, mano!”