Situado no mesmo bairro onde está a Embrapa Uva e Vinho, e o antigo estádio Montanha dos Vinhedos bairro é elogiado pelo comércio que se expande

O Juventude da Enologia é um bairro próximo do centro e de diversos pontos importantes de Bento Gonçalves, como a Embrapa Uva e Vinho, Corpo de Bombeiros e o Instituto Federal de Educação do Rio Grande do Sul. Os moradores elogiam a expansão comercial do local, ao longo da avenida Oswaldo Aranha, além da tranquilidade. Por outro lado, há os que se preocupam com a segurança e alertam que, em algumas ruas, o bairro tende a ser perigoso.

A técnica em enfermagem Jaqueline Costa Schizzi, 57 anos, trabalha com jardinagem e produz mudas de suculentas. Quando tem tempo, ainda produz conteúdos de vídeo para seu canal do Youtube. “Uma amiga me presenteou com uma dúzia de mudas, e aí fui comprando, cuidando, vendendo, e hoje, produzo e vendo suculentas para vários lugares do Brasil, mas também tenho muitos clientes aqui da cidade”, explica.

Jaqueline diz que descobriu sua vocação entre as suculentas


A história de Jaqueline se confunde com as mudas que recebeu, porque se descobriu apaixonada pelo que, no início, nem imaginava que podia ser a sua principal atividade. “É a minha vida, gosto muito!. Vou reproduzindo, comprando espécies, arrumo um jeitinho para colocar todas as minhas plantinhas no espaço que tenho. Meu plano futuro é abrir uma estufa em um local maior”, anuncia.

As plantas ficam sobre laje na cobertura da casa, e todos que passam pela rua podem enxergar as suculentas de Jaqueline. “Entram muito em contato comigo pelas redes sociais, enquanto outros enxergam e vêm aqui. Estes dias um senhor da Bahia passou na rua e viu o meu jardim. Ele veio aqui e comprou uma”, contou.

Ela descobriu não só sua vocação, mas também o que lhe realiza. “Quando mando a caixa da felicidade (várias mudas de suculentas), a pessoa recebe com todo carinho, pois envio com uma dedicatória, organizo a caixa de forma bonita. E quando eles mandam foto me sinto realizada em ver que ficam felizes”, declara.

A profissão, além de trabalhosa, também costuma ser cara, mas sempre acaba lhe rendendo o dobro do que investiu. “As minhas plantas vêm de vários lugares, tenho plantas de R$ 200 a R$ 400, dependendo da qualidade ela é cara, mas sempre dão retorno. Uma planta de R$ 200 pode dar pelo menos duas mudas. O que acontece é que as pessoas colecionam suculentas, já que existem várias espécies. Então, cada cada variedade que ela tem é valorizada”, salienta.

Há anos Jaqueline mora no Juventude da Enologia, e sequer consegue pensar em qualquer defeito que possa existir no bairro. “É maravilhoso viver aqui, me dou muito bem com todos os meus vizinhos. Inclusive, muitos me ajudam no meu trabalho com as suculentas. Com frequência eles aparecem na minha casa com potinhos e espaços que posso usar como vaso para as plantas”, destaca.

Comércio

Parte da avenida Oswaldo Aranha passa pela Enologia, o que faz com que o comércio seja bastante variado e muito movimentado. Muitas pessoas, inclusive, escolhem a região, para morar, pela proximidade com grandes estabelecimentos comerciais, como Carlos Paese, 56 anos, comerciário há pelo menos duas décadas. “A oportunidade era trabalhar com tintas e gostei da ideia. Comecei no bairro São Francisco, mas então vim para a Oswaldo Aranha e aqui estamos, já há 17 anos. Trabalhamos com tintas automotivas e prediais, e isso nos fez procurar a avenida localizada aqui no Juventude”, explica o comerciante.

Ele se mantém fiel ao bairro e à avenida em que se estabeleceu, e diz que é um bom lugar para o seu tipo de negócio. “Tem muito movimento, tanto de pessoas quanto de carros, a visibilidade é bem grande. Aqui passa gente de todos os lugares, sem contar que possui muitos moradores também. É fácil de empreender aqui, porque temos diversas lojas, mercados, padarias, e isso facilita para quem está comprando”, ressalta.

Paese acrescenta que a economia não está em sua melhor fase por causa dos desastres ambientais recentes. “Este ano está sendo meio complicado, a gente está pagando as contas, mas todos esses problemas da chuva, essa desgraça toda com nossos vizinhos, prejudicou bastante o movimento. Quem vi vive da agricultura também que não está indo muito bem, mas vamos sobreviver a 2023”, projeta, com otimismo.

A comerciante Maria Inês Sgarioni, 60 anos, antes de abrir sua loja, há 10 anos, vendia suas roupas de porta em porta e, com o passar do tempo, realizou o sonho de abrir seu próprio estabelecimento. “Encontrei um aluguel aqui na Oswaldo Aranha com preço bom. É uma avenida com bastante movimento, daí não pensei duas vezes. Todos os dias passam muitas pessoas, é isso dá visibilidade para loja, para a nossa vitrine, esta é a melhor parte de ter um comércio aqui”, aponta ela.

Maria Inês Sgarioni, comerciante, abriu sua loja há 10 anos na Osvaldo Aranha

Com o aumento do número de lojas e de pessoas, Maria Inês diz que são necessários investimentos para facilitar a vida das pessoas. “É cada vez menos espaço para estacionar, as vagas que existem se tornaram insuficientes, principalmente porque o estacionamento não é cobrado, deveria ser azul para ter mais rotatividade”, avalia.

Assim como Paese, ela se preocupa com a economia, e diz que neste ano enfrentou dificuldades. “Em função das mudanças econômicas, do sistema, das guerras, o comércio está mais retraído. As vendas ficaram mais reduzidas mas, ainda sim, vamos sobrevivendo. Podia estar melhor, só que o povo está muito inseguro e nós, os lojistas, também”, completa.

Felipe Ticiane, 27 anos, é empreendedor e gerente de uma loja de suplementos, que por muito tempo funcionou no centro da cidade. “Achamos conveniente mudar para cá porque estamos em meio às academias. Além disso, o fluxo de pessoas é muito grande, porque elas estão fugindo da área central, onde não conseguem estacionar”, comenta.

Ticiane sustenta que a troca de endereço fez a loja se desenvolver. “Aqui facilitou porque temos estacionamento na frente e o consumidor vem porque quer comprar, e não por que é curioso. Para nós, aumentou em 30% o faturamento desde que mudamos para o novo endereço. O comércio está aumentando na Oswaldo Aranha, enquanto no centro está esvaziando”, observa,
Diferente dos outros empreendedores, o empresário garante que 2023 está sendo muito bom, sob o ponto de vista financeiro. “Este ano está superando as nossas expectativas, está indo muito bem, graças a Deus. Criamos um plano de metas para o ano e superamos todas elas”, comemora.

Moradores

Lisete Tasca, artesã aposentada, de 66 anos, mora no Juventude da Enologia há 13 anos. Ela alimentou o desejo de morar no bairro por longo tempo, até que encontrou a casa na qual que reside atualmente. “Adoro este lugar, acho um bairro próximo de tudo, como farmácias, mercados e lojas, dá para ir ao centro a pé. Além disso, é um bairro aconchegante. Antes de morar aqui, passava nesta rua e sempre me chamava a atenção, até que vi esta casa para vender e não pensei duas vezes”, afirma.

Lisete Tasca sonhava com a casa na qual, atualmente, mora no Juventude

Ela ressalta que com o passar dos anos, porém, o bairro ficou mais perigoso. “A parte de segurança está diferente nestes últimos 13 anos. Precisamos ter mais cuidado ao andar na rua. Até já vimos pessoas sendo assaltadas, o que não é mais frequente porque a polícia faz rondas frequentemente. Não diria que falta muita coisa para melhorar, a não ser a parte da segurança. Os governantes cuidam bem do nosso bairro, onde temos de tudo”, destaca.

Nelson Tusset, marceneiro, chegou ao Juventude com 27 anos e mora no bairro há cinco décadas, com a esposa Rosa Maria Tuset. “E já tinha um terreno aqui, e quando casamos, há 50 anos, mudamos e permanecemos no bairro porque gostamos. Antes ele era bem menos moradias, ao contrário de agora, quando são poucos os terrenos sem casas. O Juventude cresceu muito com o passar dos anos”, considera.

O casal Nelson e Rosa Maria Tusset, vive há 50 anos no bairro

Diferente de Lisete, ele não acha que o bairro é perigoso, pelo contrário. Tusset e a esposa garantem que se sentem tranquilos. “Achamos seguro, nunca assaltaram nossa casa e não tivemos nenhum tipo de problema. O comércio é forte, com mercados, farmácias e lojas. Neste sentido também estamos bem assistidos”, assegura.

Já Alan de Melo se mudou recentemente, há três meses, para o Juventude. Vindo da pacata São Borja, ele se preocupa com a rua onde está morando. “É um lugar por onde passam muitos usuários de drogas. O portão jamais pode ficar aberto, já que viram as lixeiras e querem entrar nos pátios. A orientação dos moradores é não deixar nada fora de casa, e a maioria dos vizinhos usa cerca elétrica”, diz.

Mesmo assim, garante que gosta da localização pela proximidade com o comércio. “É próximo do centro e encontramos uma casa com espaço e com um pátio bom para as crianças. Gosto muito daqui porque é um bairro calmo, tem mais movimento por causa da universidade, mas isso só à noite”, afirma ele.

Fotos: Renata Carvalho