O Jardim Glória, ainda que não tão grande em tamanho, tem fácil acesso para diversos outros bairros de Bento Gonçalves, onde são comuns notícias de assalto, homicídio e tráfico de drogas. É por isso que, os moradores, embora afirmem gostar do local que escolheram para morar, pedem, em primeiro lugar, o aumento da segurança.

O mecânico Tiago Ben, 35 anos, mora com os pais, no bairro, desde que nasceu. Além da residência, a família é proprietária de uma mecânica, instalada no mesmo local e que já foi alvo de assalto inúmeras vezes, motivo pelo qual o jovem diz que a segurança está deixando a desejar.

Tiago Ben queixa-se da pouca presença policial nas ruas do bairro

Ben afirma que a circulação de viaturas policias pelo Jardim Glória até ocorre, mas de forma muito esporádica. “Aqui é bem raro ver a polícia passando, as vezes passa sim, mas é bem difícil. Se a segurança realmente fosse boa, a gente ia ver uma viatura passando aqui a cada quinze minutos”, aponta.

O mecânico acredita que o ideal para coibir ações criminosas, seria aumentar o fluxo de policiais monitorando a cidade. “Se tivesse duas viaturas por bairro, fazendo rondas diárias, ia evitar assaltos. Não culpo os policiais, quem tem que fazer projetos de melhorias de segurança é a prefeitura, os órgãos públicos, mas eles não dão importância”, lamenta.

A aposentada Vera Lucia do Rosário da Cruz, 54 anos, mora no bairro há 29 anos. Ela relata que escolheu morar lá justamente porque, antigamente, era um local calmo e tranquilo. “Mudou muito de lá para cá, não existe mais aquela tranquilidade que tínhamos antes. Agora, não dá para deixar nada aqui fora porque levam embora”, aponta.

Vera Lucia do Rosário da Cruz lamenta que não pode deixar nada fora de casa

Vera relata que, para evitar maiores problemas, conta com uma ajuda especial no reforço da segurança: o pet. “Ainda bem que temos um guardinha, o nosso cachorro, que cuida da casa e não deixa muita gente chegar aqui perto, porque ele avisa quando se aproximam”, conta.

O educador físico Adriano Pocai, 35 anos, que trabalha na academia do bairro, tem a mesma opinião dos demais. “É preciso ter uma frequência de carros de polícia circulando, seria importante. Como é um bairro que norteia outros, como o Conceição e Municipal, que são um pouco mais pesados, ia dar medo no pessoal”, afirma.

O empreendimento no qual trabalha nunca sofreu assalto, entretanto, pensando em impedir que ocorra, foi contratado um segurança particular para fazer a vigília do local durante o turno da noite. “Na academia nunca aconteceu nada, mas contratamos já para evitar”, esclarece.

Posto de saúde: outra solicitação

A aposentada Ivanilse Fantin Stringheni, 75 anos, mora com o marido, Avelino Stringheni, 81 anos, há quase quatro décadas no Jardim Glória. Foi neste bairro que o casal criou o trio de filhos, que já são adultos: Jair, 54 anos, Volnei, 51 anos e Sidnei, 48 anos.

Proprietária de um salão de beleza que fica na residência, Ivanilse passou a vida se dedicando a cuidar da beleza da clientela, enquanto o marido, também aposentado, trabalhava como porteiro de uma escola da cidade.

Ivanilse Fantin Stringheni sente falta de um posto de saúde no bairro

Hoje, ela afirma que parou de trabalhar por causa da pandemia do coronavírus e por um problema no braço. Ainda assim, mesmo contrariando os filhos, que pedem que a mãe descanse, vez ou outra, ainda atende algumas pessoas. “Só as mais conhecidas”, frisa.

Apaixonada pela profissão que adotou para a vida, Ivanilse destaca que quando trabalha, se sente muito melhor. “Tentei deixar, mas não consigo. Os filhos dizem que já fiz minha parte e pedem que eu pare, mas nos dias que trabalho, sou outra pessoa, gosto muito do meu serviço”, reforça.

Quando o assunto é o bairro, Ivanilse acredita que, um posto de saúde faz falta para os moradores. “Precisa e não tem aqui. O mais perto é o 24 horas (referindo-se à Unidade de Pronto Atendimento, a UPA, do bairro Botafogo) ”, conta.

Embora tenha plano de saúde na rede particular, ela acredita que um posto facilitaria, no caso de uma situação grave. “Se tivesse um aqui, seria muito bom. Tenho Tacchimed, mas para nós, em uma urgência, em vez de correr até o hospital, teríamos um lugar mais perto para atendimento”, analisa.

Por trabalhar na academia do bairro, o educador físico Adriano Pocai conhece muitos moradores, por isso, também defende a diferença que faria se o Jardim Glória ganhasse um posto de saúde. “Muita gente se desloca até a UPA. O pessoal que tem mais idade, quando tem que fazer um exame, têm que ir para lá”, afirma.

Pocai acrescenta que tornaria mais prática a vida dos moradores, principalmente daqueles que já tem idade mais avançada. “De repente não precisa ter muitos atendimentos, mas para agendar exames sem precisar se deslocar até UPA. Além disso, como é um bairro com vários idosos, ia facilitar”, conclui.

A reclamação é a mesma da Vera Lucia do Rosário da Cruz. Quando precisa de atendimento, ela tem que se deslocar até o bairro Municipal. Para complicar, ela relata que o transporte público que se deslocava até lá, não passa mais. “Temos que ir a pé, tinha ônibus, agora também não tem mais, desde a pandemia nunca mais apareceu, está difícil até de conseguir uma consulta”, reclama.

Limpeza das ruas deixa a desejar

Natural do município de Cruz Alta, a balconista de padaria, Vera Lucia Mello, 51 anos, mora no Jardim Glória há 20 anos. Ela afirma que o final da rua Caxias do Sul está esquecido. “Lá para baixo não estão nem aí, é uma bagunça”, queixa-se.

Vera Lucia Mello afirma que rua onde mora está abandonada

A maior reclamação da Vera é referente a sujeira em que as vias se encontram. “Lá no final da rua tem cerca de 200 famílias e só uma lixeira para todos usarem, que seria suficiente para atender no máximo dez famílias”, relata.

De acordo com Vera, várias vezes foi registrada reclamação para o poder público, mas em vão. “Reclamamos várias vezes, já fomos lá e nada é feito, não resolvem. Nem lixeira dão para nós”, afirma.

Na rua Caxias do Sul, moradores colocaram cartaz pedindo que não seja jogado lixo no chão

Já o morador Tiago Ben, afirma que é complicado ver a quantidade de sujeira jogada. Contudo, acredita que para reverter a situação é necessário ter fiscalização. “O que falta é fiscalização. Cadê? Não tem. Existe lei desde 1952 para não jogarem lixo nas ruas, sob pena de multa, só que a lei não é cumprida”, afirma.

Entretanto, Ben acredita que não é necessário penalizar com multa em dinheiro, mas de outras maneiras. “Dependendo da infração que a pessoa comete, por exemplo, para quem jogar lixo na rua, uma pena de um ou dois meses trabalhando na reciclagem ou fazendo serviço comunitário. Se fosse assim, duvido que iam continuar”, analisa.

Na rua Lazaro Giordani, até móveis foram descartados de forma irregular

Reciclagem: um trabalho que nunca para

A reciclagem do Jardim Glória foi criada há aproximadamente 20 anos. Lá, todo trabalho de separação do lixo é feito por cerca de 16 pessoas, de acordo com a coordenadora, Joice Samira Correa, 36 anos.

Joice afirma que os moradores do bairro estão se tornando cada vez mais conscientes e colaborativos. “Vários vizinhos vêm aqui e fazem doação de material separado, isso é muito importante para nós e tem nos ajudado bastante”, comemora.

Coordenadora da reciclagem, Joice Samira Correa espera que aumente a consciência ambiental

Entretanto, essa mesma realidade não é encontrada em outros bairros. É por isso que ela acredita na importância de ações de conscientização. “Era feito um trabalho muito bonito pela secretaria de meio ambiente, fui voluntária várias vezes e ajudei na entrega de santinhos para fazer a conscientização. Agora deve ter parado por causa da pandemia, mas espero que logo retorne”, pede.

Para os próximos meses de 2021, a expectativa dela é que a consciência ambiental cresça ainda mais. “Esse ano, espero que sejam feitas várias ações, para ajudar e para que possamos continuar com esse trabalho, porque a gente não parou na pandemia, a gente nunca para”, enfatiza.

Espiritualidade é a palavra chave no bairro

O Padre Gilmar Paulo Marchesini aponta que a participação dos moradores na parte religiosa sempre foi muito grande. “Seja nas missas, nos encontros extras do grupo de oração. Também há bom envolvimento das zeladoras, dos ministros, nas visitas aos doentes que são realizadas naquela comunidade e também na parte social dos eventos”, menciona.

De acordo com o padre Gilmar, entre as diversas festas realizadas pelos moradores, a que considera mais importante é a do padroeiro. “Embora tenhamos muitas outras dentro da comunidade, sempre no terceiro final de semana de junho acontece a de São Luis”, destaca.

Em junho é realizada a festa de São Luis, padroeiro da comunidade

Outro destaque do padre é referente ao ano de 2014, quando foi inaugurada a Igreja de São Luis. “Com lugar para a catequese e também espaço próprio para os velórios da comunidade. Esse momento foi muito importante para a comunidade, pois possibilitou que acontecessem diversas coisas positivas, como encontros, novas dinâmicas na liturgia e nos cantos”, frisa.

A espiritualidade dos moradores também é elogiada por Marchesini. “É um povo que gosta de rezar muito, de participar das missas, das celebrações da palavra, dos terços. Todas as quintas-feiras eles têm o grupo de oração, onde se encontram e rezam por conta. Tem as novenas que são realizadas nas famílias, a presença de uma equipe que ajuda nos momentos dos velórios e também o envolvimento nas demais questões do bairro”, salienta.