A tão falada e, por muitas vezes, condenada ação de deixar a votação de projetos polêmicos na última sessão do ano parece ter chegado a Bento Gonçalves. Quem teve a oportunidade de acompanhar a sessão da sexta-feira, 27, viu que muita coisa entrou no chamado sopetão e poderia ter esperado um pouco. Mas não, a ordem é aproveitar o momento e evitar questionamentos futuros sobre o que foi realizado ainda em 2013. Afinal, agora todos saem de férias e, quando fevereiro chegar, o povo, sempre ele, já terá esquecido dos fatos.
É sempre assim, em Brasília, em Porto Alegre ou Bento Gonçalves. Na Câmara dos Deputados ou na Câmara de Vereadores. Afinal, um projeto tão importante como o novo Código Tributário do município precisaria ser melhor discutido antes de ir à votação. Pois nem uma audiência pública para respaldar este ato foi realizada. E, o pior de tudo, é vermos alguns de nossos representantes dando parecer favorável a estas mudanças sem nem ao menos saber qual o conteúdo do documento. A oposição até tentou impedir a aprovação do projeto, porém foi esmagada pela ala governista que, atualmente, tem o apoio fiel de partidos que ainda não estão na base, mas tem promessa de gratidão a partir do ano que vem.
Além disso, assistimos a um verdadeiro trem da alegria passando pelos demais projetos aprovados na sessão. Enquanto o reajuste de 2% aos servidores era recebido com muito contragosto pelos representantes que estavam na Câmara, este mesmo grupo assistia aos vereadores aprovarem um generoso reajuste de 57,2% nos vencimentos do chefe de gabinete de Imprensa da prefeitura. Algo em torno de R$ 1.800 a mais para um CC, como “presente de Natal”, e sob a justificativa de que era uma responsabilidade social do poder público que o ocupante do cargo comissionado passasse a ganhar mais em 2014.
O pior é que, como no resto do Brasil, a indignação é de poucos. A população assiste de forma passiva as manobras políticas que são realizadas por vereadores, prefeitos, deputados e governadores sem que nenhuma atitude seja tomada. As marchas pela moralidade, pelo menos aqui em Bento Gonçalves, serviram apenas de modismo. Tornaram-se um factoide.
Afinal, o projeto Vem pra Câmara BG tem quantos integrantes ainda acompanhando as sessões do Legislativo? Não enchem uma das mãos. Alguns abnegados ainda permanecem, como se estivessem querendo mostrar que estão fazendo a sua parte. O problema todo é que é muito mais fácil protestar em redes sociais, onde não se é atingido, do que enfrentar o problema de forma real e mostrar, in loco, a sua indginação e contrariedade com o que está acontecendo.
Infelizmente, a demagogia faz parte da cultura do povo brasileiro. E, para nossa infelicidade, em Bento Gonçalves isto não é diferente. Mais um ano se vai e com ele a esperança de que algo mudasse. Enquanto nós, população, ficamos rindo daquilo que nossos representantes políticos fazem, a chamda “farra do boi” vai continuar. Mais do que isso, teremos mais e mais políticos fazendo de conta que estão legislando e não apenas esperando que o salário do mês caia na conta.
Neste final de 2013, se você tiver um tempinho, experimente ver quanto de salário o seu vereador recebeu em 12 meses e quantos projetos ele apresentou e descubra você mesmo se o custo benefício está realmente valendo a pena. Apesar de tudo, desejamos um feliz 2014 a todos.