Já tentei fazer um pouco de tudo nessa vida. Talvez, não com tanto esmero, mas fiz o que eu podia, com o que eu tinha. Não quer dizer que usei todo o meu esforço e dedicação. Mas era o que eu podia, com o que eu tinha.


Já fui a menina estudiosa, que queria ter as respostas na ponta da língua. Depois cansei de ser essa menina, porque ninguém se interessava por mim, afinal, eu era só uma menina tentando ser inteligente, sem malícia, sem corpo, sem vaidade. E é muito triste crescer em um mundo onde uma foto de biquíni chama mais atenção do que um trabalho seu. Aprender isso, na prática, é pior ainda. Você se torna uma menina meio inteligente que tenta ser uma gostosa, e no fim alguém sem autoestima.
Já fui a menina que queria casar, ‘eu, você, dois filhos e um cachorro’. Depois percebi que era só uma música mesmo e que a história não é igual para todos. Doeu, ainda dói, mas melhor uma mão na teta, do que duas no sutiã.


Já fui baladeira, perdi alguns anos de vida – se é que me entendem – conheci muita gente legal e tive muitas experiências incríveis. Mas essa não é uma vida que eu levaria para sempre, porque além de ser muito equilibrada, me entedio fácil e, convenhamos, é uma vida que não te leva a lugar nenhum, a não ser à falência financeira, emocional e física.


Já fui caseira, zero vontade de socializar, sair, ir no mercado, e até visitar a família. Sabe aquele dia que você finge que já está dormindo – mas são apenas 18h, e ignora qualquer mensagem no celular? Você “fica na sua”, enquanto ainda há vestígios de uma sonhadora, pensando que alguém irá bater na sua porta, ou mandar aquela mensagem “inesperada”, e te salvar da torre mais alta do castelo. Todo esse esforço é em vão, porque poderíamos estar colocando essa energia em algo que realmente seria bom para a gente. Mas essa também não é uma vida que eu levaria para sempre, porque no fundo você não está conectado consigo, só está procrastinando mesmo, e esperando alguém ter pena de você, e ninguém tem – seria horrível se tivesse também.


Já fui mãezona, amigona, parceirona, tudo muito exageradona – para os outros. Já tentei ser fitness nível hard, saudável com uma lista de todas oleaginosas caríssimas pra comprar, meio vegana, mas porque a carne está cara mesmo, tentei a dieta do ovo, da lua, da seca, do chá de alho com berinjela em jejum.
Tentei matar sentimentos, numa eutanásia sufocantemente silenciosa dentro de mim, que acabou matando outras coisas importantes. Tudo tem o ônus e o bônus. Eu vivia o dia como se eu pudesse, conseguisse, merecesse e, à noite, planejava desistir de tudo, num simples estalar de dedos. Porque seria muito mais fácil.

Chegamos até aqui e eu não tenho nenhum conselho, nem uma grandiosa lição, nem uma frase bíblica, espiritual ou budista. Tentei avisar no título, mas parece que gatilho mental ainda funciona. Aqui fica apenas mais uma página do diário – ou semanário – de alguém que fica entediado com facilidade, que não consegue ter vícios – exceto alguns – que descobriu nos hábitos uma forma gostosa de viver com equilíbrio e, que dentre todas essas vidas que eu tentei viver, a que eu não vou desistir é da fitness hard, porque coração ninguém nota, mas shape sim.