Clacir Rasador

Embora não tenha formação na área, tendo visto brevemente na faculdade de Direito, nasceu ali meu especial apreço pela filosofia, em especial os ensinamentos de filósofos da antiguidade. Recentemente, ao ler alguns capítulos do livro Aristóteles – ética a Nicômacos, cuja interpretação requer atenção dedicada, surgiu-me um questionamento que há muito não me fazia: qual a minha filosofia de vida?

Caro leitor, tastavei por um lado, por outro, pensei… opa… estou no caminho… me socorri da célebre frase do filósofo medieval Descartes – Penso, logo existo –, enfim… sem uma resposta pronta, até porque, de qualquer forma, iria poupá-los desse fardo.

Contudo, como ensaio a uma resposta, penso que, tal qual um mosaico, composto de pequenas partes, no decorrer da nossa jornada por esta instância, vamos agregando filosofias diversas, ensinamentos e crenças que se incorporam à vida que levamos e que passam a formar um quadro único, chamado o ser “EU”.

Partindo desse contexto, trago comigo uma frase emblemática do Papa Francisco, segundo registros, dita lá em 09 de novembro de 2014 em comemoração aos 25 anos da queda do Muro de Berlim, na então Alemanha Oriental Comunista : “precisamos construir pontes, não muros”.

Construindo pontes e não muros, vidas se unem, relacionamentos acontecem, a sociedade interage, a política respira e a liberdade de escolha transita sem obstáculos.

De fato, nas relações interpessoais, pontes “acontecem” todos os dias, o que é natural, embora algumas passem despercebidas. Mas é preciso lhes dar sempre manutenção, não há um botão que liga/desliga automático, pois as mazelas do tempo poderão ruílas, uma vez que a vida requer cuidados. Aliás, se as pontes de relacionamentos preenchem os vazios da vida e nos fazem crescer, não somente por analogia, mas, de fato, pontes de argamassa, entre vales e montanhas, ligando caminhos até então inexistentes ou inóspitos, fizeram e fazem surgir o progresso e a esperança de dias melhores a cada travessia.

A propósito, convido então o caro leitor a exercitar a arte de filosofar. Tente materializar as palavras ponte e progresso, numa única imagem… se és conhecedor de nossa região, não será mera coincidência ser transportado para a imponente Ponte do Rio das Antas.

Fazendo justiça à sua importância histórica, no livro A Travessia – o advento da Ponte do Rio das Antas na Serra Gaúcha (EST Edições), seu autor, Gilmar Antonio Detogni , por meio de um louvável trabalho de pesquisa, registra os reflexos desta icônica obra de engenharia na nossa região, dando passagem ao progresso e desenvolvimento.

Símbolo inclusive do DAER (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem), a ponte, que teve seu início em 1942, registrou ainda trágico desabamento em 1944 e em 31 de agosto de 1952 finalmente fora concluída, inaugurada e batizada pelo nome de Ernesto Dornelles, governador da época.

Pois bem, sabemos que as estradas são a cereja do bolo em termos de estrutura viária para o progresso em nosso país, contudo, não menos importante são as pontes que dela fazem parte. Enquanto muitas das estradas sobrevivem esburacadas, as pontes não têm lá tal tolerância. Após construídas, tendem a ser… esquecidas, lembradas unicamente quando “tremem” além da sua resiliência originalmente calculada ou, pior, quando silenciosamente chegam à ruína, levando consigo vidas e abrindo um vazio em outras.

Sem vocação para engenharia, nem mesmo para engenheiro de obra pronta, e tão pouco para pregador do “Apocalipse”, contudo, tenho ouvido relatos de pessoas que trafegam seguidamente pela Ponte do Rio das Antas e, mesmo que não tenham o olhar de um expert – até porque não cabe a elas essa responsabilidade – descrevem sinais de deterioração e a segurança passa a ser questionada.

Pelo sim, pelo não, autoridades, tomem providências!

Não nos desaPONTEm!!!

Temos ainda muitas pontes a construir!
Saúde e vamos em frente!