É muito engraçado virar adulto. Triste, sofrido, recompensador, mas acima de tudo, engraçado. Acredito que pessoas que evoluem de alguma forma e em qualquer velocidade sentem a mesma coisa, apesar das rugas no rosto, da gravidade surrando seu corpo e das consequências dos maus hábitos dizendo “oi, cheguei”.
É engraçado porque eu não me imagino com 30 anos. Nem com 40. É engraçado porque eu olho uma blusa tamanho 16 infanto juvenil, coloco na frente do meu tórax e digo: acho que serve. Então vou provar e não passa o meu braço (jura). Só nesse momento eu lembro da minha idade. Eu compro shampoo da Turma da Mônica e sabonete Johnson’s Baby, e sempre que dá eu e meus amigos saímos para passar vergonha em público. Muito em público.
Quando eu era pequena, via as pessoas de 30 anos empresárias, executivas, proprietárias, responsáveis, pais, mães, noivos, ricas, plenas. Eu até lembro exatamente da minha transição de adolescente para adulto, mas foi um choque tão necessário que passou muito rápido. É como fazer maratona de série e passar do último capítulo da temporada para o primeiro da próxima, entende? Você sabe o que está acontecendo, mas não tem aquela transição.
Minha visão era diferente. Ou será que eu sou diferente hoje? Ou será que as coisas mudaram? Penso nisso com frequência, porque vai chegar uma hora que vou estar fazendo botox e quando me der conta do que isso significa, provavelmente vou desatar no choro e sair correndo da clínica. Ou não. Tenho medo de envelhecer. Mas não sei o que esse medo significa, pois eu não vivo na minha idade. Eu saio com os meus amigos para beber na praça, eu uso aquela roupa curta sim, salto 15, moletom Pat Use. Nunca gostei daquelas pastas executivas de couro com alça e achei que só fosse precisar quando tivesse 50 anos, mas estou pensando seriamente em comprar uma e estou achando um estilo só. Pena que vou ter que trocar metade do meu guardar-roupa, porque provavelmente a pasta não vai combinar com meus tênis de glitter. Nem com a Melissa de cereja.
Acho que a gente vai mudando gradualmente e não vê o tempo passar. E de repente começa a gostar de dormir cedo (às vezes), de ficar em casa, de comprar meias, de usar blazer. Talvez eu me esforce um pouco para não envelhecer. Só não quero ser uma velha que usa meia-arrastão. Talvez um top cropped, mas meia não. Ainda saio durante a semana, bebo todas e no outro dia sofro todo aquele caos da ressaca, mas no final da tarde já estou planejando a próxima. Eu ainda quero pagar barato o plano de saúde só porque eu nunca internei. Eu gosto do meu físico porque eu gosto de me cuidar (uma bênção eu não gostar de refrigerante). Hoje vejo o quão importante é não enfiar o pé na jaca todos os dias sem pensar nas consequências. Quando a gente é adolescente esfrega hambúrgueres na cara achando que vai ficar 25 anos com 17.
Envelhecer também é colher o que você plantou. Tirando as pessoas com genética favorecida, o restante meu bem, tem que suar a camisa! Tem que fazer exercícios físicos, tem que comer bem, tem que cuidar da mente. Fico satisfeita porque apesar de não ser muito fácil, fui feliz em todo o bem que me causei, porque não adianta comer alface chorando, né, ‘mores’. Não que eu tenha vivido um exemplo, porque eu gosto de exageros de vez em quando. Um pouco de adrenalina é o segredo dessa receita toda.
Não sei direito em que estágio estou. Sei minha idade em números, mas não sei o que eles realmente significam para mim. Só percebi que vou ter que trocar o meu Renew no final do ano.