Em tempos de muros reais (começando pelos menores, mas nem por isso menos significativos, como os que cercam nossas casas; e os maiores, que separam povos, como o muro Cisjordânia-Israel, Espanha-Marrocos, Grécia-Turquia, e o mais recente anunciado pelo Trump, na fronteira dos EUA e México) e de muros metafóricos (levantados por tabus, preconceitos, desigualdades sociais…), eis que surge a África como símbolo de esperança através da “construção” de um muro verde.

Esse ambicioso processo de recuperação do Planeta foi iniciado em 2007 e deverá atingir 8 mil quilômetros de comprimento com 15 quilômetros de largura de árvores plantadas. Há dez anos, portanto, a união de onze países africanos vem cumprindo esse projeto de vida, com resultados já percebidos: mais sombra e umidade naquela extensa área, revertendo processos de desertificação. De quebra, ainda tem gerado empregos e reunido pessoas.

A iniciativa africana, que parece utopia, se mostra factível. Na verdade, tudo o que se pensa pode ser construído, já que tudo o que foi construído foi antes pensado. Então, vamos pensar em cada um de nós deste mundão de Deus, que dispõe de um quadradinho de terra, plantando uma árvore. De repente, estaria surgindo um mundo novo, purificado.

Até já fiz a minha parte. Plantei dois salgueiros-chorões maravilhosos que se debruçam sobre o muro aqui, de casa, tentando espiar o lado de lá… Deve ser por causa dos gatos, que caçam de dia e namoram despudoradamente à noite. E invadi terreno alheio, onde finquei uma mudinha de árvore conífera que cresceu como se ela tivesse bebido hormônio GH.

Esta grandona, que não me pertence, é meu xodó. Uma pena que ela perdeu sete andares entendidos como ameaça para a segurança. Ela nunca deu fruto, dizem que é porque lhe faltou o(a) companheiro(a). A falta que um amor faz!

Minha árvore tinha uma copa mais interessante que a “cozinha”. Embora menor, nela ainda transitam andorinhas, tesourinhas, pombinhas, canarinhos, pardaizinhos, bem-te-vis, tico-ticos, vira-bostas e uns rabudos que não sei o nome. Até pica-pau já vi arranhando o tronco grande e áspero.

Por conta dessa árvore enorme, até superei o medo de temporal. Como ela subiu mais que o meu telhado, em caso de raio (hipótese bem remota), onde é que ele vai cair?

Mas o bom mesmo é deitar na cama e, de janela aberta, curtir o ruído mágico do vento em contato com as folhas… E ouvir a cantoria da passarada… E ver suas manobras aéreas e aterrissagens nos galhos… E sentir o mistério cósmico se infiltrando em meu quarto…
É aí que a vida entra em sintonia com a transcendência…