Descobri que sou multitasker. Achei o máximo pertencer ao grupo que tem um nome tão fashion, tão cool (estou aprimorando meu “Português”). Dizem que essa capacidade de saltar de uma tarefa para outra é característica feminina, ou seja, das venusianas. Já, vocês, homens, que são de Marte, limitam-se a um foco de cada vez. Ou assam o churrasco, ou tomam a caipira.

O quanto é científico não sei, mas os livros vendem… Bom, parece que um dado é verdadeiro: os cérebros feminino e masculino fazem conexões diferentes, o que nos torna privilegiadas, pois nossos neurônios, embora em número menor, são mais ativos, realizando mais sinapses do que os masculinos. Em suma: não importa a quantidade, mas a qualidade. (Sem ofensa!) Desconfio até que, daqui a pouco, o tema entrará nos debates políticos.

Então! Como multitasker, venho me superando. Enquanto vejo televisão na cozinha (amo filmes, mas odeio perder tempo), faço um milhão de coisas. Se for pela manhã, começo com os verdes – abro a torneira da pia e ponho a salada de molho. Desço as escadas e enfio a roupa na máquina de lavar. Subo, fecho a torneira e enxugo a água que vazou por todo lado. Lavo outra vez a panela que estava secando na chama do fogão. Pico a cebola pra dourar. A cachorrinha late, tenho de atender ao seu chamado – surda que é, não pode esperar, senão pensa que foi abandonada. O telefone toca. “Não, aqui não é do IPÊ”. Babi late. “Calma, querida, já te levo pra fora!”. Como se adiantasse falar! Ela não escuta mesmo! Desço novamente, agora com ela no colo, que sua artrite não lhe possibilita fazer este tipo de exercício. Enquanto ela dá uma voltinha e fica cheirando os postes, subo correndo… Mentira, minha artrose não me permite mais pular os degraus de dois em dois. Na cozinha, outra vez. Abro as janelas, que odor de cebola queimada é de lascar. O filme termina. Droga, não deu pra ver o final. Trimm, trimm, trimm…

Caramba! A Net, pela centésima vez! “Não temos interesse. Obrigada e um bom dia!” Pico outra cebola. Óleo na panela limpa. Fogão. A cachorrinha late desesperada. Melhor buscá-la. Ela reclama, então, lhe dou um petisco pra compensar. Aproveito o pit stop pra fazer uma boquinha. Oba! Vai passar o mesmo filme de ontem que não vi o início. Shit! A cebola já era. A área cheira a sovaco. Tempero o repolho, que este danadinho tem uma catinga do cão. O telefone toca. Juro que ainda arranco todos os fios desta casa. “Senhor, aqui o prefixo é 54. Na sua localidade é 49.

Eu sei porque não é a primeira vez que ligam pro arrumador de osso, que não mora aqui, certo? Aliás, por que não vai ao médico?”. Bonito! Desligou na minha cara. É o que dá ser solidária. O tempo voa… Outra panela queimada. Hora de tirar uma carta da manga… Abro o congelador. Ligo o forno. Lasanha. Resolvido. Continuo assistindo ao filme de ontem, mas perdi o começo de novo. Ufa! Dá um puta cansaço ser multitasker.