Turismo na localidade, que teve um fluxo maior nos últimos anos, promete aumentar após a pavimentação total da estrada que liga o Vale Aurora ao Vale dos Vinhedos

O distrito de Faria Lemos faz parte da Rota das Cantinas Históricas, local bastante tradicional e que foi desenvolvido pelos imigrantes italianos. Por conta disso, o forte é a fabricação de vinhos, e atualmente, o enoturismo. A maioria dos empreendimentos que existem por lá é focado neste ramo, por isso, o fluxo de turistas tem aumentado consideravelmente e os empreendedores apostam nesse segmento para desenvolver ainda mais a região.

Turismo de experiência

A maioria das famílias cultivam parreiras, talvez seja por isso que as empresas, quase que em sua totalidade, são familiares. Esse é o caso da família Cristófoli, que trabalha no setor de vinhos e enoturismo. “A vinícola tem 25 anos, mas há mais de 35 fabrica vinhos para venda. Antes disso era só a produção de uva. Em 1998 foi iniciada a produção de vinhos, que antes era feito para consumo próprio, e após o registro começou a venda do de mesa, que é muito tradicional da nossa região”, declara a enóloga Letícia Cristófoli.

O empreendimento quis apostar em um turismo diferenciado e que chamasse atenção dos visitantes. “O pessoal que frequenta a nossa região, essa parte do roteiro do Vale do Rio das Antas, acaba vindo atrás de experiências e destinos diferenciados. Aqui na Cristófoli nós temos um fluxo maior de turistas justamente por essa proposta. Então, temos piqueniques, almoços harmonizados, durante janeiro e fevereiro temos as pizzas noturnas, é mais exclusivo”, salienta.
O turismo na região ainda não está estabilizado, portanto, há momentos em que ele é melhor e outros que diminui a frequência de visitantes. “Depois da pandemia, em 2022, nós tivemos um ano com fluxo muito forte, foi o dobro de visitantes que em qualquer outro ano. Agora, em 2023, já não está tão forte, diminuiu praticamente metade das pessoas. Julgo que nosso verão é sempre muito bom, as experiências enchem”, diz Letícia.

A expectativa com a pavimentação que liga ao Vale dos Vinhedos são bem altas. “Vai ter um acréscimo, agora que vai ser asfaltado de Faria Lemos até o Vale dos Vinhedos, fomentando mais o turismo. A distância vai diminuir e o acesso vai melhorar muito, estamos com boas perspectivas”, prevê.

Os enólogos Lorenzo Cristófoli e Letícia Cristófoli ao lado do sommelier Fábio Koetz

Realização de um sonho

Adelar Pedretti realizou o sonho de abrir o próprio estabelecimento após se aposentar, e aposta suas fichas no distrito. “Estamos esperando a ligação dos três vales para que a gente consiga fazer a complementação do projeto que montamos. Mas, atualmente, vem turistas de todos os lugares do Brasil até Faria Lemos, entretanto, por não ter acesso ao Vale dos Vinhedos e ele ser o carro chefe do turismo da região, sentimos uma dificuldade um pouco maior”, comenta.


Assim como todos os empreendedores, ele vê um grande potencial na localidade. “A última administração está fazendo um ótimo trabalho e esperamos que continue. Pois hoje, nós de Faria Lemos estamos muito bem atendidos. O turismo começou nos últimos anos a ter um crescimento maior, já que antes não acontecia por ser um local mais afastado, outros locais acabaram sendo mais divulgados e ele acabou meio esquecido”, expõe.

Adelar Pedretti apostou no sonho e está colhendo os frutos


Há um único mercado na região, que é da família de Sara Buffon, que conta com diversos produtos. É ele quem facilita a vida dos moradores para que não precisem ir até a cidade. “O fluxo é de pessoas que moram na localidade, e no final de semana nota-se muita gente que tem sítio e outras propriedades que estão apenas de passagem. O fluxo de turistas é bem alto, apesar de nossa proposta ser para moradores, mas eles vêm muito aqui para pedir informações. Então, falta um local onde os visitantes pudessem se informar”, ressalta.

Vinhos diferenciados

A família Buffon é bem antiga na região, acredita-se que chegaram à localidade no final de 1880, vinda da Itália, e começaram a vida no Brasil. Por muitos anos trabalharam apenas com a produção de uvas, mas a última geração da família também abriu uma loja de vinhos. “As primeiras videiras da nossa família foram plantadas em 1900 pelo meu bisavô e desde então a família segue com a produção de uvas, há 100 anos. Atualmente, temos a nossa vinícola familiar, mas ela é recente. Foi graças ao projeto da Emater do Vinho Colonial que pudemos iniciar com o registro dela”, explica Anderson Buffon, sócio-proprietário da vinícola.

Apesar da família fabricar vinhos há algum tempo, foi necessário se especializar cada vez mais. Os dois filhos da família Anderson e Paloma Buffon, sócios e proprietários da vinícola, passaram a cursar enologia e fabricar cada vez mais vinhos e espumantes. “Vendemos mais no mercado externo do que na loja. Começamos a trabalhar com o turismo e o enoturismo neste ano. O turista agenda o passeio e os levamos até a parte de baixo da casa onde explicamos como é feito o vinho, os processos e lá ocorre também uma degustação. Mas, muitos acabam vindo até aqui porque nos conheceu de outros locais, como restaurantes que atendemos ou lojas”, pontua.

O diferencial de Buffon é criar vinhos que ninguém imaginaria ser possível. Isso porque ele tem uma visão bem ousada quando o assunto é este. “Trato o vinho como uma arte, porque a gente nunca sabe como a uva vai chegar aqui. Agora estou desenvolvendo um de aniversário para o músico Flávio Venturini, e decidi que iria deixar ele maturando com uma musica que tocasse na barrica. Então, fico imaginando como será o gosto dele, ou será que as vibrações farão com que tenha um diferencial”, destaca.

Anderson Buffon está animado com a finalização da pavimentação da ligação dos Vales

O empreendedor não é nada conservador quando os assuntos são novos sabores e experiências. “Outro projeto é o nosso vinho maturado em barrica de uísque de Bourbon do Jack Daniels. Eles usam só uma vez, e ao invés de descartarem, vendem. Fizemos uma demonstração para os visitantes e eles acharam muito diferente”, considera.


A antiga cooperativa Tamandaré foi comprada em 1994 pela família Rotava, que produz vinhos para o comércio há 40 anos. “Nós trabalhamos mais com clientes e menos com turistas. Ou seja, vendemos para as pessoas da região de Faria Lemos, mas muito também para aqueles que são de Santa Catarina, Porto Alegre, que já conhecem e vem até aqui para comprar”, esclarece Flávio Rotava.

Flávio Rotava recebe clientes de localidades distantes como Santa Catarina

O turismo é a grande aposta para o aumento do fluxo de pessoas na região. “Vejo o turista como aquele que está a passeio, e chega na vinícola, isso também cresceu, só não é o nosso grande forte. Mas sentimos que está crescendo, principalmente quando a obra que liga os vales finalizar”, pressupõe.

Ele também aponta alguns planos futuros, inclusive o de implementar mais bebidas na vinícola. “Estamos começando a fazer espumantes, mas sempre caprichando muito nos vinhos. Iremos nos arriscar um pouco e trabalhar nessa bebida que tem crescido muito não só na região, como no Brasil”, finaliza.