Após a pandemia, pessoas tiveram um olhar mais atento aos seus lares, resultando na compra de móveis diferenciados

Há quase dois anos do surgimento da pandemia, percebem-se as mudanças causadas pelo isolamento social. Hoje, transformações que em março de 2020 eram inovações, se tornaram “normais” aos olhos da população, como o home office, aulas síncronas, entre outras atividades. As novas vivências alteram os conceitos dos consumidores, de uma forma geral, mas também nas compras realizadas no setor mobiliário.

A diretora da Móveis Sandrin, Renata Sandrin, afirma que por estarem mais tempo em casa, as pessoas passaram a olhar mais para os seus lares. “Isso fez com que buscassem o mobiliário com mais conforto, aconchego e personalização, pois a residência deixou de ser um espaço somente para dormir e realizar refeições. Muitas atividades que anteriormente eram praticadas em outros ambientes passaram a ser realizadas no lar, bem como exercícios físicos dos mais variados, hobbies, trabalho, dentre outros”, exemplifica.

O presidente da Todeschini S.A., Paulo Farina, sublinha que um dos grandes impactos da pandemia foi o ‘olhar para o morar’. “Ao passar mais tempo em suas casas, as pessoas notaram algumas demandas que antes passavam despercebidas. Com isso, optaram por tornar o lar um lugar mais agradável, priorizando espaços de refúgio e descanso”, realça.

Cores e design

De acordo com a coordenadora de marketing da Dalmóbile, Priscila Milesi Basso as tendências de 2022 giram em torno de ideias que tragam mais praticidade e conforto. “As pesquisas de cores para o próximo ano têm foco nos sentimentos e no convívio, o que está diretamente relacionado ao cotidiano das pessoas. Com certeza a integração de sala e cozinha tornaram os espaços mais funcionais para o convívio; além do lugar para a prática do home office”, valoriza.

Para ela, assim como a moda é cíclica, o design e cores dos móveis tem suas releituras. “As combinações, hoje, são democráticas, pois o objeto de decoração afetivo, um móvel centenário de família, plantas e acessórios esportivos podem compor perfeitamente um ambiente com móveis planejados, por exemplo. A composição com diferentes materiais e texturas, como madeiras, alumínio, vidros, tecidos, pedras e elementos naturais, estão diretamente relacionadas à personalidade e estilo de vida das pessoas. Claro que tonalidades como branco, bege e cinza são clássicos atemporais e combinam praticamente com tudo”, salienta.

A diretora da Móveis Sandrin explica que existem muitas tendências, mas o que se pode evidenciar é a necessidade de ume espaço aconchegante e prático para trabalhar, independentemente do local. “No quarto, na sala, no hall, ou seja, conforme a disponibilidade, personalidade e necessidade particular. Também merece destaque a satisfação que as pessoas passaram a sentir em receber amigos e familiares em seus lares, gerando momentos marcantes de encontros com história para contar”, menciona.

Renata ressalta que a empresa considera imprescindível a constante atualização sobre tendências e cores no mercado através de pesquisas em canais confiáveis. “Manter uma paleta de cores adequada permite ao cliente adaptar seu espaço ao seu estilo. O que hoje o consumidor busca é transmitir sua identidade ao seu ambiente. Destacamos que, no último ano, as cores e texturas seguiram a tendência mais suave e contemporânea”, expõe.

Farina esclarece que a empresa notou que uma grande tendência foram as atividades que passaram a ser realizadas no lar, pois indivíduos de um mesmo núcleo familiar compartilharam mais os mesmos espaços. “De forma complementar, a casa ganhou destaque na vida das pessoas, que passaram a valorizar mais os momentos em família. Certamente, essa também é uma tendência que deverá permanecer por muito tempo”, acredita.

No ambiente corporativo também há novos direcionamentos. “Móveis inteligentes, práticos, multifuncionais e que atendam as mais diversas demandas. A ideia é aproveitar melhor os espaços e os ambientes compartilhados. Além disso, outras tendências que surgiram foram o home office e o uso da tecnologia aplicada ao ambiente de trabalho”, conta.
Sobre as cores mais utilizadas, o destaque vai para aquelas que transmitem conforto e requinte. “O azul, o verde, o amarelo e outras tonalidades claras. Isso reflete a busca por um cenário mais aconchegante e menos acelerado”, frisa o presidente da Todeschini.

Adaptação do segmento às novidades

Na Móveis Sandrin, a adaptação, que estava gradual, acelerou. “O que se tornou um grande desafio foi a velocidade que as mesmas precisaram ser implementadas. Certamente o momento possibilitou um nível de aprendizagem significativo em um espaço de tempo extremamente reduzido para os moldes anteriormente vividos. A busca por inovação cresceu significativamente, sempre avaliando a necessidade do cliente implementando a solução no menor tempo possível”, declara Renata.

Na Dalmóbile, uma nova etapa no processo de fabricação de móveis começou em 2018, com a integração entre software e maquinário, o que também facilitou na nova fase iniciada em 2020. “Hoje o parque fabril tem total condições para atender as demandas personalizadas dos consumidores e seus novos hábitos, com móveis planejados editados milimetricamente, maior variedade de cores e padrões do mercado e com diferentes tipos de acabamento, tornando indispensável a produção de móveis com acessórios multifuncionais e com design de fácil combinação, sempre adequados as preferências e necessidades dos consumidores”, assegura Priscila.

Para a Todeschini as mudanças nos conceitos do consumidor não afetaram o cotidiano. “Não houve adaptação, uma vez que já oferecemos soluções pensadas para as diversas situações do cotidiano há muitos anos. Um exemplo são as mais de quatro mil opções de cores oferecidas para a personalização do mobiliário”, cita Farina.

Tendências em ascensão

Para a diretora da Sandrin, as mudanças vieram para ficar. “Cada vez mais precisamos olhar para as necessidades do consumidor com foco no bem-estar, funcionalidade, aconchego e flexibilidade para anteder as necessidades específicas”, pensa Renata.

Para o presidente da Todeschini S.A., poucas coisas são permanentes no mundo atual. “Mesmo assim, acreditamos que essas tendências surgiram para ficar por muito tempo, pois a pandemia contribuiu para esse movimento de revisão dos nossos valores, princípios e do que realmente importa. Trata-se de uma mudança de estilo de vida, repensada a partir do autoconhecimento”, sustenta Farina.

Já para a coordenadora de marketing da Dalmóbile, alguns hábitos vão permanecer. “Um dos reflexos da pandemia e do ato de ficar em casa tornaram alguns cômodos muito mais valorizados: dormitórios mais confortáveis para descansar e amplo espaço para armazenar os itens pessoais, integração de sala e cozinha deixando o ambiente espaçoso e funcional e espaços externos versáteis para relaxar”, finaliza Priscila.

Impacto no setor

O presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis-BG), Vinicius Benini, acredita que o primeiro impacto para as indústrias, principalmente as que dependiam somente do varejo físico, foi adaptar seus formatos de atendimento. “Buscar alternativas para se manterem próximas dos clientes. Portanto, os canais digitais passaram a ter ainda mais valor. Na indústria de móveis planejados, por exemplo, os atendimentos e apresentações de showroom, que anteriormente eram presenciais, passaram a ser realizados por zoom. Já os varejistas, além de ingressarem nos marketplaces e criarem suas próprias lojas, apostaram em lives para lançamentos, promoções e vendas on-line”, aponta.

Nas mudanças, Benini afirma que o home office trouxe a necessidade de maior segmentação. “Ampliar o olhar para a construção do mobiliário no sentido de peças mais multifuncionais, que se adaptam a mais de um ambiente. Além disso, maior flexibilidade nos formatos de atendimento e atenção para produtos voltados à facilidade de higienização, como matérias-primas para estofados com soluções antibacteriana, por exemplo”, menciona.

Assim como em outros setores, o presidente do Sindmóveis garante que as empresas precisaram garantir a sobrevivência do seu negócio na pandemia. “Ao compreender a forte retomada e procura por móveis e decoração para as residências, iniciou outro desafio: a falta de insumos. Esse foi o principal obstáculo para atender às demandas do mercado e manter as entregas em dia”, lembra.

O novo gosto dos clientes, com olhar voltado para o bem-estar na decoração, se ampliou ainda mais. “A escolha de tons amadeirados, elementos que remetam à natureza, formas orgânicas e tons claros continuam em alta. Essa já vinha sendo a preferência de grande parte dos consumidores nos últimos anos, mas muitas marcas aproveitaram o momento para agregar soluções mais pertinentes”, conclui.

Foto: Reprodução