A espera foi longa para os mais de sete produtores que perderam 30 caixas de abelhas em dezembro do ano passado. O laudo das amostras de mel, favo e insetos que foram coletadas saiu após seis meses, confirmando as suposições de que havia ocorrido envenenamento dos animais. A Associação Riograndense de Proteção aos Animais (Arpa) comunicou que foram agrotóxicos utilizados na época em que a uva começa a florescer nas parreiras.

A informação ainda não chegou até os morados do Vale dos Vinhedos que residem próximo à Capela do Santa Lúcia, no interior da Capital do Vinho. A Associação recebeu o resultado do laudo toxicológico na semana passada e garantiu que, a partir da semana que vem, informará os criadores da motivação das mortes. “Fizemos o relatório e chegamos a conclusão de que diversos fungicidas e agrotóxicos ocasionaram o óbito de milhares de abelhas. Alguns dos produtos que foram utilizados são permitidos, mas há outros ilegais e é sobre isso que precisamos ficar atentos”, garante Willian Augusto Smiderle, fiscal estadual agropecuário.

Jovenir Henig, uma das moradoras que perdeu mais de 10 caixas de abelha lamenta a atitude de produtores que utilizam produtos ilegais e, até mesmo, agrotóxicos para fazer com que as uvas fiquem mais bonitas e, também, para matar as moscas que ficam próximas em época de vindima. “A gente fica com muito medo, porque depois não sabe se pode consumir ou não. Perdemos aquela quantidade de insetos e, depois, não pegamos caixas novas para criar, hoje mantemos apenas uma, mas sempre só para nosso alimento mesmo”, comenta.

A família Henig guardou o mel que as abelhas produziram nas caixas em que foram encontradas mortas. “Os fiscais inclusive nos pediram que não puséssemos o mel fora, pois eles nos avisariam posteriormente se poderíamos consumir o alimento. Evitando assim, o desperdício”, lembra Jovenir.

Smiderle lembra que, para qualquer situação atípica que acontecer com os produtores, a Arpa precisa ser informada imediatamente. “Naquela vez soubemos do caso somente após 15 dias e essa demora não é o ideal, pois não conseguimos fazer o trabalho como deveríamos. Quando muitos dias se passam, as substâncias não permanecem da mesma maneira na amostra que precisa ser coletada”, alerta. O fiscal ressalta ainda que, apesar de agrotóxicos serem graves, a morte das abelhas não foi por doença, o que facilita para que a produção continue na região.

Relembre o caso

No dia 17 de dezembro de 2017, o Semanário relatou a morte de milhares de abelhas que foi registrada pela Associação Riograndense de Proteção aos Animais (Arpa).

A denúncia chegou até Jorge Acco, fiscal e coordenador do Órgão, por meio de ligações telefônicas dos agricultores que residem no Vale dos Vinhedos, próximo à Capela do Santa Lúcia, no interior de Bento Gonçalves e também no distrito de São Pedro. Segundo Acco, ao menos 30 caixas de abelha de sete produtores morreram em um intervalo de 15 dias.

Na época, a Associação já contava com a possibilidade de intoxicação por agrotóxicos. Conforme o relato dos fiscais, os agricultores confiavam na utilização de veneno para combater formigas e moscas. Willian Augusto Smiderle, fiscal estadual agropecuário, visitou as propriedades que continham insetos mortos. “Ali é uma região de produção de uva e muitas vezes eles podem pulverizar produtos tóxicos durante o cultivo das frutas. No exame é um pouco difícil de detectar qual o defensivo agrícola exato que foi utilizado, principalmente porque será a primeira vez que faremos com coletas aqui de Bento. Mas vale lembrar que no País já há diversos casos de mortandade de abelhas”, observou Smiderle.

Na época, as famílias já relatavam que o maior problema não era o prejuízo financeiro, pois muitas da região utilizam o mel como alimento e também para remédios.