O autor é conhecido pela triologia literária ‘O Quatrilho’, ‘A Cocanha’ e ‘A Babilônia’, ambos romances contextualizados durante a imigração italiana na Serra Gaúcha

Morreu nesta segunda-feira, 25, aos 86 anos, José Clemente Pozenato, um dos mais renomados escritores da literatura brasileira. O falecimento foi confirmado por familiares do autor. Ele estava hospitalizado no Hospital da Unimed para realizar um procedimento cardíaco e faleceu após complicações.

Nota postada nas redes sociais da editora do escritor:

É com imensa tristeza que comunicamos o falecimento de nosso querido José Clemente Pozenato. Hoje é a página mais triste dessa grande história. Hoje, nos despedimos do afetuoso marido, pai, sogro e avô. Hoje, damos adeus ao professor, escritor, poeta e entusiasta da literatura, que tanto contribuiu para com a cultura de nossa região. Seu legado único e as tantas alegres memórias que deixa, viverão eternamente em nossos corações.

Com amor, de sua esposa, filhas, genros e netos.

Trajetória do autor

Pozenato nasceu em 1938, na cidade de São Francisco de Paula (RS). Mudou-se ainda jovem para Caxias do Sul, onde viveu a maior parte de sua vida. Inicialmente, ingressou em um seminário na cidade da Serra, posteriormente transferiu-se para Viamão, obtendo bacharelado em filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em 1960. Ainda tornou-se Mestre em Literatura Brasileira pela UFSCar, em São Carlos (SP); e doutor em letras pela PUC-RS. Após a saída do sacerdócio, em 1973, passou a atuar no corpo docente da Universidade de Caxias do Sul (UCS), onde construiu uma longa carreira universitária, atuando em diversas funções, como professor; Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional; e Coordenador do Programa de Mestrado em Letras e Cultura Regional.

Sua principal obra literária é O Quatrilho (1985), romance habitado na Serra Gaúcha durante os primeiros anos da imigração italiana, e que conta a história de dois diferentes casais. O livro consagrou-se como um dos mais lidos e debatidos em palestras e salas de aula pelo Brasil. Em 1995, ganhou uma adaptação para os cinemas, dirigida por Fábio Barreto, que no ano seguinte, foi indicada ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Até hoje, é uma das únicas produções brasileiras a receber tal indicação, ao lado de O Pagador de Promessas (1962) e O Que é Isso, Companheiro? (1997)

Germano Schüür, Glória Pires, Patrícia Pillar e José Clemente Pozenato, em Los Angeles, 1996, às vésperas da cerimônia do Óscar

Ainda lançaria duas continuações de O Quatrilho: A Cocanha (2000) e A Babilônia (2006). Além dos romances contextualizados durante a imigração italiana, Pozenato também é conhecido por suas obras sobre novelas policiais, tendo publicado quatro livros do gênero: O Caso do Martelo (1985), O Caso do Loteamento Clandestino (1989), O Caso do e-mail (2000) e O Caso da Caçada de Perdiz (2008), este que é o seu último livro publicado.

A vasta carreira, rendeu a Pozenato diversos reconhecimentos, entre eles o Título de Cidadão Caxiense em 1991, concedido pela Câmara de Vereadores; a Medalha Simões Lopes Neto, uma das maiores honrarias do estado, destinada a personalidades que contribuem para a cultura e a educação gaúcha, entregue ao autor em setembro de 2022; além do Troféu Caxias, na categoria Cultura, em 1986; Personalidade da Câmara Rio-Grandense do Livro, em 1995; e o Prêmio Caxias da Câmara de Vereadores, em 2015, concedido a quem se destaca pelos serviços prestados à comunidade. Também foi membro da Academia Sul-Brasileira de Letras, da Academia Rio-Grandense de Letras e do Conselho Estadual de Cultura. Deixa um enorme legado para a literatura brasileira, em especial na Serra Gaúcha, sempre valorizando a cultura local moldada pela imigração italiana.

Gelson Leonardo Rech, reitor da UCS, lamentou o falecimento:

“O professor Pozenato, para a nossa Instituição, é uma grande referência como docente, como pesquisador e como gestor. Na docência, deixou marcas indeléveis em muitos dos nossos estudantes, formando gerações com sua sabedoria, inteligência, sagacidade, profundidade e equilíbrio. Como pesquisador, deixou um legado de reflexões e de pesquisas regionais da cultura material e imaterial, especialmente da região, com levantamentos, obras reflexivas, pesquisa de campo junto às diversas equipes que construiu, com seus escritos e sua literatura. Como gestor universitário, deixa marcas também na estruturação institucional da própria pesquisa na UCS.. Pozenato foi o grande mentor do projeto da regionalização da Universidade, que permitiu que ela avançasse para outros municípios e cumprisse sua missão de desenvolvimento regional com maestria. Nosso sentimento pela perda inestimável dessa figura ímpar, agradável e profunda”

O velório acontece na terça-feira, 26, a partir das 8h, na sala A do Memorial São José. O sepultamento será às 16h, no Cemitério Público Municipal.

Imagem da capa: UCS Play / reprodução