Com poucos estabelecimentos, o bairro que vem crescendo não têm mercados ou farmácias. Residentes alegam que a falta tem os prejudicado e dificultado os afazeres mais simples

O local, segundo os moradores, cresceu muito ao longo dos anos e abriga diversas famílias que vieram de outros locais. Justamente por isso, os residentes se incomodam com o fato de o lugar ter tão poucos comércios e de eles não abrangerem suas necessidades. A maioria deles reivindica pelo menos um mercado, uma farmácia e um Posto de Saúde para facilitar o acesso a esses locais. Outra crítica vinda deles é o transporte público, que conta com poucos horários.

Lorena Poleto, 86 anos, aposentada e foi agricultora durante toda a vida, chegou no Vinosul aos seis anos. Ela relembra as mudanças ao longo dos anos, enfatizando o crescimento do bairro. “Moro aqui há 80 anos, meu pai comprou terreno aqui na época, viemos para cá. Antigamente, era tudo campo, se exterminou a colônia. Foram vendendo os lotes, outros foram comprando, cresceu muito nosso bairro, hoje não existem mais espaços para serem comprados quase. Antigamente, tinham os bichinhos, as casas eram distantes. Agora, não gosto de como é”, lembra. 

Para ela, uma das vantagens do local é a segurança, mas a desvantagem é a falta de comércio próximo. “Não temos nenhum mercado, lá no posto eles vendem alguma coisa. Farmácia vou só no Botafogo, não sinto falta porque não estamos longe, mas a pé não dá para ir. Diziam que iam abrir um, mas desistiram, pois seria pequeno e sendo assim, é difícil competir com as promoções dos grandes mercados”, enfatiza. 

O que tem incomodado Lorena é a falta de estrutura e o barulho na estrada bastante movimentada. “Nosso bairro está muito bom, não precisa mudar nada, mas o barulho dos caminhões é bem chato. Outra coisa é que não temos calçada para caminhar, isso é bem complicado”, ressalta.

Outro morador antigo é Luiz Antonio Martini, vendedor aposentado e artesão, com 82 anos, aprendeu a fazer velas religiosas de santos católicos. “Sempre gostei de arte, e me encontrei no artesanato, é a minha distração, faço velas trabalhadas. Greisson, que é seminarista, veio de São Paulo para cá e viramos amigos muito rápido. Ele me explicou o que fazia, e pediu se eu não tinha o local para realizarmos. Assim, começou o hobby que descobri amar tanto”, conta.

Luiz Antônio Martini iniciou seu hobby após se aposentar, fazendo velas trabalhadas em homenagem aos santos católicos

Sua trajetória se iniciou em Caxias do Sul, mudou-se para Bento após a maioridade. “Morei por muitos anos em Caxias, saí de casa e fui estudar no colégio das irmãs. Meu irmão morava em Bento Gonçalves e eu vim morar com ele, e depois que vim para o Vinosul nunca mais pensei em sair. É bonito, tem muito verde, quando me estresso tenho o mato para relaxar”, elogia.

Durante a morada no bairro, viu diversas mudanças, uma delas relacionada ao nome do lugar. “Antigamente quiseram trocar o nome, achavam Busa um nome diferente para um bairro. Houve votação entre os moradores e ganhou o nome Vinosul, não gostei porque era o nome de uma empresa que faliu”, aponta. 

Foi lá que conheceu sua esposa, com quem passou a vida toda casado, ela frequentava o local que na época ainda se chamava Busa. “Minha esposa vinha visitar o irmão aqui no Vinosul, foi onde a conheci. Na época aqui era muito diferente. Tinham pouquíssimas casas, era bem tranquilo, muitas ruas que abriram nem existiam na época, vem muita gente de fora”, analisa. 

Martini reconhece melhorias a serem feitas, como a entrada do Vale dos Vinhedos, a poucos metros de sua casa, e mudanças na parte física do bairro para que os pedestres possam transitar. “Acredito que a entrada do Vale não está bonita, deveria ter um pórtico, assim como em Gramado e Canela. Tem que valorizar, é o cartão de visita de Bento Gonçalves. Outro ponto que necessita de mudanças é a falta de estrutura. Simplesmente não tem calçadas, isso prejudica os moradores e os turistas. As crianças que descem do ônibus para voltar do colégio têm que caminhar no meio da rua, e isso é muito perigoso”, adverte.

“Acredito que para os moradores faltem estabelecimentos”

Um dos poucos comércios presentes é voltado para o turismo, já que uma das entradas do Vale dos Vinhedos pertence ao Vinosul. Kiara Pase e Nanda Golin, sommelièrs em uma loja de vinhos, reconhecem a falta de estabelecimentos para os moradores. “Acredito que faltam estabelecimentos para os moradores, mercado, farmácia. E para o turista, essa parte inicial ainda está se desenvolvendo. Depois, quando entra mais para o vale, tem mais estabelecimentos”, observa Kiara.

Nanda Golin e Kiara Pase, sommeliers em uma loja de vinhos no local, relatam não ver comércios voltados aos moradores

Elas ainda complementam que poucos moradores visitam o local. “A maior parte dos nossos frequentadores é o turista. Tem um pequeno percentual de moradores, mas é um público muito específico que consome vinhos e conhece os sócios proprietários”, alega.

Sobre o movimento, ambas explicam que o movimento está mais tranquilo, mas entendem que nesta época do ano é mais comum. “Janeiro foi calmo, mas normalmente é assim, mais tranquilo. Temos uma base de fluxo de turistas mais por abril. Ainda estamos na expectativa de ter mais movimento, comparado ao ano passado, ainda foi fraco”, comenta.

Mas Nanda constata que no último mês, antes do feriado de ano novo, notou uma dinâmica atípica. “Tivemos um movimento que até nos surpreendeu depois do Natal, que achávamos que ia dar uma baixada, mas teve um movimento bom e depois deu uma baixada bem forte”, realça.

Kiara avalia como foi 2023 para os negócios, sentindo uma diferença no comportamento do público. “Ano passado as vendas foram fracas, o consumidor estava comprando menos, estava mais conhecendo o local e gastando somente com o necessário, controlando bastante o dinheiro. Por conta disso, foi um ano bem fraco no mercado”, conta.

Patrícia Nascimento, natural de Santa Maria, com 37 anos, atualmente do lar, está em Bento há três anos, morando no Vinosul. A tranquilidade e a segurança do bairro atraíram sua escolha. “O bairro é bem tranquilo, faz três anos que moramos aqui. É bom para criar os filhos porque não tem bagunça, todo mundo se respeita e gosto muito disso. Acho importante morar em um local seguro para as crianças”, elogia. 

A mudança para ficar mais próxima dos sogros que há 14 anos moram ali foi um fator decisivo. “Queríamos ficar mais próximos deles e por isso decidimos nos mudar para cá. Já conhecíamos porque já visitávamos eles, então já gostávamos daqui e isso pesou na hora da escolha também”, lembra. 

Apesar disso, Patrícia critica o local, principalmente pela dificuldade de fazer compras, devido à ausência de comércios no bairro e ao transporte público pouco eficiente. “A parte ruim daqui é que não tem mercado, farmácia, e o transporte público tem horários bem ruins. Mas fora isso é bom, só gostaríamos que melhorem essas questões, pois é só o que atrapalha de viver melhor aqui”, cobra. 

Lina Sartori, aposentada, 75 anos, passou a viver no bairro quando se casou, próximo de seus sogros e cunhados. “Era tudo mato. Na nossa rua nem era possível passar, tinha muito mato. Então era bastante diferente do que é hoje, às vezes até estranho”, realça. 

Com o passar dos anos, viu as mudanças no local, mas não entende como o bairro, que cresceu tanto, é tão fraco em sua infraestrutura. “É um lugar tranquilo, bom de morar, é uma pena que temos muito pouco aqui no bairro. Estamos sem posto de saúde, não temos mercado, farmácia. Por sorte, tem um posto de gasolina que dá para comprar alguma coisa. Sinto falta de ter esse comércio próximo, porque é ruim ser dependente de outros bairros para o básico”, diz.

Mas, para ela, uma das partes mais positivas é a segurança no lugar e explica o porquê. “Nosso bairro é muito seguro, graças a Deus nunca ocorreu nada em todo esse tempo que estive aqui, já são muitos anos que moro aqui, e felizmente são poucas reclamações em relação a isso”, conclui. 

Natalina Sartori, concunhada de Lina, professora, mora no bairro há 30 anos, quase ao lado de Lina, com opiniões parecidas sobre as necessidades do Vinosul. “Acredito que o que mais falta em nosso bairro são comércios, porque cresceu muito, moram muitas famílias e não temos nada. Até uma creche, uma escola, deveriam pensar a respeito, porque o ônibus passa cheio de crianças”, elenca.

Ela explica que acha complicado ter que sair do bairro para poder comprar e realizar necessidades mais básicas, como fazer as compras de mercado. “Nós temos condições para se locomover, mas e quando não tivermos? Tem um casal de idosos aqui que depende de ônibus, dos outros, imagina qualquer coisa que se precise comprar ter que ir até o Centro?”, reivindica.

Diva Lopes, 62 anos, uma das moradoras mais antigas do bairro, vive lá há 40 anos, após casar. “Moro aqui há 40 anos, conheci meu esposo na época, nos casamos, me mudei e fizemos nossa vida neste bairro. A melhor parte é a tranquilidade, por isso que permanecemos. Claro que, no início, estava morando de aluguel, e após trabalharmos muito compramos nossa casa”, reconhece.

Para ela, as mudanças ao longo dos anos foram fundamentais para o bairro. “Graças a Deus, cresceu bastante. Sempre vai faltar algo, estamos sempre na luta. Antigamente, nossa rua era terrível, e com muita luta conseguimos fazer o calçamento. Então isso é algo que nós clamamos bastante, que é necessário finalizar esse calçamento”, ressalta. 

Diva Lopes tem muitos elogios ao lugar, mas a falta de comércio a aborrece

Diva reclama, assim como diversos outros moradores, da falta de estabelecimentos para compras simples. “Não temos nenhum comércio aqui, e faz muita falta no nosso dia a dia. Tudo o que precisamos temos que nos organizar para ir até o Centro, até um pão que queremos comer, temos que ir longe para conseguir”, ressalta. 

Apesar de não ter tantos problemas em relação à segurança, ela afirma que é importante estar sempre se cuidando, pois atualmente, crimes podem ocorrer em qualquer lugar. “Não existe bairro seguro atualmente, mas é tranquilo, não dá para facilitar. Tem que estar sempre cuidando, de olho, mas isso em qualquer lugar, seja um local mais rico, um local menos afortunado, tem que estar sempre se cuidando em qualquer canto”, finaliza.