A comunidade, por anos, pede pelas mesmas melhorias, como pavimentação asfáltica dos trechos de pedra, a fim de diminuir o barulho dos carros e construção de calçadas para os pedestres

Localizado no Distrito de Faria Lemos, a Linha Paulina é uma comunidade bastante unida e próxima, isso se dá porque a maioria dos moradores nasceram e cresceram no lugar.
A maioria gosta muito de viver na localidade, entretanto, eles alegam que se incomodam com os mesmos problemas há muitos anos.

Falta Asfalto

A linha fica localizada em uma RS, ou seja, uma estrada administrada pelo Estado. Na maior parte dela há pavimentação asfáltica, mas no trecho que avança pela Linha Paulina existe um calçamento feito com pedras, o que incomoda os moradores por conta do barulho causado pela passagem dos veículos. “O que precisa melhorar é o nosso pedaço de estrada, que está péssimo. Não tem acostamento, está cheio de buraco e os canos de água que estouram e formam mais buraco ainda. Andar pela estrada a pé tem o perigo de ser atropelado pelos carros. O barulho é absurdo, começa às quatro da madrugada e vai até às dez horas da noite”, reclama a moradora da localidade, há 50 anos, Anita Marcolin.

A produtora rural mudou-se de Fagundes Varela junto do marido, que era de Guaporé, após se casarem. “Nós tínhamos amigos, aqui, que nos indicaram para cuidar de umas terras. Mais tarde compramos um terreno e fomos construindo a casa, nos apegamos ao local por ser muito bom”, comenta.

Sobre o futuro, Anita demonstra apreensão, por causa da evasão, já que a juventude procura morar nos centros urbanos maiores. “Tem poucos jovens, os mais velhos estão morrendo e eles não querem mais saber da colônia. Acredito que aqui não dure mais 20 anos, a colônia vai embora. Os loteamentos estão vindo, vai se tornar um bairro”, conclui.

Já tendo trabalhado com agricultura, ela sabe que as condições climáticas atuais podem não trazer um bom resultado para a colheita de uva. “A safra deste ano está complicada, não tenho mais parreiras, mas sei como é porque já trabalhei. Se sacrifica, trabalha, gasta e de repente recolhe pouco. E tudo é caro, custo de vida, o tratamento, o cuidado, os funcionários. É bem complicado, se não parar um pouco de chover, talvez seja bem ruim”, constata.

Outro morador do local, Volmir Zaferi, que trabalha em uma vinícola, compartilha do pensamento de Anita. Natural do interior de Sarandi, ele mora na localidade há 32 anos. Reconhece, também, que o barulho causado pela falta de asfalto incomoda bastante. “Seria importante colocar asfalto, é muito barulhento. Se tivesse pavimentação o barulho iria diminuir muito. Uma calçada para os pedestres também é muito importante. Após cair a ponte (de Santa Bárbara) diminuiu muito o movimento de carros e veículos pesados, mas é muito perigoso atravessar”, ressalta.

Fora isso, Zaferi não tem reclamações sobre o local, pelo contrário, já que desde que chegou se sentiu recebido pela comunidade a qual, observa, é bastante unida. “As pessoas da Linha Paulina são muito aconchegantes, acolhedoras, me receberam muito bem. O local em si também é muito bom, é tranquilo, e até hoje é seguro. Comigo nunca ocorreu nada como assaltos ou coisas parecida”, esclarece.

Volmir Zaferi saiu de sua cidade natal para trabalhar com familiares em parreirais, mas atualmente trabalha em uma vinícola. “Praticamente todos da linha trabalham com parreiras. Muitos têm horta para consumo próprio, como também tenho, só que com esse tempo maluco não está vindo nada direito”, reclama.

Falta de acesso para pedestres

Moradores explicam que a falta de um local para caminhar prejudica o trânsito de pedestres

Ivanir Poloni, secretária, nasceu e cresceu na Paulina. A família mora na região desde a geração de seus avós. Ao casar com um morador da região, ela decidiu permanecer no lugar. “Paulina para mim é tudo, adoro o lugar, é bom, todo mundo se conhece e se dá bem. Não cresceu muito, porque as pessoas não vendem as terras que têm. Então é bom, porque todo mundo é conhecido e a comunidade é muito amiga. Crescemos juntos, porque a maioria nasceu aqui”, exalta.

Um dos motivos que Ivoni usa para sustentar os diversos elogios que carrega na ponta da língua, é que o lugar é calmo. “É bastante sossegado, bonito, a convivência com as pessoas é boa e a união da comunidade é muito importante. Trabalhamos juntos com a igreja, o salão, o futebol, o clube de mães, a união me faz muito bem”, alega.

Mas, para ela, assim como para muitos, a falta de um local para deslocamento dos pedestres é preocupante, pois o movimento de carros e caminhões, diariamente é grande. “O que falta para nós seria uma passarela ao lado da estrada, para caminharmos. As vezes as pessoas não caminham, com medo do trânsito. Uma calçada em ambas as laterais da estrada já resolveria o maior problema, principalmente ao lado do calçamento, e que ajeitassem ele porque está muito feio e prejudica os carros”, reivindica.

Ivoni destaca que existem outras melhorias necessárias, como o aumento de transporte público na região. “Tem muito jovem que quer ficar, principalmente aqueles que trabalham na colônia. Mas vão trabalhar fora, ou trabalham na cidade e moram aqui. Entretanto, a falta de ônibus prejudica muito, e depois da ponte de Santa Bárbara cair, prejudicou ainda mais. Então os jovens que trabalham em Guaporé ficam morando lá. E o ônibus de Bento tem pouquíssimos horários, o que dificulta muito para o pessoal que mora aqui e trabalha lá”, afirma.

Nelci Zanchetta, tal qual Ivanir, desde que nasceu vive na Linha Paulina. “A comunidade é unida, é muito bom morar aqui, já que todas as famílias se conhecem, todos se ajudam. Crescemos uns com os outros, claros que alguns foram embora, outros faleceram, mas outros permaneceram”, declara.

Além das qualidades que a faz gostar e permanecer no local há tantos anos, há também aspectos negativos. “A localização é boa, não tem muitos assaltos, o movimento com a queda da ponte diminuiu, mas antes eram muitos caminhões, diariamente. Estamos conseguindo dormir a noite toda, porque, antes, aqui estava bem movimentado”, afirma.

Assim como outros moradores, Nelci pede melhorias na estrada, como a pavimentação asfáltica para reduzir o barulho e também um trecho onde os pedestres possam caminhar sem receios. “Precisamos de um asfalto neste trecho que tem calçamento de pedras, e uma calçada para caminharmos, além de uma faixa para atravessarmos. É muito perigoso circular aqui, tem que sempre estar de olho para não acontecer nenhum acidente, até mesmo para ir de um vizinho ao outro”, ressalta.

“A tranquilidade faz as pessoas virem para cá”

Marines Scarton, dona de casa, nunca se imaginou vivendo no interior, mas, após conhecer seu marido em Bento Gonçalves, fixou moradia na Linha Paulina. “Nunca pensei morar no interior, é bom, adoro esse lugar. A tranquilidade me faz bem, aqui é seguro, a comunidade é muito unida. Acabo não participando tanto das atividades comunitárias, mas o restante dos moradores é bem engajado”, destaca.

Marines confirma que a juventude não está permanecendo no lugar, mas que novas pessoas estão querendo morar na linha. “Têm poucos jovens, e a maioria que está aqui, atualmente, são pessoas mais antigas. Os que continuam aqui é gente que trabalha com parreiras. Acredito que, no futuro, aqui vire um bairro. Ao lado da minha casa já estão começando a fazer condomínios. E a tranquilidade faz as pessoas quererem vir para cá, até porque é muito sossegado”, diz a dona de casa.

Arcolino Rossatto, produtor aposentado, tem um grande carinho pela comunidade e pela localização, e mesmo com a idade avançada, 81 anos, não pensa em mudar de endereço. “Moro a vida inteira aqui, nasci para cá e meus pais já eram daqui. Até pensamos em mudar para Bento, e nossos filhos queriam que fôssemos também já que eles trabalham lá, mas morar na cidade não é tão fácil. Nossa filha se aposentou há pouco e é ela quem cuida da gente”, pontua.

Além disso, existem outros aspectos que fazem o aposentado optar por ficar na localidade e não mudar para a área urbana de Bento Gonçalves. “É bom morar aqui, a vizinhança é boa. Na cidade, a gente sai do portão e está na rua. Na colônia temos horta, pátio, quintal. Lá, fico no apartamento do meu filho, não consigo me acostumar com Bento”, reafirma.

Entretanto, há novas preocupações surgindo, como falta de segurança e aumento no número de crimes. “Houve assaltos, aqui, faz pouco tempo. Roubaram equipamentos, assaltaram o posto. Sentimos um pouco de insegurança, até queríamos colocar guardas, mas acabou não tendo um espaço físico para eles ficarem e se desistiu da ideia”. E completa: “Arrombaram uma casa perto, esses dias, talvez o poder público tivesse que ter mais cuidado com isso”, argumenta.

Assim como os outros moradores, ele conta que o barulho nas estradas incomoda bastante, situação que mudou, um pouco, para melhor, depois da queda da ponte, na enchente do começo de setembro. “O barulho diminuiu, mas a falta dela prejudicou muito a comunidade daqui, o pessoal do posto, do mercado, que sentiram muito a diminuição das vendas”, destaca.

A maioria dos vizinhos, como ele, cultivam uvas na localidade, e quase não há outro tipo de produção. “Sempre trabalhamos com parreiras, os vizinhos também, justamente por conta dos terrenos acidentados. Comecei a plantar uvas após voltar de Porto Alegre para ficarmos perto dos meus pais, e nunca tive arrependimento”, afirma.

Inez Maria Salton, professora aposentada, nasceu na localidade. Seu pai, morador do São Roque, passou a viver na Linha Paulina quando foi trabalhar na fábrica de laticínios. “Gosto muito do lugar, mas falta o asfalto para diminuir o barulho, que é demais. Fora isso não troco por nada, acho melhor morar aqui, apesar do movimento. Antigamente era bem mais tranquilo. Estranhamos, mas temos que aceitar o progresso”, considera.

Moradores alegam que sem o asfalto, barulho de carros e caminhões diariamente é muito alto

Inez reforça a ideia de que é necessário um local para segurança dos pedestres, já que com o movimento dos veículos é mais arriscado. “É perigoso caminhar aqui, até para ir no vizinho ou na igreja. É necessário um acostamento, ou até mesmo uma pista para a gente caminhar. Tive que criar no meu próprio terreno o meu espaço para me exercitar”, assume. Sobre a migração da juventude, para centros urbanos maiores, ela concorda que “não tem muitos jovens aqui”, e pondera: “Nunca pensei sobre como será o futuro, mas acho que vai ficar como está”.