Cada família pertencente à Linha Eulália, interior de Bento Gonçalves, tem uma história diferente para contar. Em comum, todos falam com amor do local que escolheram para morar. Entretanto, como bons conhecedores da comunidade, pedem melhorias, principalmente na infraestrutura e acessos das estradas.

A história da família Gabardo começou em 1877, quando Liberalo Gabardo deixou a Itália, país de origem, para vir ao Brasil. Após passar pelo Rio de Janeiro e Montenegro, decidiu se instalar na Linha Eulália, onde criou fortes raízes familiares que perduram até os dias de hoje.

Um dos netos, o agricultor Paulo Gabardo, 65 anos, relata que o avô paterno, logo após a chegada, comprou o lote de número dois. Além disso, afirma que todas as pessoas da região que carregam o mesmo sobrenome, são descendentes do mesmo local, “porque só veio um Gabardo da Itália”, conta.

Filho de Romeu e Alcinda Gabardo, (In Memorian) e o único homem entre as quatro irmãs, Gabardo conta que dessa geração, além dele, apenas outras duas irmãs optaram por permanecer no mesmo local dos antepassados. “Faz 140 anos que a gente está aqui”, orgulha-se.

Amante do lugar onde construiu a vida, Gabardo diz que não trocaria a Eulália por nenhum outro local. Tanto é verdade que mesmo tendo residência no município, opta por continuar onde está. “É um lugar bom de viver. Enquanto Deus permitir, vou morar aqui. Tenho casa na cidade, mas não troco”, garante.

Contudo, acredita que algumas mudanças são necessárias no interior, como por exemplo, o asfaltamento da estrada que dá acesso a casa onde mora, a rua Alfredo José Rossato, trecho que utiliza diariamente para sair e chegar em casa. “Está ruim”, assegura.

A solicitação é de longa data e desejada também por outros moradores. Inclusive, de acordo com Gabardo, ele e os demais vizinhos se propuseram a dividir os custos com a prefeitura. “Queremos parceria para colocar asfalto nesse pedaço de estrada. Daria um quilômetro, mas pensa que tem jeito? Não tem. Nos propusemos a pagar uma parte, até de forma antecipada e nem assim resolve a situação”, queixa-se.

Gabardo acredita que o pedido deles é o mínimo que o poder público municipal poderia fazer. “Quando a gente pede, respondem: ‘vamos estudar, vamos estudar, vamos estudar’, mas já estamos cansados. Faz a conta desse pedaço de estrada, quanto custaria para eles? ”, questiona.

A agricultora Rosa Maria de Mari, 69 anos, foi morar na Eulália depois que casou com o também agricultor Pedro de Mari, 73 anos, natural da localidade. Embora tenha nascido na Capital Nacional do Vinho, ela reside há 50 anos no interior e não se arrepende da troca que fez. “Todas as minhas irmãs moram na cidade, só eu fiquei na colônia, mas não estou arrependida. Me sinto bem aqui”, assegura.

Entre os destaques positivos que ela percebe por morar no interior, estão algumas atividades que aprecia fazer. “Gosto do verde, de plantar, de mexer na terra e até de dar uma saída. Aqui já melhorou muito, temos internet, que uma época não tínhamos e telefone também”, destaca.

Entretanto, quando questionada sobre o que ainda pode avançar, Rosa não pensa duas vezes e tem a mesma opinião dos demais. “A estrada precisa ser alargada e asfaltada também. Faz tempo que estamos querendo e acho que vai melhorar se fizerem”, opina.

Rosa conta que, por conta da estrada de chão, sofre com a quantidade de poeira que entra dentro da residência. “Tem bastante. Há um tempo atrás era seco e mesmo fechando janelas e porta, entrava igual. Estou estava sempre limpando a casa, mas uma hora a gente cansa”, relata.

A aposentada Rosa Toniolo Locateli, 80 anos, entende bem o que a outra moradora enfrenta, já que passa pelas mesmas dificuldades com a poeira. “O que pode melhorar é a estrada, porque o resto está ótimo. É só poeira, a casa está sempre virada em pó”, desabafa.

Água canalizada entre os pedidos

A empresária do ramo gastronômico, Aldiane Bianchi Meggiolaro, 38 anos, mora na Eulália desde que nasceu. Casada com Eduardo Meggiolaro, os dois são pais do pequeno Vitor, de cinco anos e, agora, aguardam a chegada da Maitê, que em breve dará boas-vindas ao mundo.

Assim como ela, que se criou no interior, o casal de filhos vai seguir os mesmos passos e crescer na Eulália. “Aqui é muito bom. Abrir a janela e olhar para uma paisagem dessas, não escutar aquela loucura de carros, mas o som dos passarinhos cantando é muito legal, é qualidade de vida”, elogia.

Apesar de abrir um largo sorriso quando fala do local em que vive, Aldiane diz que a infraestrutura não está como gostaria, embora admita já ter avançado muito no decorrer dos últimos anos. “Ainda precisamos de mais para ficar bom”, aponta.

Dentre as reivindicações da empresaria, está algo que ela considera prioritário: a água canalizada, já que nem todos os moradores são contemplados. “Só tem até certo ponto da comunidade. Nós, que somos praticamente do fim da linha, ainda não temos”, lamenta.

Como consequência, Aldiane afirma que muitas vezes ela e os vizinhos dos arredores, sofrem com a falta de água, principalmente em alguns períodos do ano. “Em época de estiagem, seca do verão, falta água e aí temos que ficar ligando e solicitando, é uma função”, assegura.

Para minimizar a dificuldade, a família adquiriu mais uma caixa d’água, mas Aldiane afirma que gostaria de uma solução por parte da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). “Não é um problema só nosso, mas de todos os vizinhos. Seria interessante se tivéssemos água tratada, canalizada”, destaca.

Turismo está ganhando força aos poucos

É na Eulália que se encontra um atrativo diferenciado dos quais os turistas estão acostumados a encontrar na região: o Parque de Aventuras Gasper. Conhecido nacionalmente por ter o maior salto de Bungee Jumpe do Brasil, o local atrai ao ano, cerca de 25 mil pessoas que procuram o empreendimento para viver experiências cheias de adrenalina e emoção.

O proprietário, Fabiano Sperotto, 41 anos, já trabalhava há mais de 15 anos no ramo de aventuras, porém, levava o público para locais abertos e, geralmente em outras cidades dos arredores. Foi quando sentiu necessidade de ter no município algo para oferecer. “Para buscar os turistas que estavam visitando as vinícolas, a Maria Fumaça e que precisavam de algo a mais para completar a estadia deles”, afirma.

A escolha pela Linha Eulália não foi por acaso, pelo contrário, foi estratégica, de acordo com Sperotto. “Primeiro pelo fator do paredão, já que sem ele, não temos aventura. Também precisávamos de um local que fosse condizente o deslocamento da cidade até o parque. A escolha foi por isso: a Eulália combinava com essas duas coisas, a paisagem e a proximidade com o centro da cidade que é fundamental”, conta.

O empreendimento, inaugurado oficialmente em 2012, deu tão certo que recebe pessoas de todos os cantos do país. “Bento Gonçalves é um destino indutor de turismo no Brasil. Recebemos na nossa cidade, visitantes de todos os locais. É um público totalmente variado, nacionalmente e também internacionalmente”, orgulha-se.

Sperotto revela que inicialmente esperava receber jovens, aventureiros e mochileiros. Entretanto, essa não é a realidade. “Não existe mais um público fixo para nós, tanto que tivemos que adaptar atividades para crianças com um parquinho infantil bem grande, porque recebemos muitas famílias. Inclusive hoje tem duas aqui”, conta.

Considerado um apaixonado por Bento Gonçalves, como ele mesmo se define, Sperotto afirma que carrega a bandeira da cidade com orgulho. “Considero ela completa no turismo. Têm paisagens bonitas, grandes hotéis, magníficos restaurantes, atrativos sensacionais e cada vez mais o pessoal está tendo a consciência de que tem que diversificar”, afirma.

Sperotto acrescenta ainda que não enxerga o empreendimento como um diferencial, mas como um complemento. “O que acontece é que temos uma experiência um pouco diferente pelo nível de adrenalina, que tem um destaque para isso, mas não que seja diferenciado, o parque completa o turismo de Bento Gonçalves”, analisa.

Entretanto, para melhor ainda mais o setor turístico da região, Sperotto acredita que é preciso ter mais empreendedores encorajados a apostar em atividades diferentes. “Temos espaços, um paredão aqui ao lado com uma vista magnifica, que está parado. Os investidores têm que acreditar, como nós acreditamos lá no passado, que o turista gosta de coisas diferentes”, conclui.

Religião é muito valorizada pela comunidade

O Padre Daniel D’Agnoluzzo Zatti destaca que a religião católica é vivida de forma muito intensa pelas famílias. “Na região da Linha Eulália se percebe um espírito de piedade e devoção bastante vivo nas famílias e isso integra inclusive as novas gerações”, ressalta.

A comunidade conta com duas igrejas, uma está localizada na Linha Eulália Baixa, a chamada Nossa Senhora de Monte Bérico e a outra fica na Eulália Alta, que leva o nome de Santa Eulália. De acordo com Zatti, todo os moradores têm “um belo costume de frequentar a igreja, as missas normalmente são cheias, com a maioria das famílias participando”, salienta.

Zatt também destaca que os moradores são de boa índole e que por lá vigora uma cultura de trabalho bastante forte. “O trabalho, a família e a fé, dessa forma coloco em linhas gerais o que representa a comunidade”, elogia.