Cenário de três mortes somente em 2019, e 17 nos últimos nove anos, a ERS-431, em Faria Lemos, é motivo de preocupação e apreensão para quem mora no local. Muitos caminhoneiros que não conhecem a estrada chegam ao quilômetro sete da rodovia e perdem o controle do veículo, pois o trecho é sinuoso e tem início em um declive acentuado. Moradores, indignados com a situação, colocaram faixas e placas ao longo da via com as frases “2 km de trecho crítico”, “Perigo. Serra perigosa. Verifique os freios. Desça engrenado” e “Atenção Sr. Motorista, trecho crítico com alto índice de acidentes. Serra perigosíssima! Queremos sinalização!”, incluindo foto das fatalidades.

Os autores da ação ainda não foram identificados, porém quem reside ao longo da rodovia aprova a iniciativa e cobra uma resolução das autoridades. O agricultor Flasdemir Cristófoli, 67 anos, sempre residiu no quilômetro nove da rodovia, onde o declive é mais intenso, e já perdeu a conta de quantos acidentes presenciou no local, mas lembra que foram muitas mortes. No último acidente, dia 5, um caminhão carregado de polietileno saiu da estrada e caiu em terras de sua propriedade. O motorista do veículo não sobreviveu. “O problema é a velocidade, os motoristas não reduzem a marcha, quando chegam aqui, os freios não seguram mais. Faz uns 15 anos já que falei com o Departamento Autônomo de Estrada e Rodagem (DAER), porém nada foi feito. É preciso colocar uma barreira de contenção no local para evitar esse tipo de fatalidade”, diz Cristófoli. Com o acidente mais recente, o agricultor perdeu parte de seu parreiral, pois o caminhão caiu no local da plantação.

Ele também afirma que uma sinalização alternativa, com números de mortes e imagens de acidentes, como a que foi colocada pode evitar futuros desastres. Sobre a circulação de caminhões na ERS-431, ele questiona por onde sairia a produção agrícola. Opinião que Artêmio Cobalchini, 67 anos, conhecido como Neco, concorda. Proprietário de uma tenda no quilômetro sete da rodovia, ele relata que, muitas vezes, grita para os caminhoneiros “barranquearem”, jogar o caminhão na valeta, contra o barranco, do outro lado da rodovia para evitar o acidente. “Geralmente são pessoas que não conhecem a estrada. Quando eles passam aqui e vejo que já está saindo fumaça dos pneus, sei que os freios não vão segurar ali embaixo. Eu grito, faço sinal, mas muitos não entendem. Depois só ouço o estouro”, conta Cobalchini. A velocidade máxima da rodovia é 60 km/h e 40 km/h onde é sinuosa, em alguns trechos, a sinalização horizontal indica 30 km/h, mas boa parte das placas estão escondidas na vegetação e não antecipam os motoristas sobre o perigo da rodovia. Poucas alertam para o uso de freio a motor e uma delas está completamente apagada.

O acostamento também é praticamente inexistente em toda estrada. De um lado há barranco e do outro penhasco. Cobalchini lembra que, na última quarta-feira, 5 de junho, quando as autoridades estavam no local do acidente, ocorrido no quilômetro nove, retirando o veículo que caiu, um caminhão estava descendo a rodovia e se aproximava do local da fatalidade. Um morador começou a sinalizar na estrada para que ele parasse, evitando uma tragédia ainda maior. Mesmo assim, os freios só funcionaram completamente alguns metros à frente.

A preocupação com a segurança é constante para quem vê com frequência vítimas perdendo a vida em acidentes que poderiam ser evitados. O consenso entre os moradores é que uma melhora na sinalização ajudaria muito, avisando sobre o perigo do declive para motoristas que não conhecem o local. O comerciante Maximino Turra, 51 anos, tem uma lancheria às margens da rodovia desde o ano 2000. Foi em frente ao seu estabelecimento que uma faixa de protesto foi colocada. “É um perigo quando a gente vem subindo, pois não sabe o que vai encontrar. Tem quebra-molas, mas só de um lado, então os carros desviam”, acrescenta.

Município busca alternativas com o Estado

O prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin, ressalta que o município demandou ao Estado, de forma reiterada, pedidos para colocar sinalizadores, seja fiscalização eletrônica, ou mesmo tachões, e placas indicativas, mas não onde o declive é maior, e, sim, onde começa a serra. “É uma rodovia do estado, mas está nos machucando enquanto vemos vidas sendo perdidas. Ali é uma serra muito comprida, quando os caminhões passam na rodovia, perdem o ar nos freios ou os freios, de tanto acionar, perdem a força. Continuaremos cobrando do Estado. Parabenizo a comunidade que colocou placas no local”, destacou Pasin.

Na sessão da Câmara de Vereadores de segunda-feira, 10, o vereador Jocelito Tonietto se manifestou criticando o DAER e relatando que protocolou um requerimento para a instalação da frente parlamentar em defesa da ERS 431, para redução de acidentes e mortes, assinado também por outros parlamentares. Para o vereador, os caminhoneiros vêm carregados, ocupando muito os freios. Quando chegam na metade da Serra, os freios estão muito quentes, não conseguem mais parar e acontecem acidentes. Ele ainda afirma que falta sinalização na via.

Superintendente do DAER não vê soluções

Sandro Santos, superintendente regional do DAER, ressalta que a construção e sinalização da rodovia foi feita conforme o projeto inicial, com sinalizadores, placas e tachões. Ele não enxerga outra solução para a redução de acidentes no local. “Posso colocar mais placas, mas aí vai poluir. A maioria das vítimas de acidentes não são do local, não conhecem a rodovia e não obedecem a velocidade. Como um caminhão fica sem freios? Ele não seguiu a velocidade indicada ou foi por falta de manutenção”, diz.

Ele pondera que não é possível proibir a circulação de caminhões, pois estaria penalizando os agricultores, que necessitam da via para escoar a produção, mas promete que será feita uma vistoria na rodovia juntamente com a Polícia Rodoviária Estadual. O relatório dessa visita será encaminhado ao governo do Estado. O secretário de Logística e Transportes do Rio Grande do Sul, Juvir Costella, argumenta que a rodovia está elencada no plano de conservação do governador Eduardo Leite. “Quando temos uma estrada que não está em condições de trafegabilidade, muitas vezes, temos algo que, ao nosso ver, é principal, salvar vidas. Temos tido acidentes na 431 e precisamos achar uma solução. Junto com os tapa-buracos, temos que ter sinalização nas rodovia, é essencial, principalmente no período chuvoso e à noite”, pondera.