Uma característica dos pequenos municípios: perder os jovens que deixam a cidade de origem e partem para os grandes centros em busca de mais opções e oportunidades profissionais. Essa também é uma realidade de Monte Belo do Sul. Entretanto, o município, que tem 2.564 habitantes, aos poucos está percebendo uma inversão do que antes considerava uma dificuldade.

O geógrafo Jorge Antônio Viel, 31 anos, é um exemplo de quem precisou sair da cidade natal. Ele nasceu e cresceu em Monte Belo, mas para conseguir oportunidades profissionais que não encontrou no município de origem, foi embora. “Saí daqui com 24 anos, fui estudar em Porto Alegre. Agora, trabalho em uma cidade perto de Passo Fundo”, conta.

Jorge Antônio Viel, 31 anos

Embora tenha saído da casa dos pais, afirma sem pensar duas vezes, que se tivesse oportunidade, não trocaria de cidade. “É difícil para geógrafo, mas se tivesse mercado, ficaria. Quem não trabalha com agricultura, acaba tendo que sair daqui. Agora só venho aos finais de semana para ficar com os meus pais”, diz.

O prefeito, Adenir José Dallé, admite que o município enfrentava esse problema de perder jovens que deixavam o município para conseguir colocação no mercado de trabalho em outros locais. Entretanto, afirma que projetos da prefeitura que envolvem o fortalecimento do turismo estão minimizando essa situação. “Estamos puxando de volta alguns jovens que saíram, eles estão voltando e colocando pequenos negócios nas propriedades: uma agroindústria, uma vinícola. Estamos conseguindo controlar mais isso”, pontua.

Outra ação para mantê-los na cidade envolve o transporte gratuito para estudantes. “Às vezes eles vão fazer faculdade fora e acabam arrumando emprego em outra cidade e ficando por lá, então o transporte gratuito é justamente para que eles vão e voltem. Fazemos de tudo para que as pessoas estudem e voltem para o município”, destaca Dallé.

Um local para acolher os idosos

Dos 2.564 moradores da cidade, 838 são considerados idosos, número que representa 32,29% dos habitantes. Pensando em dar qualidade de vida para esse grupo, o prefeito Dallé destaca que uma das obras do município é a construção de um centro para os idosos. As obras já estão na fase final. “Agora não é permitido aglomerações, mas assim que tudo isso passar, pretendemos colocar à disposição da comunidade para usufruir desse benefício”, afirma.

Centro do idoso está com as obras na fase final

A ideia é que o espaço tenha diversas atividades para acolher a terceira idade durante o dia inteiro. “Vai ser um local onde as pessoas vão poder deixar os familiares de manhã e buscar de noite, como se fosse uma creche. Vai ter palestras, fisioterapia e uma série de oficinas”, acrescenta.

Saúde: prioridade no município

Com seis casos confirmados de coronavírus e um óbito, o prefeito Dallé, admite que a maior dificuldade que o município está enfrentando é a pandemia do covid-19. Embora afirme que foi necessário fazer um novo planejamento de contas e não descarte a possibilidade de receber ajuda orçamentaria do Governo Federal, Dallé garante que as contas da prefeitura estão equilibradas e que as obras já iniciadas serão todas concluídas.

Dallé destaca que nesse momento, a prefeitura está dedicando atenção especial à saúde. “Estamos dando um suporte maior para tudo que precisa nessa área. Nunca passamos por uma situação dessas. Fica difícil pensar em um planejamento adiante, porque não sabemos o que vai acontecer. É um momento de muita responsabilidade”, frisa.

UBS com horário diferenciado

Quando o assunto é saúde, Dallé destaca que uma das ações envolve a Unidade Básica de Saúde (UBS). Desde o ano passado, foi ampliado o horário de atendimento à população: das 7h30 às 19h. “Aqui tem pessoas que trabalham fora e o expediente nas empresas termina em torno das 17h, então se precisassem de algo do posto, já estaria fechado. Agora, os moradores têm condições de consultar no final do dia”, afirma.

A farmacêutica e coordenadora da USB, Deise Ticota, afirma que para dar conta da demanda da população, a unidade tem um quadro completo de funcionários: médicos, dentistas, enfermeiras, técnicas de enfermagem, fisioterapeuta, fonoaudióloga, nutricionista, psicóloga, além de agentes comunitários.

De acordo com Deise, a média de atendimentos médicos no município chega a 35 por dia. Já os odontológicos, cerca de 12 diariamente. Entretanto, em função da pandemia, estão priorizando os atendimentos de urgência e emergência, além de casos pontuais, como atendimentos de gestantes.

Coordenadora da USB, Deise Ticota

Trabalhando há cinco anos na UBS, Deise afirma que pelo tamanho da cidade, já conhece todos os pacientes. “Como a cidade é pequena, conseguimos criar um vínculo com os moradores. Sabemos da história de cada um. É um povo muito acolhedor. Nos tratam como filhos”, assegura.

Educação: futuro ainda é incerto

Assim como em todo país, as escolas de Monte Belo do Sul estão com as aulas suspensas temporariamente. Entretanto, Dallé aponta que a maior preocupação é a com a escola de educação infantil. “Tem pessoas que trabalham e tem a dificuldade que as mães enfrentam de não ter com quem deixar as crianças, mas estamos aguardando para retomar”, afirma.

Apesar das incertezas do momento, o prefeito garante que a educação da cidade está indo bem. Monte Belo conta com duas escolas municipais e uma estadual. “Não temos nenhuma criança fora de sala de aula ou da creche. Temos uma boa equipe de professores, sempre procurando dar qualificação para eles. Além disso, tem transporte escolar para toda população, de graça, desde a pré-escola até a universidade”, destaca.

A diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Caminhos do Aprender, Lisiana Reginatto Dall Castel, afirma que 105 crianças estudam no local, desde o berçário até a pré-escola II. Ao todo, são 11 professores que atendem oito turmas. “É um trabalho muito gratificante. A gente recebe de manhã cedo aquelas crianças que chegam já com alegria, beijos, abraços”, afirma.

Lisiana Reginatto Dall Castel

Enquanto as aulas presenciais seguem suspensas, as atividades continuam de outras maneiras. “Mantemos contato com as famílias, criamos grupos de WhatsApp para cada turma. Os pais também vêm para a escola para receber materiais e orientações. Os professores mantêm o vínculo por meio de vídeos, mensagens e as próprias crianças dão retorno dizendo que estão com saudades, mandando desenhos”, conta.