A atriz de Bento Gonçalves desafia tradições e conquista reconhecimento em uma das maiores premiações de artes cênicas do estado com sua personagem palhaça, Enólifa Polenta

A artista Mônica Blume, 55 anos, foi indicada ao renomado Prêmio Quero-Quero de Artes Cênicas, que este ano avaliou mais de 110 espetáculos e 27 pesquisas acadêmicas. Representando a figura da palhaça Enólifa Polenta, Mônica se destacou em uma categoria historicamente dominada por homens, tornando sua indicação ainda mais significativa.

A cerimônia de premiação acontecerá no dia 18 de dezembro, às 20h, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. O júri do evento, formado por nomes de destaque nas artes cênicas, como Michele Rolim, Fernanda Petit, e Márcio Noronha, avaliou intensamente as produções inscritas ao longo do mês de novembro.

Em entrevista, Mônica expressou sua felicidade e orgulho pela indicação. “Sinto-me honrada, especialmente por ser uma artista do interior. Esse reconhecimento mostra que não estamos apenas na capital, mas também no interior, produzindo arte de qualidade e recebendo destaque”, diz.

Outro aspecto que emociona a artista é o fato de representar a comicidade feminina. “A palhaçaria tem uma tradição muito masculina. Aos poucos, estamos quebrando essas barreiras. É uma honra representar minhas colegas palhaças, mostrando que também ocupamos esse espaço com excelência”, destaca.
Mônica é atriz desde 1986 e se dedica à palhaçaria desde 2019. Foi nesse campo que encontrou sua maior realização artística. “Quando comecei a trabalhar com minha figura de palhaça, percebi que era o que mais me dava prazer em cena. Desde então, tenho buscado formação e me aprofundado no fazer artístico”, conta.

Mônica foi indicada pelo conjunto de seu trabalho em três espetáculos apresentados entre 2020 e 2024, incluindo produções de Bento Gonçalves, Garibaldi e Porto Alegre. “A indicação já é uma vitória para mim. Mostra que nosso trabalho é reconhecido por colegas e jurados e nos dá forças para continuar criando e movimentando a cadeia produtiva da arte”, afirma.

Para a artista, o prêmio vai além do reconhecimento pessoal. “Ele fortalece a arte e a cultura, garantindo visibilidade e subsídios para projetos futuros. No Brasil, não é fácil viver de arte, mas conquistas como essa ajudam a manter a roda girando, beneficiando não apenas artistas, mas todos que compõem a cadeia cultural”, diz.

Para Mônica, Enólifa Polenta não é apenas uma personagem, mas uma extensão de si mesma. “Na palhaçaria, a figura é uma parte nossa, mas em outro estado de presença. Ela não é uma máscara que esconde, mas a menor máscara do mundo, que revela quem somos”, conta.

O trabalho como palhaça é repleto de desafios, desde se manter no estado cômico até trazer à cena vivências pessoais para provocar emoções diversas no público. A artista ressalta que a personagem vai além do riso. “A palhaçaria não se limita ao riso. Ela provoca uma gama de emoções e exige uma entrega total do artista”, diz.

Projetos e impacto cultural

Monica tem uma longa trajetória nas artes, com projetos aprovados em âmbito municipal e estadual que destacam sua relevância na cena cultural. Entre eles, a circulação do espetáculo Enólifa Sommelier, com apresentações em Bento Gonçalves, Caxias do Sul e Garibaldi, e o projeto As Finas Palhaças, que leva espetáculos e vivências de palhaçaria feminina para cidades como Pelotas, Ivoti e Lajeado.
A artista reforça que esses projetos não apenas dão continuidade ao seu trabalho, mas também beneficiam outros profissionais da área. “Ao aprovar projetos, o dinheiro circula, pagando artistas e outros trabalhadores da cultura, fortalecendo essa cadeia produtiva”, comenta.

Arte como resistência

Mônica acredita que, apesar dos avanços em políticas públicas e leis de incentivo, ainda há desafios para muitos artistas. “Falta conhecimento sobre as leis e caminhos para buscar apoio. Mas vemos melhorias, especialmente com editais que surgiram em resposta às enchentes no Rio Grande do Sul. Isso mostra que a arte pode ser uma ferramenta de reconstrução e esperança”, reflete.

Com a indicação ao Prêmio Quero-Quero, Mônica Blume reafirma sua paixão pelas artes cênicas e pela figura da palhaça, carregando consigo o reconhecimento de um trabalho que não só provoca risos, mas também movimenta e enriquece o cenário cultural gaúcho. “Já estou com muitos planos para o próximo ano, e sei que novos projetos surgirão. Isso é o que me motiva a continuar”, conclui.