Embora sobrem vagas no mercado de trabalho para Pessoas com Deficiência (PCDs) devido às cotas estabelecidas por lei, ainda existem obstáculos para os espaços serem preenchidos. A dificuldade de adaptação das empresas em relação a esses profissionais e as vagas disponibilizadas, que muitas vezes subestimam a qualificação dos candidatos, tornam a relação dos PCDs com as empresas tortuosa.
Na Agência FGTAS / Sine normalmente sobram vagas destinadas a deficientes, enquanto a Coordenadoria de Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência (Caispede) acumula pelo menos 50 currículos de profissionais que estão buscando emprego, com as mais variadas qualificações. De acordo com dados disponibilizados pela Agência, neste mês há cerca de 56 vagas abertas, sendo 9 destinadas a PCDs. Dessas, cinco são para a produção e quatro para tarefas diversificadas.
Funcionários da agência do Sine observam que nos períodos em que o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) intensifica a fiscalização, as empresas passam a oferecer mais vagas. Sendo assim, em alguns meses não há oportunidades disponíveis, enquanto em outros elas são demasiadas. Além disso, funcionários relatam também que, de forma geral, a busca dos PCDs por emprego é baixa.
A coordenadora da Caispede, Marise Gaspari, conta que busca formar parceria com as empresas, de forma que as instrua sobre a necessidade de contratação de profissionais PCDs e quais os benefícios que as instituições podem ter com isso. “Nós entendemos que devido a crise todos estão passando por dificuldades. No geral, tem menos vagas de empregos disponíveis”, comenta.
No entanto, Marise discorda da postura das instituições que destinam somente vagas de produção para profissionais com deficiência, uma vez que os PCDs estão buscando cada vez mais qualificação. “Sempre trabalhamos no sentido de fazer com que as pessoas se sintam úteis trabalhando. Incentivando que saiam do benefício de prestação continuada”, explica.
Como empresas que podem ser consideradas referência em inclusão de PCDs, Marise cita o Hospital Tacchini, em Bento Gonçalves, e a Marcopolo, de Caxias do Sul. Para ela, é necessário que haja conscientização sobre a necessidade de inclusão nos ambientes laborais. “Não adianta contratar profissionais só para preencher a cota”, observa. Em cinco anos, o Caispede conseguiu emprego para cerca de 120 profissionais com algum tipo de deficiência.

Sem emprego

Nívea Borges, de 42 anos, está desde maio de 2016 buscando emprego. Ela conta que chegou a concorrer com outras cinco pessoas para uma vaga destinada a PCDs. “Eles ficam de nos chamar, mas nunca chamam. O problema é que apesar de eu ter uma limitação, tenho que pagar as contas como todo mundo”, lamenta. Desde de 2006, ela tem os movimentos reduzidos devido a colocação de uma prótese femural, em função de uma má formação congênita, que resultou em artrose. Por isso, ela tem os movimentos reduzidos, não pode fazer esforço e precisa permanecer sentada a maior parte do tempo.
Ela conta que os problemas se repetiram em dois dos três empregos por quais passou nos últimos cinco anos. “No inicio respeitam minha limitação, depois não se importam mais. Os colegas de trabalho pensavam que eu estava fazendo ‘corpo mole'”, relata.
Como as empresas ficam de dar resposta e não retornam, Nívea diz que perdeu as esperanças de conseguir emprego.Agora ela pensa em entrar com uma ação na justiça para reverter a situação. “Na Previdência alegam que não podem me oferecer o benefício porque existe a lei de cotas, mas mesmo com a lei não tem emprego”, afirma.

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