Diante dos gravíssimos e crônicos problemas enfrentados pela população brasileira em consequência da falta de médicos na rede pública de saúde, a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) iniciou há cerca de um mês uma campanha nacional intitulada Cadê o Médico?, com o objetivo de sensibilizar o governo federal para que sejam tomadas medidas imediatas para permitir a contratação de médicos e resolver o problema. A campanha cairia bem em Bento Gonçalves, onde o secretário de Saúde Roberto Miele confirmou que há carência de 12 médicos na cidade.

Mesmo que a contratação de mais médicos não seja a solução para todos os problemas que o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta, sem ela a situação chega a níveis insustentáveis. Os desafios da saúde pública são muitos. São necessários mais recursos, maior qualificação da gestão, mais investimentos em infraestrutura e maior valorização dos profissionais. Mas contratar médicos é uma solução que, no curto prazo, pode atender uma necessidade imediata que impacta diretamente a vida de milhares de cidadãos.

Além da contratação de médicos formados no exterior e da ampliação da formação no país, há outras propostas tramitando em âmbito nacional para resolver o problema que afeta a maioria das cidades de médio e pequeno porte no interior do país. A criação do serviço civil obrigatório para todas as profissões em saúde para os alunos egressos das instituições públicas e a definição da residência em saúde da família como pré-requisito para as demais residências de especialidades, entre outras também importantíssimas, é uma das que parecem mais eficazes.

A crise que a saúde pública atravessa está relacionada à burocracia e também a uma espécie de exclusão do médico do sistema. O problema é que o médico não tem interesse mais em participar do sistema, no qual ganha miseravelmente e não tem condições de trabalho. A precariedade se repete nas unidades básicas de saúde e nos hospitais públicos e filantrópicos, aqui e em diversas cidades brasileiras. Em Bento, com o agravante da crise financeira que abalou as finanças municipais e ainda apresenta nefastas consequências. Além disso, os municípios ficam sobrecarregados, enquanto estados e União ficam com poucas obrigações e não repassam para os municípios o que deveria ser repassado.

Nos últimos anos, Bento tem aplicado até mais que os 15% que a Constituição preconiza, mas ainda assim não consegue atender toda a demanda. Por isso, não seria necessário um novo imposto para financiar a saúde se o Estado aplicasse os 12% do orçamento e a União 10% da receita, o que prevê a Emenda 29, que ainda sofre para ser regulamentada pelo Congresso Nacional. A aplicação do que está previsto na lei deveria resolver o problema da saúde pública.

Neste exato instante, centenas de bento-gonçalvenses devem estar se perguntando: cadê o médico? Até quando?